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Jacques-Louis David

(Pintor frances)
1748-1825


David nasceu no ano em que novas escavações das ruínas de Pompeia e de Herculaneum começavam a encorajar um regresso ao estilo da Antiguidade greco-romana. O pai era um abastado comerciante têxtil, que morreu num duelo em 1757, fazendo com que o jovem David fosse educado por dois tios maternos. Depois de ter realizado os estudos literários e um curso de desenho foi colocado no estúdio do pintor histórico Joseph-Marie Vien, o mais célebre pintor de história e professor do seu tempo, e que pintava de acordo com o novo gosto pelas coisas greco-romanas, sem abandonar completamente o erotismo e o sentimentalismo em moda no princípio do século XVIII.

Aos 18 anos David entrou para a Academia Real de Pintura e Escultura, de França, mas os primeiros tempos de estudo não correram bem, o que o levou a tentar o suicídio à maneira estóica, pela fome. Finalmente, em 1774 ganhou o Prémio de Roma, uma bolsa que não só lhe possibilitava uma estadia em Itália, mas também lhe assegurava futuras encomendas de trabalhos. O quadro premiado «Antíoco e Estratonice» mostra que ainda estava influenciado pela pintura rococo de François Boucher. Foi para Itália no ano seguinte, acompanhado por Vien, tendo sido influenciado pelas principais escolas italianas, a de Caravaggio, a de Nicolas Poussin e a seiscentista de Bolonha. Mas o mais importante foi a sua visita às ruínas de Herculaneum, às colecções de antiguidades de Pompeia existentes em Nápoles, e aos templos dóricos de Paestum. Frente às colunas e aos vasos antigos sentiu-se «como se tivesse sido operado a uma catarata nos olhos».

De regresso a Paris, em 1780, realizou «Belisário pedindo esmola» em que se notam influências de Poussin numa cena da antiguidade. Em 1782 casou com Marguerite Pécoul, filha do empreiteiro e superintendente das obras no Palácio do Louvre. A partir deste momento a situação de David melhorou rapidamente. Em 1784 foi eleito para a Academia Real com o seu «Andrómaca chorando Heitor». Regressou no mesmo ano a Roma, desta vez acompanhado pela mulher e assistentes, para pintar um quadro, que parece ter sido inspirado na peça de Corneille, Horace. O resultado, que acabou por não ser influenciado por nenhuma das peripécias da peça, foi o «Juramento dos Horácios», que é uma afirmação de simplicidade e austeridade estóica anti-rococo. Apresentado pela primeira vez no estúdio de David em Roma, participou no Salão de Paris de 1785, tendo aí provocado sensação, sendo considerado um manifesto em defesa de uma renovação artística. No fundo, acabou por se tornar um manifesto político contra a corrupção da aristocracia afeminada de final do século, e pelo regresso aos rudes princípios morais atribuídos à Roma republicana.

David tornou-se um herói. A sua fama aumentou ainda mais quando em 1787 pintou «A Morte de Sócrates» e no ano seguinte os «Amores de Paris e Helena», e em 1789 «Os Lictores devolvendo a Brutus os corpos dos seus filhos». Quando o «Brutus» foi apresentado a Revolução Francesa já estava em desenvolvimento, e este quadro do cônsul patriota que condenou à morte os seus próprios filhos por traição, teve nesse momento uma importância política inesperada. Para além de que a popularidade de David, e o desenvolvimento do neo-classicismo, fez com que estes quadros fossem fonte de inspiração da moda, tanto no vestuário como na decoração de interiores, na França revolucionária, já que eram considerados reconstituições fidedignas da vida de todos os dias da Roma antiga. Os homens começaram a usar o cabelo curto, «à Brutus», e as mulheres começaram a vestir-se como as filhas, sendo que mais tarde, as mais modernas e ousadas passaram a usar vestidos como as Sabinas, que mostravam os seios.

