Brasil vai apoiar ingresso da Rússia na OMC







Brasil vai apoiar ingresso da Rússia na OMC
Declaração conjunta respalda reivindicação brasileira na ONU e prevê aproximação comercial

MOSCOU - Os presidentes Fernando Henrique Cardoso e Vladimir Putin assinaram ontem no Kremlin uma declaração conjunta, na qual a Rússia formaliza seu respaldo à reivindicação brasileira de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e, em retribuição, o Brasil apóia a aspiração russa de ingressar na Organização Mundial do Comércio (OMC). Nos discursos após as assinaturas, os dois mecionaram também outro foco de interesse mútuo: a aproximação entre a Rússia e o Mercosul.

Na declaração, os dois governos manifestam interesse em "projetos conjuntos nas áreas de alta tecnologia, como a indústria aeronáutica e espacial, telecomunicações, combustíveis e energia, inclusive no desenvolvimento de tecnologias inovadores na área nuclear". O Brasil tem interesse na transferência de tecnologia russa para o seu Veículo Lançador de Satélites.
Em troca, a Rússia usaria a base espacial de Alcântara. Os russos querem vender seus caças Sukhoi ao Brasil, que por sua vez tenta exportar jatos da Embraer.
No grupo de 70 empresários brasileiros que foram a Moscou estão o presidente da Embraer, Maurício Botelho, e o da Avibrás, João Verdi de Carvalho Leite.

O ministro da Defesa, Geraldo Quintão, também deve visitar a capital russa logo. A declaração conjunta anuncia para breve a assinatura de um memorando de entendimento sobre cooperação em tecnologias militares e informa que os presidentes querem "elevar o relacionamento bilateral ao nível de uma parceria estratégica de longo prazo".

Nova ordem - Em todas as entrevistas desde que chegou, no domingo, Fernando Henrique tem frisado os mesmos pontos de interesse estratégico comuns com a Rússia, que constam do texto assinado ontem: a criação de uma ordem mundial multipolar e de uma globalização "mais justa e simétrica", e o fortalecimento da ONU e do Conselho de Segurança como instâncias de solução dos conflitos mundiais. Nesses pontos, se entrevê o esforço de dois países grandes, porém ainda em desenvolvimento, para contrabalançar o peso político e econômico dos Estados Unidos.

Fernando Henrique também voltou a defender o controle do fluxo de capitais e a proposta foi encampada pela Rússia na declaração conjunta. No discurso do brinde, durante jantar oferecido por Putin ontem no Kremlin, Fernando Henrique lembrou que "o Brasil e a Rússia foram vítimas da volatilidade do capital financeiro". E reforçou a importância do Grupo dos 20, do qual participam os chamados países emergentes.
Ele lembrou seu discurso de abertura da Assembléia-Geral da ONU, no ano passado, em que associou o terrorismo ao crime organizado, à lavagem de dinheiro e ao tráfico de drogas, e propôs a eliminação dos paraísos fiscais, cuja existência contribui com essas práticas e com a corrupção. A declaração conjunta adota essa visão.

Armas - Em contrapartida, o Brasil apóia a posição russa no seu embate com os EUA contra a criação do escudo antimísseis. A declaração investe contra "o desmoronamento dos regimes de não-proliferação de armas de destruição de massa" e considera que "o Tratado de Mísseis Antibalísticos constitui um dos pilares do sistema jurídico nessa área". No campo da estratégia comercial, além do ingresso da Rússia na OMC, os dois presidentes ressaltam a necessidade de que "os temas agrícolas sejam efetivamente tratados nesta nova rodada" de negociações.

Ao todo, foram firmados quatro documentos. Fernando Henrique e Putin assinaram o Protocolo sobre Troca de Instrumentos de Ratificação do Tratado de Parceria e a Declaração Conjunta sobre os Resultados das Conversações. Os chanceleres Celso Lafer e Igor Ivanov acertaram o Programa de Intercâmbios Rússia-Brasil para Cultura, Educação e Esportes em 2002. E Lafer e o ministro da Justiça russo, Yuri Chaika, o Tratado de Extradição.
O presidente fez o convite, e o colega russo aceitou, para visitar o Brasil este ano. Depois da cerimônia, Putin, ex-dirigente do serviço secreto russo, saiu do Grande Palácio do Kremlin pela porta da frente, protegido do frio de zero grau e da neve fina com uma esportiva jaqueta vermelha com o nome "Rússia" escrito atrás, no alfabeto cirílico.


