Gabrielli diz que Petrobras não está "explorando o povo" e que política para combustíveis é de longo prazo



O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, contestou críticas à decisão da estatal de manter sem alteração os preços finais dos combustíveis no país, apesar da queda acentuada da cotação do barril do petróleo cru no mercado internacional. Em audiência pública nesta terça-feira (24), Gabrielli esclareceu que a política da estatal é de trabalhar com visão de médio e longo prazo, sem repassar para os consumidores, "no dia a dia", nem para mais nem para menos, as flutuações do mercado internacional.

- Não é correto dizer que estamos explorando o povo - rebateu Gabrielli, salientando que alterar os preços internos de forma rotineira resultaria em "completa desestruturação do mercado".

Desde a eclosão da crise econômica global, em outubro, as cotações do barril, depois de chegar perto de US$ 150, despencaram para valores que chegam agora ao redor de US$ 40. Um dos propositores da audiência, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) chegou a sugerir que a Petrobras manteve os preços finais no país para fazer caixa, já que teve redução em seus lucros e precisa financiar seu programa de investimentos. Mas senadores governistas lembraram que, se não reduziu ainda os preços, a estatal também não promoveu reajustes quando o barril disparou no ano passado.

A audiência foi realizada em conjunto pelas comissões de Serviços de Infraestrutura (CI) e de Assuntos Econômicos (CAE). Entre os subscritores do requerimento, estavam ainda os senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM), Ideli Salvatti (PT-SC) e Aloizio Mercadante (PT-SP). Foram mais de quatro horas de reunião, para debater o planejamento estratégico da Petrobras e seu plano de negócios para o período 2009-2013.

Bancos oficiais

Ainda em resposta a Tasso Jereissati, Gabrielli negou que os recursos necessários para os investimentos da empresa estejam dependendo de suporte de públicos - o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Caixa Econômica e Banco do Brasil. Para senadores tucanos, está havendo excesso de operações com bancos estatais, o que comprometeria ao apoio, nesse momento de crise, a pequenas e médias empresas sem acesso a outras fontes de recursos.

Tasso disse que, no caso do BNDES, as operações somaram US$ 20 bilhões no ano passado, segundo ele volume acima do recomendável com base nos limites prudenciais que devem ser observados pela instituição financeira. Gabrielli explicou que as operações com o BNDES refletiram uma questão de "momento", como se referiu à conjuntura do quarto semestre de 2008, de retração do crédito internacional e da queda nos resultados da empresa, devido aos efeitos da valorização do câmbio sobre suas operações, inclusive para o carregamento de estoques de petróleo e combustíveis.

O presidente disse que, entre 2009 e 2011, a estatal projeta investimentos anuais ao redor de US$ 30 bilhões, mais da metade dos quais cobertos por crédito externo e geração própria de caixa, com uma menor parte suprida com crédito oficial. Em 2010, observou, serão US$ 10 bilhões do BNDES e pelo menos US$ 16 bilhões de geração de caixa, considerando o barril do petróleo ao preço médio anual de US$ 41. No entanto, a geração de caixa crescerá na medida em que o preço do barril se recupere - para cada dólar, haveria um acréscimo de US$ 550 milhões de receitas.

- Não temos nenhum problema para financiar nossos investimentos - assegurou.

Pré-sal

Com relação às reservas de petróleo do pré-sal, apontadas como de grande potencial para o país, o presidente da Petrobras deixou claro que, após as prospecções, se ficar demonstrado que as áreas de concessão sejam referentes a reservatórios únicos, tais áreas serão unificadas para efeito de exploração - na linguagem da indústria petrolífera, ocorrerá a unitização.

- A lei diz que deve haver a unitização, isso é inevitável, mas a legislação não diz o que a União fará com essas áreas. Elas devem ser aportadas à Petrobras. Mas essa questão será decidida pelo governo no processo de discussão de um marco regulatório - disse.

Depois de defender que o plano de investimentos da Petrobras seja também abordado do ponto de vista do desenvolvimento regional, a senadora Ideli Salvatti (PT-SC) cobrou de Gabrielli esclarecimentos sobre duas questões: o início das atividades de exploração de reservas de gás natural na bacia marítima de seu estado e a possibilidade de estabelecimento, nessa unidade federativa, de uma unidade regional de produção da estatal. Quanto ao primeiro ponto, o presidente explicou que há necessidade de sondagens que dependem da disponibilidade de equipamentos. Sobre a uma unidade de produção local, afirmou, será uma decorrência do potencial de exploração.

Arthur Virgílio, que também questionou a política para os preços finais dos combustíveis, aproveitou também o debate para críticas à linha da política econômica do governo, por estar conduzido o Estado ao "inchaço" e a gastos excessivos. Segundo ele, o que está segurando o país nesse momento de crise são as reformas realizadas no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, como o programa de recuperação do sistema financeiro, o Proer, criticado pelos petistas à época, mas que foi agora indicado pelo próprio presidente Luis Inácio Lula da Silva aos Estados Unidos, como solução para seus problemas na área.

24/03/2009

Agência Senado


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