Assentados do Piauí formam brigada contra incêndios florestais



A importância de proteger a Caatinga para realizar o manejo florestal fez com que agricultores familiares do Piauí formassem a primeira brigada voluntária de assentados contra incêndios florestais. A iniciativa foi do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), com apoio do Ibama por meio do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo).

O grupo é formado por 18 agricultores de assentamentos que recebem apoio do SFB para fazer manejo por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal (FNDF/SFB). Eles participaram de um curso com duração de cinco dias, que tratou sobre comportamento do fogo, ações de prevenção e combate, tipos principais de equipamentos e como utilizá-los. Ao final, os assentados fizeram a mesma prova aplicada a brigadistas e foram aprovados.

O conhecimento os auxiliará a combater focos de incêndio e a evitar que o fogo chegue até as áreas de manejo, de onde se extraem, de forma sustentável, produtos como lenha e frutos. “Para a gente, o curso foi de suma importância, já sabemos como combater o fogo, como prevenir. Foi muito importante”, afirma o agricultor familiar Eduardo Sousa, do assentamento Serra do Batista I, no município Valença do Piauí.

Manejo e renda

Os focos de incêndio são comuns durante a época da seca, principalmente nos meses de agosto a novembro. Mais de 70% dos 14 mil focos do ano passado no Piauí foram registrados nesse período, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Este ano, embora a quantidade de focos tenha caído bastante, concentra-se nos mesmos meses.

É justamente no período da seca que o manejo se torna a principal atividade dos agricultores. “O manejo é uma fonte financeira muito grande, pois nesse período sem chuva, é praticamente a fonte de renda”, afirma Eduardo Sousa. “Se o fogo consegue entrar no manejo, o prejuízo é enorme. Sabendo como se combate, a chance de entrar é quase zero”.

A ideia do treinamento surgiu após visita técnica da equipe do SFB no início desse ano aos assentamentos apoiados com manejo florestal. “Nessa oportunidade, os assentados nos informaram que muitos produtores haviam deixado o assentamento rumo a São Paulo e outros estados devido a seca severa. Ficaram aqueles envolvidos com o manejo florestal. O risco do fogo queimar sua única fonte de renda precisava ser minimizado”, comenta a diretora de Fomento e Inclusão do SFB, Claudia Azevedo-Ramos.

Segundo a gerente de Florestas Comunitárias do SFB, Elisângela Januário, o interesse dos agricultores mostra que o manejo é um incentivo para manter a cobertura florestal. “O fato da floresta ter um valor econômico para os moradores da área faz com que esses tenham um estímulo extra para usar técnicas de controle de incêndio e para ajudar no combate a esse quando surgem focos locais”, diz.

Antes, combate sem técnica

No ano passado, ainda sem conhecimento sobre as técnicas corretas, os agricultores levaram “mais de mês” para apagar um incêndio de grandes proporções na região. Durante o curso, houve uma ocorrência de fogo nas imediações e os agricultores viram, na prática, como atuar. “Nos preparamos, pegamos as ferramentas adequadas. A forma de agir foi totalmente diferente do que a gente sabia”, diz Sousa.

O gerente estadual do Prevfogo no Piauí, Samuel Maia, pôde perceber os resultados. “Eles gostaram muito da organização, de como combater, de como se organizar para saber quem vai fazer o que, a eficiência, a logística”, diz.

Além de terem conhecimentos, os assentados contarão com os equipamentos necessários. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) havia fornecido materiais como bomba costal, bota, abafador, pinga-fogo (aparelho para queima controlada), facão, machado, foice, blusa e calça. Às técnicas e aos equipamentos se soma outra característica. “Eles têm o espírito de voluntariado para cooperar contra os incêndios lá e próximos”, afirma o engenheiro florestal responsável pelos planos de manejo dos assentamentos, Cristiano Cardoso, da Fundação Apolônio Salles de Desenvolvimento Educacional (Fadurpe), contratada pelo FNDF.

Prevenção

Com origens que vão de fenômenos da natureza (raios) a atividades humanas, os incêndios geram muitos prejuízos. Além de o solo perder seus nutrientes e produzir menos do que poderia, prejudicam o bioma, a vegetação e os animais, principalmente os de locomoção mais lenta, que morrem ao não conseguir fugir. “Que as pessoas procurem os órgãos competentes para buscar alternativas ao uso do fogo”, diz Samuel Maia.

Os assentados que formam a primeira brigada voluntária contra incêndio dão o exemplo de como proteger a Caatinga.

Fonte:
Serviço Florestal Brasileiro



11/10/2013 18:39


Artigos Relacionados


Jayme Campos quer brigada nacional para combater incêndios florestais

Jayme Campos sugere criação de brigada nacional contra incêndios

Meio Ambiente coloca grupo contra incêndios florestais em estado de alerta

Operação Corta Fogo combate incêndios florestais

Rio Preto tem seminário sobre incêndios florestais nesta 4ª

Instituto Chico Mendes forma 1a. turma de instrutores de brigada de incêndios