FHC tem dia de 'glória' acadêmica em Moscou
Presidente ganha edição russa de um livro seu de Putin e é homenageado por universidade

MOSCOU - Em meio aos compromissos da visita de Estado, o professor Fernando Henrique Cardoso viveu ontem um dia de glória acadêmica. De manhã, no Salão Verde do Kremlin, ganhou do presidente Vladimir Putin a edição russa de seu livro Dependência e Desenvolvimento na América Latina - Ensaio de Interpretação Sociológica. À tarde, recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade de Moscou "por suas enormes contribuições às relações entre Rússia e Brasil e às áreas da ciência e da cultura".

"A Rússia sempre teve grande interesse na América Latina e a estudamos inclusive através dos seus livros", disse Putin a Fernando Henrique, ao presenteá-lo com o livro, publicado no Brasil em 1970, em parceria com Enzo Faletto. Antes a obra podia ser encontrada nas bibliotecas russas, mas esta é a primeira edição comercial no país, feita pelo Instituto de Estudos Latino-Americanos da Academia Russa de Ciências. Foram impressos mil exemplares.
À tarde, na Sala do Conselho Científico da universidade, o reitor, Viktor Sadovnitchi, e dois pró-reitores discursaram, citando livros e artigos e atestando a importância das teses de Fernando Henrique, como a teoria da dependência e a interpretação das relações entre cultura e política.
Sadovnitchi leu resumo do currículo acadêmico do homenageado, citando títulos de honoris causa recebidos em vários países. O pró-reitor da Faculdade de Filosofia, Vladimir Mironov, disse que Fernando Henrique é uma "personalidade única no gênero", pelas incursões multidisciplinares pela sociologia, ciência política e economia, e um "orador perfeito".

Na tradicional cerimônia, que já homenageou figuras como o escritor Goethe e vários Prêmios Nobel, o presidente arrancou risos da platéia ao responder com "da" (sim em russo), às perguntas do juramento, sobre se estava disposto a promover a paz entre os dois povos e seguir contribuindo com a ciência e a educação.

Paralelo - Fernando Henrique agradeceu com breve conferência, em que traçou um paralelo entre as formações do pensamento russo e brasileiro no passado recente, usando como fio condutor o processo de assimilação das idéias importadas da Europa Ocidental: "Se a Rússia teve de contemporizar a influência ocidental com o passado eslavo e contribuições orientais, no Brasil a matriz ibérica transigiu com as culturas indígenas, africanas e dos vários povos que lá aportaram no decorrer dos últimos séculos, entre os quais milhões de árabes, judeus e asiáticos."

Nessa problemática assimilação, certas correntes do pensamento europeu tiveram dramáticas adaptações nos ecléticos ambientes intelectuais da Rússia e do Brasil. Da mesma maneira como rejeitaram a uniformidade, as duas sociedades provaram que a história não caminha para um fim único e determinante. "A falência do comunismo ajudou a desautorizar as concepções finalistas ou teleológicas. A história deixou de ter um desenlace necessário", disse. "A política se viu revalidada como processo em aberto, sem atores privilegiados ou oniscientes."

O presidente apontou esses traços para argumentar em favor da vocação russa e brasileira para a democracia, beneficiada pela "aceitação generalizada de que o bem comum deve ser perseguido por regras sempre passíveis de atualização, desde que para tanto se manifeste a maioria, segundo procedimentos que acatem o dissenso, a diferença, o conflito". Afinal, disse ele, "nada soa", para russos e brasileiros, "unidimensional, definitivo, categórico".


Lançamento de Serra será 5.ª-feira, sem Tasso
Reunião da executiva é adiada por um dia, para que ministro possa afinar o discurso

BRASÍLIA - O lançamento oficial da candidatura do ministro da Saúde, José Serra, à Presidência será na quinta-feira. A princípio, os dirigentes do PSDB pretendiam fazer o anúncio na quarta-feira, mas o ministro pediu mais um dia. Ele quis aprimorar o discurso que fará à imprensa, explicando por que decidiu disputar a sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Para que nenhuma especulação tire o brilho de sua fala - como as razões da ausência do governador do Ceará, Tasso Jereissati -, a assessoria de Serra decidiu que o melhor caminho é um pronunciamento ao País. O ministro não concederá entrevista coletiva, evitando falar sobre Tasso e sobre a governadora do Maranhão e pré-candidata do PFL, Roseana Sarney, à frente do tucano nas pesquisas de intenção de voto.

