Comendador Arcanjo fala muito mas nega tudo



Um grandioso esquema de proteção cercou o depoimento de João Arcanjo Ribeiro à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos nesta terça-feira (9) em Cuiabá. O ex-policial civil, conhecido como "Comendador", chegou ao Comando Geral da Polícia Militar do Mato Grosso por volta das 10 horas a bordo de um helicóptero e acompanhado de agentes da Polícia Federal (PF).

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Algemado, Arcanjo foi escoltado por 20 policiais federais até o auditório (que já havia sido revistado pelos agentes em busca de explosivos e outros artefatos) onde o esperavam dezenas de jornalistas (também revistados), mais uma dezena de policiais armados e os senadores Romeu Tuma (PFL-SP), Wellington Salgado (PMDB-MG), Sibá Machado (PT-AC), Juvêncio da Fonseca (PSDB-MS) e Antero Paes de Barros (PSDB-MT). A proteção de Arcanjo envolveu aproximadamente 80 policiais civis e federais.

Pouco antes do pouso do helicóptero, o advogado de Arcanjo, Zaid Arbid, preveniu a imprensa de que, apesar do habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a seu cliente, Arcanjo iria "se desviar apenas das respostas" que envolvessem os crimes aos quais já está condenado a 37 anos de prisão: evasão de divisas e lavagem de dinheiro.

- No mais ele deve falar - garantiu o advogado, que confessou receio de que o depoimento fosse utilizado como "palanque eleitoral".

Mas apesar de falar muito, e com segurança e desenvoltura, o "Comendador" negou ter praticado inclusive os dois crimes em que foi condenado. O foco da reunião primeiramente se voltou para o suposto envolvimento de Arcanjo com Ronan Maria Pinto e Sérgio Gomes da Silva, o "sombra", cujos nomes são citados quando se discute o assassinato do prefeito de Santo André (SP), o petista Celso Daniel.

Ronan é dono de empresas de transporte coletivo tanto no município paulista quanto na capital mato-grossense. O "sombra" é o ex-segurança de Celso Daniel, apontado como o mandante do assassinato, acontecido em janeiro de 2002. Arcanjo negou conhecer Ronan e Sérgio Gomes da Silva mais de quatro vezes e disse também nunca ter sido sócio do empresário paulista e de nenhuma empresa de transporte. O depoente afirmou ser absurda a suspeita de que teria participado do crime contra o prefeito.

No início da audiência, o presidente da subcomissão, Romeu Tuma, leu o habeas corpus de Arcanjo e deixou a palavra com o depoente, que abriu mão do direito. Respondendo ao relator, Juvêncio da Fonseca, o "Comendador" afirmou nunca ter trabalhado com casas de bingos nem com máquinas de caça-níqueis.

- Já tive oportunidade de ter bingos no Mato Grosso, mas não quis. Jogo de bicho sim, desde 1980. Tive também cassino - esclareceu Arcanjo.

Ao responder a Sibá Machado, o depoente afirmou nunca ter feito doações para campanhas eleitorais e disse não conhecer o ex-governador do estado Dante de Oliveira. Arcanjo também rechaçou a acusação de ter influência no meio político do Mato Grosso.

- Influência nem na minha casa eu tinha, minha mulher que mandava - brincou.



09/05/2006

Agência Senado


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