Especialistas divergem sobre modificações na legislação aduaneira



A audiência pública que orienta a apreciação do projeto de lei do Senado que introduz modificações na legislação aduaneira (PLS 327/06) foi marcada pela divergência de opiniões a respeito do regime jurídico dos chamados portos secos - zonas aduaneiras instaladas próximas às regiões produtoras para facilitar os processos logísticos da exportação.

Na avaliação da secretária-adjunta da Receita Federal do Brasil, Clecy Maria Busato Lionço, a atual legislação, por tratar a atividade aduaneira como serviço público, prejudica o setor exportador brasileiro, além de criar um ambiente de instabilidade jurídica que abre brechas para uma série de questionamentos judiciais. Segundo ela, a constatação de que a atividade aduaneira teria, na verdade, natureza de setor privado, levou o governo a buscar um regime mais adequado às necessidades empresariais do serviço - a matéria foi encaminhada ao Congresso em forma de medida provisória, convertida em projeto de lei pela ausência do pressuposto constitucional da urgência.

- Embora seja uma atividade de interesse público, ela não se encaixa nos serviços públicos definidos constitucionalmente. A mudança na legislação flexibilizaria o modelo. Hoje, se o exportador quiser armazenar uma carga nova que surgiu no mercado, ele não pode, porque está amarrado às regras de um contrato de licitação que vigora por vinte e cinco anos - disse a representante da Receita.

Já para César Augusto Guimarães Pereira, da Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegários (ABTRA), as mudanças sugeridas, ao substituírem os portos secos pelos Centros Logísticos Industriais Aduaneiros (CLIAs), representam uma verdadeira privatização do setor portuário brasileiro. Em sua avaliação, o projeto de lei contraria o pressuposto constitucional segundo o qual compete à União a exploração da infra-estrutura aeroportuária e de portos.

- O projeto confere poder de coerção, de polícia aos particulares que explorarão os CLIAs. O abandono do regime público nesse setor, com a garantia da isonomia de tarifas e de todas as outras garantias básicas asseguradas pela licitação, representa prejuízo para o usuário. O remédio pode não ser adequado à doença - disse.

A secretária-executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Lytha Battiston Spindola, defende as mudanças sugeridas pelo projeto por conferirem competitividade e dinâmica ao sistema. Ela destacou os prejuízos que as carências logísticas do país representam para os exportadores nacionais.

- A situação atual não permite a ampliação da oferta logística. O impasse prejudica o comércio exterior, retira a competitividade dos produtos nacionais e impede a ampliação dos investimentos. Hoje, é mais caro levar uma mercadoria de um porto do Nordeste a um porto do Sudeste do que levar essa mesma mercadoria de um desses portos à Ásia. Nossa logística onera e retira a rentabilidade - disse Lytha Spindola.



10/04/2008

Agência Senado


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