Preocupada em dar ao lançamento da candidatura o tratamento de um ato meramente partidário, a cúpula tucana decidiu fechar o palco do anúncio na executiva nacional. Para fingir que o lançamento seria feito numa reunião como outra qualquer, evitou até mesmo antecipar o convite para os governadores - todos eles membros da executiva -, que sempre estão com suas agendas cheias nos Estados.

"Até agora, não recebi nenhum convite para a reunião da executiva que vai lançar Serra", confirmou, ontem à noite, o governador de Sergipe, Albano Franco. Ele entende que ou todos os governadores comparecem ou simplesmente ficam em seus Estados para não dar mais dimensão política à ausência de Tasso. "A hora é de somar, porque só podemos pensar em desmanchar alguma coisa se estivermos fortes e unidos", afirmou, numa referência velada ao desmonte da candidatura do PFL para que Serra possa ser o candidato da aliança do governo.

Ausência - Tasso efetivamente não comparecerá ao lançamento da candidatura. Ao conversar com Fernando Henrique no sábado, o governador disse que não havia sentido em ir ao ato. Argumentou que, lançada a candidatura Serra, será mais fácil para ele dizer que apóia a decisão tomada pelo partido.
O presidente disse que o compreendia e o fundamental é a unidade em torno do candidato, não importando se ela será manifestada integralmente antes ou depois do lançamento de Serra. O presidente comunicou a Tasso, ainda, que Serra telefonaria para ele, conforme desejo já manifestado pelo governador.

Informou, também, que o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), estaria seguindo para o Ceará na segunda-feira.
"Tasso, assim como os governadores Albano e Geraldo Alckmin (SP) nunca vão à reunião da executiva", lembrou o vice-presidente nacional do PSDB, deputado Alberto Goldman (SP). Ele argumenta que o momento do anúncio da candidatura não pode ser supervalorizado. "Trata-se de um ato político, não de um grande acontecimento político. O que só ocorrrá na convenção." Goldman não tinha informação sobre a nova data da reunião, que o partido queria realizar amanhã.

O secretário-geral do PSDB, deputado Márcio Fortes (RJ), ficou encarregado de encontrar o local certo para o pronunciamento de Serra. Como o ministro gostaria de falar no Congresso, para onde voltará no mês que vem, ao reassumir sua cadeira no Senado, a idéia é realizar o encontro no Espaço Cultural da Câmara. O auditório é pequeno, sem luxo e freqüentemente utilizado em encontros de bancada e de cúpula do PT.


PSDB pede que Alckmin concorra no cargo
Apelo formal já foi aprovado pela executiva estadual e será entregue nesta semana

A executiva estadual do PSDB aprovou ontem, por unanimidade, a moção que sugere ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que não se licencie do cargo para disputar a reeleição. "É para dar tranqüilidade ao governador e ao partido", afirmou o presidente estadual da legenda, deputado Edson Aparecido. No mês passado, o próprio Alckmin manifestou a intenção de não se licenciar já que, para ele, a "lógica da reeleição é que as pessoas disputem no cargo." Dessa forma, o governador não se afastará em nenhum momento do Palácio dos Bandeirantes. A carta com o texto da moção será entregue por Aparecido ao governador.

"Como não há vice-governador, seria complicado Alckmin deixar o cargo, pois isso implicaria interferência entre os poderes", disse o deputado Duarte Nogueira, referindo-se ao fato de que na linha sucessória do governador está o presidente da Assembléia Legislativa, Walter Feldman (que pode tentar a reeleição como deputado), e o presidente do Tribunal de Justiça, Sérgio Augusto Nigro Conceição.

O programa de governo, que será definido em 48 encontros suprapartidários no Estado, com a presença de PTB, PFL e PPS, vai ser coordenado pelo Instituto Teotônio Vilela. "É a construção da aliança na base", comemora Aparecido. A coordenação da campanha de Alckmin ainda não foi definida, mas Feldman já manifestou o desejo de se ocupar da tarefa.
Na convenção estadual dos tucanos, no dia 30 de junho, deve ser homologada a candidatura de Alckmin. Serão registradas também os candidatos ao Senado, Câmara e Assembléia Legislativa.

