Falta de acordo volta a adiar votação de prazo para reintegração de posse



A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) tentou votar nesta quarta-feira (3), pela terceira vez consecutiva sem sucesso, projeto de lei da senadora Kátia Abreu (PSD-TO) que estabelece prazo de 15 dias para governadores cumprirem ordens judiciais de reintegração de posse, sob pena de responder por crime de responsabilidade (PLS 251/2010). A falta de acordo para votação persiste no desafio de conciliar a preservação do direito de propriedade com a desocupação pacífica de áreas rurais ou urbanas invadidas.

A polêmica chegou a indicar que a matéria seria rejeitada caso fosse colocada em votação nesta quarta-feira (3). Relator do PLS 251/2010, o senador Sérgio Petecão (PSD-AC) até já havia apresentado novo parecer, acolhendo emenda do senador Sérgio Souza (PMDB-PR), que ampliava o prazo para até 30 dias, definido a critério do juiz. Mas acabou recuando e, por sugestão dos senadores peemedebistas Waldemir Moka (MS) e Ricardo Ferraço (ES), pediu sua retirada de pauta para reexame.

Rejeição

O viés social presente em ocupações de imóveis rurais e urbanos sobressaiu quando o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) defendeu sua emenda ao projeto. com alterações no Código de Processo Civil (CPC) para estabelecer que a função social deve nortear as ordens judiciais de reintegração de posse e assegurar a todos os envolvidos a possibilidade de serem ouvidos pela Justiça. A intenção seria não só garantir o direito ao contraditório e à ampla defesa, mas também preservar a integridade física das partes, bens e benfeitorias e conduzir a um desfecho pacífico.

A mediação de conflito recomendada por Suplicy acabou abrindo espaço para críticas ao PLS 251/2010, embora a emenda tenha sido recusada por Petecão. Sublinhando ter a experiência de quem governou três vezes o Paraná, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) apontou o caminho da negociação como ideal para a solução de ocupações irregulares. Ele declarou seu voto contrário ao projeto, especialmente pela limitação de prazo aos governadores para execução das decisões de reintegração de posse.

A cautela invocada por Requião e sua rejeição à proposta contaram com a adesão dos senadores Ana Rita (PT-ES), Ataídes Oliveira (PSDB-TO), Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), Humberto Costa (PT-PE), Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) e Pedro Taques (PDT-MT).

- A Lei dos Crimes de Responsabilidade (Lei 1.079/1950) já é clara ao tornar passível de punição o governante que não cumprir ordem judicial. Agora, fixar prazo sem observar o caso concreto é temerário. No caso dos imóveis rurais, talvez a situação seja menos problemática. Mas, nos imóveis urbanos, uma definição draconiana de prazo pode levar a tragédias - advertiu Aloysio Nunes.

Eficácia

Durante a discussão da matéria, sobressaíram protestos contra o prazo restrito para execução da ordem de despejo, recomendando-se deixar a cargo do juiz fixar o tempo necessário em função do caso concreto, e alertas sobre a dificuldade de se acusar um governador de crime de responsabilidade quando as ordens judiciais de reintegração de posse costumam ser enviadas ao comandante da Polícia Militar.

A eficácia de uma norma - no caso a Lei 1.079/1950 - é que foi colocada em jogo com a apresentação do PLS 251/2010, na avaliação do senador José Agripino (DEM-RN).

- Na hora em que se pragmatiza a eficácia da lei, se foge do assunto - lamentou, afirmando que, no encaminhamento da reintegração de posse, a ordem judicial deveria chegar primeiro ao governador, que a partir daí e dentro de um determinado prazo deveria viabilizar a resolução do caso sem perder de vista sua perspectiva social.

Paralelamente à constatação de que a busca pelo direito de propriedade não pode levar trabalhadores à morte, Moka alertou para o fato de situações de invasão se prolongarem por anos.

- Há casos de estados com dezenas de ordens de reintegração de posse não cumpridas com o argumento de que a polícia não vai ser usada para tirar invasores. Estou querendo dizer que o que motivou a senadora Kátia Abreu é o desespero de quem tem a propriedade invadida e não tem a resposta em anos - ponderou.

Dados do Observatório da Insegurança Jurídica - levantamento realizado pela Confederação da Agricultura  e Pecuária do Brasil (CNA) - revelaram 1.084 invasões de terra em 2012. De acordo com Kátia Abreu, presidente da entidade, o cumprimento das decisões judiciais de reintegração de posse leva mais de 800 dias, por exemplo, na vara de Altamira, no Pará.

- Eu não consigo entender que direito de propriedade é esse. Não podemos ficar à mercê da irresponsabilidade de alguns tirando os direitos das pessoas. O sonho de quem quer ter terra não pode ser concretizado invadindo a minha propriedade (sentido figurado), que foi conquistada com suor e trabalho - sustentou Kátia Abreu.

Não foi definido prazo para retorno do PLS 251/2010 à pauta de votações da CCJ. Como a matéria deverá ser votada em decisão terminativa na comissão, se aprovada, poderá ir direto à Câmara dos Deputados, desde que não haja recurso para votação pelo Plenário do Senado.



03/04/2013

Agência Senado


Artigos Relacionados


Prazo para reintegração de posse tem votação novamente adiada

Prazo para reintegração de posse está na pauta da CCJ

CCJ vota prazo para governadores cumprirem reintegração de posse

Falta de acordo volta a impedir votação de relatórios setoriais do Orçamento 2012

CCJ volta a adiar votação sobre regras gerais para concursos públicos

Comissão de Orçamento volta a adiar votação de créditos extraordinários