No começo da Revolução David ligou-se ao grupo extremista dos Jacobinos de Robespierre. Foi eleito para a Convenção Nacional em 1792, a tempo de votar a execução de Luís XVI. Em 1793 durante o governo do Terror jacobino e enquanto membro da Comissão parlamentar de Arte, David tornou-se o ditador artístico francês, o «Robespierre do pincel». A Academia foi substituída por uma Comuna das Artes e mais tarde por uma Sociedade Popular e Republicana das Artes. Nesta época, David estava ocupado fundamentalmente com propaganda revolucionária - medalhas comemorativas, levantamento de obeliscos, festivais, funerais para os mártires do novo regime. A maior parte dos seus projectos de pintura não são terminados, como o «Joseph Bara», tributo a um tambor morto por monárquicos, ou o «Juramento da Sala do Jogo da Pela» comemorando o momento em que o Terceiro Estado jurou não se separar sem ter aprovado uma Constituição escrita. A «Morte de Lepeletier de Saint-Fargeau» pintado em honra de um deputado assassinado, considerado por David como um dos seus melhores quadros, foi destruído, o que implica que esta fase da sua obra seja representada pelo «Marat Morto», pintado em 1793 pouco depois da morte do dirigente revolucionário. Esta «pietá da Revolução», como foi chamada, é considerado como a grande obra de David, mostrando como o neoclassicismo se podia tornar Realismo.

Em 1794, com a destituição e morte de Robespierre, David foi preso. Duas vezes, mas por pouco tempo - 6 meses em dois anos -, e em lugares bastante agradáveis, como seja o Palácio de Luxemburgo, tendo autorização para pintar. A mulher, que se tinha divorciado dele dois anos antes por ele ter votado a morte do rei, voltou para lhe dar apoio, o que levou a novo casamento, desta vez permanente. Pintou dois quadros nesse tempo, um deles o seu auto-retrato. Mesmo na prisão manteve três estúdios no Louvre, e quando foi libertado, devido à amnistia aprovada em 1795, abandonou a actividade política e dedicou-se com a mesma intensidade ao ensino. Nos trinta anos que medeiam entre 1785 e 1815, David foi responsável pela formação e doutrinação de uma geração de pintores que incluíram Gros, Gérard e Ingres, a quem afirmava que o contorno era a base da arte, o que levou a que o desenho teve um influência muito grande na pintura do resto do século XIX.

É nesta época que pinta o seu maior famoso retrato, o de «Madame Récamier», a mulher mais bonita do seu tempo, por quem Chateaubriand, o famoso escritor e político francês da Restauração, se apaixonou.

Mas David não era homem para se dedicar exclusivamente ao ensino e ao retrato de pessoas famosas, e em 1799 apresentou «As Sabinas». O quadro não representa o «Rapto das Sabinas», mas sim a «Intervenção das Sabinas» num conflito entre Romanos, seus maridos e filhos, e Sabinos, seus parentes. O quadro representa Hersilia, a sabina, tentando reconciliar Romulus, o fundador de Roma que dirigiu o rapto, de Tacius, o chefe dos Sabino, que as vinha tentar libertar. Segundo o autor a intenção era afastar-se da dura maneira romana para a mais graciosa maneira grega, e fê-lo com o aplauso do público que gostou da elegância das figuras. Mas a cena de reconciliação também foi vista, com aprovação geral, como uma proposta de pacificação da sociedade francesa ao fim de sete anos de luta política revolucionária. Também teve o benefício de mudar a alcunha de David, que deixou de ser o «Robespierre do pincel» para se tornar o «Rafael dos jacobinos», devido à nudez das figuras do quadro.

Napoleão Bonaparte, que tomou o poder em França em finais de 1799, percebeu que podia utilizar o talento de David em seu benefício próprio. Napoleão utilizou-o tanto no Consulado, como no Império, sendo dele a «Coroação» de Napoleão, pintado de 1805 a 1807, a «Distribuição das Águias» de 1810 e o «Napoleão no seu escritório» de 1812, um quadro com intuitos oficiais que o mostra claramente em declínio.

Com a queda de Napoleão Bonaparte, e a Restauração das Dinastia dos Bourbons, David foi exilado para Bruxelas, não tendo pintado praticamente mais nada.



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