Disputa - Segundo Aparecido, a vaga para o Senado deverá ser decidida nas prévias, ainda sem data definida, já que há vários nomes de tucanos interessados na vaga, como o presidente naiconal do partido, deputado José Aníbal (SP), o ministro da Educação, Paulo Renato Souza, o senador Pedro Piva (reeleição), e a deputada federal Zulaiê Cobra.
Embora cada partido tenha direito a duas vagas para a disputa no Senado, o PSDB terá apenas um candidato, já que a segunda vaga está comprometida com a aliança com o PFL - o senador Romeu Tuma tentará a reeleição.

Aparecido ainda não descartou a hipótese de que o partido promova prévias para a escolha do candidato a governador, já que a deputada Zulaiê tem manifestado esse desejo - embora Alckmin, que foi indicado ontem, seja o preferido do partido. "Mesmo que alguém se inscreva para a prévia, não vamos fazer como o PT", disse Aparecido, referindo-se à resistência encontrada pelo senador Eduardo Suplicy, que deseja disputar as prévias para a escolha do candidato petista à Presidência com Luiz Inácio Lula da Silva.


Suplicy cobra empenho do PT por debate
O senador Eduardo Suplicy (SP) cobrou ontem mais empenho da direção do PT para que sejam marcados debates entre ele e o presidente de honra do partido, Luiz Inácio Lula da Silva. Mais: disse que nem mesmo os filiados do PT sabem que haverá prévia para a definição do candidato à Presidência, no dia 3 de março, e pediu igual tratamento em relação a Lula.

Em carta encaminhada à cúpula petista, Suplicy destaca a "tradição" do PT de realizar prévias precedidas de debates, embora admita que a situação de hoje é "bastante especial", pois Lula lidera todas as pesquisas de intenção de voto. "Mas quem sabe seja ideal o Lula conversar comigo para superar a casa dos 30%?", sugeriu.
No 12.º Encontro Nacional do PT, realizado em dezembro, Lula foi inscrito para a disputa por seus companheiros. Na época, porém, deixou claro que não participaria de nenhum debate. "Não temos divergências, Eduardo, mas, quando se quer, elas aparecem e são usadas por adversários", observou ele na ocasião.

Preocupado com o "prazo exíguo" até a prévia, o senador disse esperar convencer Lula, a quem chamou de "amigo inteligente e sensível", da importância de pelo menos dois debates dirigidos aos militantes e outros três, no mínimo, transmitidos por emissoras de rádio e TV. "Novidade não é a realização de debates no PT", afirmou. "Novidade seria haver prévia sem debate."
Suplicy discorda do argumento da cúpula de que o enfrentamento causaria desgaste para o candidato do partido. Para o senador, tudo se passa como se o PT estivesse num jogo amistoso. "Até nos amistosos que o Brasil fará antes da Copa haverá jogadas sensacionais, que darão alegria, e podemos fazer o mesmo", propôs.

A insistência de Suplicy causa mal-estar no PT. "Não podemos obrigar ninguém a participar de nada, mas faremos o possível e o impossível para que a mensagem do senador e a de Lula cheguem ao País inteiro", disse o secretário-geral do PT, Luiz Dulci, um dos que receberam a carta de Suplicy.
A executiva nacional do PT reúne-se no próximo dia 28 para acertar as normas da prévia. De qualquer forma, já há um acordo: o partido criará um site na Internet para a prévia, divulgará o tema em jornais, cartazes e adesivos e pagará despesas de viagem para Lula e Suplicy fazerem suas campanhas.


Ciro retoma ataques a rivais
O pré-candidato à Presidência do PPS, Ciro Gomes, atacou adversários na abertura do 6.º Congresso Brasileiro de Calçados, ontem, em São Paulo. Fez acusações ao presidente Fernando Henrique Cardoso, chamou o ministro e pré-candidato do PMDB Raul Jungmann de “bobo”, criticou o ministro da Saúde, José Serra, além de dizer que a candidatura do petista Luiz Inácio Lula da Silva é “escolhida para perder”. O único nome poupado foi o da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL). “Não somarei uma palavra sequer para desqualificá-la.”

