Fundo criado por indígenas poderá gerar créditos de carbono e títulos de neutralização de gases estufa



Os índios Suruí, da Terra Indígena Sete de Setembro, no estado de Rondônia, estão de olho no futuro mercado de carbono e na possibilidade de receberem recursos pelo fato de ajudarem a conservar uma parcela da floresta amazônica. Apoiados por um grupo de organizações não-governamentais, os Suruí acabam de criar o primeiro fundo indígena brasileiro para financiar projetos sociais e ambientais em suas 24 aldeias. Anunciado na Conferência da ONU sobre o Clima (COP 16), em Cancún, o Fundo Carbono Suruí está aberto para receber recursos nacionais e estrangeiros.

Os Suruí de Rondônia são guardiães de 249 mil hectares de floresta amazônica que poderão gerar futuramente créditos de cerca de 4 milhões de toneladas de carbono equivalente. A quantidade exata de carbono estocado na área indígena dos Suruí ainda vai ser avaliada e os primeiros US$ 70 mil de doação recebidos da Forest Trend (uma ONG que apoia a iniciativa) servirão para esse levantamento de campo. Em uma avaliação prévia, as 4 milhões do toneladas de carbono equivalente poderiam gerar, a preços de hoje, algo em torno de US$ 20 milhões ao povo Suruí.

“Este é um projeto dentro da ideia do REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação, um mecanismo que está sendo definido na Convenção do Clima da ONU), e poderá gerar créditos de carbono para comercialização no mercado voluntário ou títulos de neutralização de emissões", afirma Ângelo Augusto dos Santos, da área de Mudanças Climáticas e Energias Limpas do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), órgão que irá gerir o Fundo Suruí.

O fundo não será nutrido apenas com recursos vindos de projetos de REDD ou do mercado de carbono. Ele captará recursos dentro e fora do Brasil em iniciativas públicas e privadas para as atividades de proteção, fiscalização, produção sustentável e melhoria da capacidade local dos indígenas. 

Com a ajuda das ONGs que apoiam a Associação Indígena Metareilá, os Suruí elaboraram um programa de desenvolvimento sustentável previsto para os próximos 50 anos. Entre as organizações estão a Equipe de Conservação da Amazônia (ACT Brasil), a Forest Trends, o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Susutentável do Amazonas (Idesam), o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e a Associação de Defesa Etnoambiental (Kanindé).


Floresta em 3D

Além do lançamento do Fundo em Cancún, os índios Suruí apresentaram ao público durante a COP 16 detalhes da parceria que estabeleceram com o Google Earth. O objetivo é possibilitar ao internauta uma viagem tridimensional pela terra indígena partir da recriação precisa de plantas e animais nativos.

O usuário poderá localizar na internet o território indígena e obter informações sobre usos e costumes dos Suruí, as matas, os rios e as estradas da região. Também será possível ter uma noção do desmatamento ilegal que ocorre na região.

"Estamos nos preparando para o futuro. Cada vez mais queremos dialogar com o mundo. A tecnologia nos ajuda a fortalecer parcerias e a divulgar nossa cultura e atividades", garante o líder indígena Almir Suruí.


» Siga o Brasil na COP 16



08/12/2010 18:02


Artigos Relacionados


COP16: Índice Carbono Eficiente estimulará empresas a reduzir emissões de gases estufa no País

País espera reduzir em mais de 100 milhões de toneladas as emissões de gases do efeito estufa com agricultura de baixo carbono

Reduzir emissão de gases de efeito estufa poderá ser obrigatório na Copa de 2014

Embalagem poderá informar quantidade de gases de efeito estufa relacionados ao produto

Exigência de neutralização de carbono em projetos culturais divide senadores

Aproveitamento de recursos hídricos poderá gerar renda para indígenas