Ciro afirmou que o presidente articulou o lançamento de Jungmann para desestabilizar outras candidaturas governistas. “Fernando Henrique está desqualificando o processo político e destruindo a organização dos partido. O que me choca é o ministro se prestar ao papel de bobo, quase palhaço.” Em seguida, sobrou para Serra. “O candidato de Fernando Henrique é um candidato que o povo não quer.” O ex-ministro Maílson da Nóbrega, que dera palestra de manhã, também foi alvo. “É o canalhocrata maior da República, que aluga a voz e a pena ao Planalto.”

Maílson dissera que as candidaturas do governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), e do de Minas, Itamar Franco (PMDB), além da de Ciro, estão fadadas ao fracasso. Afirmara, ainda, que Ciro e Itamar caminham para a “insignificância política”. Itamar reagiu ontem mesmo: “Homem dessa insignificância, que levou o Brasil a uma das maiores taxas de inflação, deveria deixar em paz aqueles que lutam por um País melhor.”


Malan não abre mão de explicação de Lula na justiça
BRASÍLIA – O ministro da Fazenda, Pedro Malan, exige na Justiça que o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, esclareça declarações publicadas no jornal Correio Braziliense em 19 de agosto. A partir do momento em que for citado, Lula terá 48 horas para responder a Malan.
Segundo sua assessoria, o ministro ficou pessoalmente ofendido com o seguinte trecho da entrevista: “Quando o assunto é políticas sociais, o ministro Pedro Malan se confunde com os desenhos do Tio Patinhas. Parece que tem uma chave sagrada dos cofres públicos, guarda o dinheiro só para ele, de vez em quando abre o Tesouro Nacional para mergulhar e nadar nas moedas e, em época de eleição, libera o dinheiro para obras de amigos ou que beneficiem candidatos oficiais”.

O último trecho é considerado o mais ofensivo. Na avaliação de Malan, a frase insinua que ele estaria se valendo do cargo para favorecer amigos. O ministro lembra na interpelação que a liberação de verbas federais segue critérios e valores fixados na Lei de diretrizes Orçamentárias, na Lei Fiscal, na Lei Orçamentária e no Decreto de Programação Financeira.
Malan só entrou na Justiça em novembro porque não queria que a discussão fosse confundida com campanha eleitoral (na época ele era cotado como pré-candidato). O juiz federal em Brasília despachou o pedido em dezembro. Uma carta precatória foi enviada à Justiça de São Bernardo do Campo (SP), a quem cabe citar Lula.


Quércia tenta comandar candidatura no PMDB
BRASÍLIA - O ex-governador e presidente do PMDB paulista, Orestes Quércia tenta assumir a direção das articulações para lançar uma candidatura à sucessão presidencial. Depois de amanhã, ele se reúne com o senador gaúcho Pedro Simon. Quércia também deve marcar encontro com o ministro Raul Jungmann, que na semana passada se lançou candidato à pré-convenção.


Aliança entre PDT e PPS continua indefinda
RIO - Os dirigentes nacionais do PDT, PPS e PTB voltaram a se reunir ontem, mas, como na véspera, não chegaram a resultado imediato. O presidente do PDT, Leonel Brizola, saiu da reunião ressaltando que não apóia o pré-candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, com quem rompera em 2001, e "elogiando-o" por falar "dos próprios equívocos". "Não viemos aqui para decidir nada, ainda."


Artigos

Provocação e engajamento
JARBAS PASSARINHO

Claro que a generalização é sempre um erro, mas dois episódios recentes no campo da política deixam margem a preocupação justificada - um, pela provocação; o outro, por insólito.
O MST, de início acompanhado de grande simpatia popular, tem perdido solidariedade, dados os excessos que pratica, estimulado provavelmente por seus líderes revolucionários. Como não bastem as terras conseguidas, é natural que os assentados pleiteiem financiamentos dos poderes públicos, mas o fazem pressionando e até chantageando, ao ameaçarem invadir a propriedade rural da família do presidente da República.

Não faz muito, no Rio Grande do Sul, invadiram a agência do Banco do Brasil em Santana do Livramento e, num gesto próprio dos conquistadores em guerra, começaram a arriar o símbolo da soberania "inimiga", no caso, a Bandeira do Brasil, do mastro em frente à sede, e iniciaram o hasteamento, em seu lugar, do estandarte vermelho do MST. Em meio à heróica operação, um cliente, desse tipo de gente que acredita na sacralidade dos símbolos nacionais, impediu a consumação da ignomínia. Não por acaso, era um aposentado e, igualmente não por acaso, era militar reformado, essa fauna formada no culto de heróis como o marinheiro Marcílio Dias na Batalha Naval de Riachuelo. Dominada pelos paraguaios a corveta Parnaíba, o bravo marujo arrebatou a Bandeira Brasileira da mãos do inimigo e, mortalmente ferido, sepultou-se envolto nela nas águas barrentas do Rio Paraná, feito seu túmulo. É passado o tempo em que isso provocava arrepios na espinha dorsal e lágrimas.

O outro episódio é mais recente. Nele aparece igualmente o MST, em São Luís do Maranhão. Não, porém, como invasor. Ao revés, como convidado especial a uma piedosa reunião com S. Exa. o arcebispo de São Luís, dom Paulo Eduardo de Andrade Ponte. No desempenho de seu apostolado pela justa opção pelos pobres, dom Paulo e mais 12 outros santos bispos se empenham em fazer a Santa Madre Igreja transformar o injusto mundo maranhense no ostensório do Corpo de Deus. Para que as dioceses e as paróquias não sejam dominadas pela indiferença em face do penoso sofrimento do homem explorado por seu semelhante, dom Paulo e seus bispos tomaram por acólitos os representantes da CUT e do Partido Socialista Brasileiro, leigos íntimos - creio piamente - do catecismo segundo o Concílio de Trento. Ao diagnóstico crítico das chagas sociais que afligem de fato o povo da terra de Coelho Neto, a ilustre companhia denominou Carta ao Povo do Maranhão.

Todos, em cumplicidade cristã, os cenhos carregados, apontam para a indigência dos indicadores sociais do Maranhão. Causa-lhes revolta ver 63,7% do povo sobrevivendo abaixo da linha da pobreza. Exortam e conclamam os políticos "a inspirarem-se no Evangelho e na doutrina social da Igreja e a superarem interes ses particulares". Mais de três séculos separam o sermão cáustico do padre Antônio Vieira, no mesmo Maranhão, da Carta ao Povo dos srs. bispos acolitados pelos sem-terra, sindicalistas da CUT e pelo ramo local dos socialistas difusos de Arraes e do cristão-novo Garotinho. Vieira exigia dos governantes que "soltassem as ataduras da injustiça e deixassem livres os cativos e oprimidos"; os do manifesto deploram outra forma de opressão, a capitalista.

O que me estranha, contudo, é que esse grito, ao que parece contido durante os dois mandatos da jovem governadora do Maranhão, ecoe justamente agora que ela aparece nas pesquisas como capaz de vencer nas eleições presidenciais o Lula, candidato da CUT e do MST e - quem sabe? - da esquerda católica. A Carta ao Povo do Maranhão, a ser uma severa diretriz religiosa dos srs. bispos católicos empenhados na promoção humana e inconformados com a injustiça social, do que decorre parte significativa de uma população viver privada das mais elementares necessidades básicas de vida, até seria pertinente ao clamor pela justiça social, não fosse por dois fatos reveladores da intenção político-partidária: a presença de militantes petistas e socialistas e as acusações ao governo estadual do Maranhão em termos que não guardam a sutileza do "manto diáfano da fantasia" do velho Eça. Todos os males, ainda que reais, são debitados à omissão ou à comissão da governadora Roseana Sarney.

É tedioso voltar a discutir se cabe ser partidária uma confissão religiosa que por definição é católica, ou seja, universal. É mais que conhecida a preferência de parte da Igreja - a dos chamados progressistas - pelo PT, definido por um cientista político como uma joint venture marxista-cristã, uma frente ampla de trotskistas, remanescentes do PCB, antigos terroristas, ateus, católicos fascinados pelo humanismo de tintura marxista, alguns grã-finos posando de devotados aos excluídos e, decerto, gente de bem, sincera, que acredita no socialismo utópico. Clérigos mais definidos há que fazem a apologia de Marighella, o comunista histórico que defendeu a prática do terrorismo como pertinente à tática de guerrilha. Ao menos não são dissimulados, ainda que oportunistas convivendo com a burguesia. Outros usam decalques nos automóveis das dioceses: "oPTei" - o que nada tem de sutil.

Sempre houve padres e bispos na política no Brasil. Não surpreende que os haja atualmente. A preferência pelos pobres, justíssima, é da essência do catolicismo e não cabe criticá-la. A análise marxista do capitalismo selvagem é irrefutável, mas o capitalismo se modernizou e desmentiu a profecia de Marx, enquanto o comunismo fracassou. Tentar a compatibilidade entre catolicismo e marxismo é uma imensa fraude que acaba produzindo manifestos em nada diferentes das mais hipócritas proclamações da surrada política partidária.


Colunistas

RACHEL DE QUEIROZ

De um punhado de barro
Pensando bem, nós, os humanos, somos todos uns mal-agradecidos. A começar pelo dom da vida, que ninguém agradece e recebe como coisa que lhe é devida.
E não é. Nós, cada um de nós, não somos planejados coisa nenhuma, nascemos do encontro ocasional dos "micróbios da criança" (como dizia uma conhecida minha, contando como se dera a sua indesejada gravidez).
Mesmo os casais que desejam ter filhos se entregam ao acaso, ou mesmo a Deus, na suposição de que Deus se envolva em assuntos tão íntimos.

Aliás, em menina, sempre me preocupava o fato de Deus, Todo-Poderoso, não criar a gente como criou Adão, de um punhado de barro. Poderia, querendo privar-se da cansativa tarefa, delegar poderes ao homem para a reprodução direta da espécie. E aí algo me diz: mas foi exatamente o que Ele fez!
Apenas não facilitou demais, dividiu entre Adão e Eva a fonte criadora, cabendo a ela ser o receptáculo ou o hospedeiro do futuro ser e a ele, Ele, Deus, produzir a centelha criadora, sem a qual o milagre não se operaria.

Deus, que é mágico e gosta de operar suas mágicas sem interferências, criou os órgãos de reprodução nos seres masculinos e femininos, determinou que só funcionassem quando o casal atingisse idade adulta (quer dizer, tivessem capacidade para alimentar e criar o filho que iriam gerar).
Ah, como dizem agora os jovens: Deus é 10! Faz tudo pelo melhor, pensa nos ínfimos detalhes. Acho que, ofendido talvez com o nosso orgulho em sermos os "senhores da criação", Deus nos mostra que gasta o mesmo tempo e trabalho em produzir um besouro, um cachorro ou um homem. Talvez até Nosso Senhor goste muito mais de reproduzir bichinhos inocentes do que soprar vida nesses atrevidos e ingratos bípedes que se chamam homens e que, por cada poeta, por cada santo que veja nascer, tenha de aturar milhões e milhões de empedernidos pecadores.

Ou será que um santo é um ser tão especial que Nosso Senhor se sente bem pago com uma magra colheita de justos, em relação aos milhões de - diga-se - injustos?
O fato, talvez, é que o limo da terra, com fomos compostos, seria material de má qualidade, repleto de impurezas. Pegue um punhado de terra, aparentemente limpo e o examine a um microscópio potente. Cada caroço de terra parece um torrão, mas o espantoso é que fervilha de vida, coisas quase invisíveis que se mexem, e não se sabe a que reino da natureza pertencem - mineral, vegetal ou animal.

Dá susto. Por essa ninguém espera. E me dizem que, se pusermos sob o tal potente microscópio um pedaço qualquer do nosso corpo, se verá que em nós, na nossa pele, na nossa carne, pululam os seres invisíveis, hóspedes constantes da nossa pessoa.
É humilhante, não é? Como também é humilhante a narrativa bíblica de que Eva foi feita de uma costela de Adão. Por que a costela, osso tão inexpressivo, que serve apenas junto com as demais costelas, para armar o arcabouço do peito humano? Por que não nos retirar, a nós mulheres, do coração dele - ou melhor ainda, da cabeça, do cérebro?

"Deus é 10", sim, mas às vezes faz coisas que a gente não entende e, por isso, ressente. Se deu ao homem força e tamanho para oprimir a mulher, e até espancá-la, se raivoso - por que entregou à frágil mulher, à dominada mulher, a sede própria da vida, onde o feto se forma e vira gente?
Aliás, nós, mulheres, sabemos que somos a parte mais confiável do casal humano. Se não fosse a gente, o homem não trabalhava, não assumia responsabilidades, ficava na flauta, se divertindo, se contentando em morar debaixo de uma árvore.

Toda mulher sabe o trabalho que lhe deu educar o seu homem; e, se não proclamamos isso, é porque eles podem fazer greve, e então quem é que vai ganhar para nós o pão de cada dia?


Editorial

Os EUA e a liderança do Brasil

Não passa dia, praticamente, sem que alguma voz oposicionista denuncie a "submissão" do governo Fernando Henrique aos interesses americanos. Mas, se não com a mesma freqüência, decerto com ênfase ainda maior, surgem fatos que demonstram que o PT, seus aliados e companheiros de viagem se recusam a enxergar um palmo adiante dos seus narizes, nessa matéria. São os Estados Unidos os primeiros a atestar, com desconforto às vezes mais, às vezes menos disfarçado, que o Brasil, por sua política externa independente, definida pelo Planalto, executada com serena competência pelo Itamaraty e amplamente reconhecida nos foros internacionais, representa um problema para a afirmação da hegemonia americana no âmbito continental.

A mais recente manifestação reveladora do azedume de Washington - especialmente em setores do Departamento de Estado e na Representação de Comércio dos Estados Unidos (USTR) - com a determinação brasileira em promover os interesses nacionais acima de quaisquer outras considerações, e com o fortalecimento, disso decorrente, da liderança do País na Am érica Latina, foi a verdadeira descompostura que o ministro conselheiro da embaixada argentina em Washington, Ricardo Lagorio, ouviu de funcionários do Departamento de Estado americano, numa reunião na semana passada.

Divulgada pelo jornal portenho Clarín, na última sexta-feira, a antidiplomática reprimenda - inimaginável, aliás, se o interlocutor fosse um representante brasileiro - constituiu um ataque frontal à aproximação entre Buenos Aires e Brasília, no contexto da crise vivida pelo país vizinho.

"Vocês vão mimetizar o Brasil? Vão seguir o Brasil? O Brasil vai negociar por vocês no Fundo Monetário Internacional? E quem vai pôr o dinheiro para sustentar o seu programa econômico? O Brasil?", investiu um diplomata americano, segundo o relato do jornal, não contestado por nenhuma das partes envolvidas.

Essa exibição de incontida arrogância, que se diria típica do "chauvinismo de grande potência", como a China de Mao se referia ao comportamento da então União Soviética, foi comentada, a pedido de jornalistas que cobriam o encontro dos chanceleres do Mercosul, em Buenos Aires, pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer. Com a calma e a maturidade que parecem ausentes de certos gabinetes do establishment diplomático americano, ele chamou a atenção para o fato aparentemente esquecido de que a relação estratégica Brasil-Argentina, construída nos últimos 15 anos, se tornou um fator de estabilidade política no Continente e de distensão internacional, ao pôr fim a antagonismos históricos que poderiam levar ambas as nações até a uma corrida nuclear.

Graças a esse paradigma, Brasília não hesitou em dar pleno apoio ao novo governo do presidente Eduardo Duhalde. Pelo mesmo motivo, os países do Mercosul mantêm a decisão de negociar em bloco a adesão à Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Brasil e Argentina se recusam a ser o contrapeso um do outro, no campo diplomático: tanto pior para qualquer política de divide et impera. A preocupação do Brasil não é afrontar os Estados Unidos, mas lutar, sem estardalhaço nem provocações pueris, pelos objetivos considerados convenientes para o País na sua inserção mundial.

Isso pode aproximar ou afastar Brasília e Washington.
Aproximou, por exemplo, quando, por iniciativa brasileira, a Organização dos Estados Americanos (OEA) invocou o Tratado do Rio, de assistência militar recíproca, para apoiar os EUA no combate ao terrorismo, logo depois do 11 de setembro. E afastou, sem dúvida, quando em entrevista ao Izvestia, de Moscou, às vésperas de sua viagem à Rússia, o presidente Fernando Henrique criticou o programa do escudo antibalístico americano, dizendo que ele "não faz sentido". Ou quando condenou, em termos polidos, toda ação antiterror à margem da "ordem jurídica internacional", ou seja, unilateralmente.

O Brasil não faz parte do Primeiro Mundo, mas a atuação de sua diplomacia, fortalecida pelo respeito sem precedentes com que o presidente brasileiro é tratado por seus pares, confere um perfil primeiro-mundista à sua presença no cenário global. A Rússia incluiu o Brasil entre os poucos países, como a França, a China e a Índia, com os quais tem "relações especiais", e acaba de anunciar o seu apoio à reivindicação brasileira por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas. É a primeira vez que um membro do CS com poder de veto respalda oficialmente a demanda do Brasil.


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01/15/2002


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