Pesquisa: Químico cria técnica para determinar substâncias tóxicas em combustível



Desenvolvido por aluno da USP, estudo ganhou o Prêmio Petrobras na área de tecnologia de preservação ambiental

Pesquisador do Instituto de Química (IQ) da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveu técnica de determinação de baixos níveis de substâncias tóxicas presentes nos subprodutos do petróleo. A nova metodologia é inovadora, pois a indústria petrolífera monitora algumas substâncias químicas, mas em elevados níveis de concentração.

“É importante observar os baixos índices de concentração de substâncias tóxicas nos derivados de petróleo devido a possíveis efeitos acumulativos dessas composições no meio ambiente, especialmente numa magalópole como São Paulo”, explica o químico Rodrigo Alejandro Muñoz, do IQ da USP.

Ele defendeu, no ano passado, a tese de doutorado Desenvolvimento de métodos eletroanalíticos para determinação de metais e ânions em combustíveis derivados do petróleo, com orientação do professor Lúcio Angnes. No mesmo ano, o trabalho ganhou o Prêmio Petrobras de Tecnologia na área de tecnologia de preservação ambiental.

O estudo, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), deu origem a 12 artigos publicados em revistas científicas brasileiras e internacionais.

Baixo custo

A técnica é eficaz para detectar e quantificar cobre e chumbo nas soluções extratoras. A porcentagem de eficiência é proporcional ao tempo de tratamento no banho ultra-sônico.

Muñoz explica que o banho ultra-sônico para extração de metais de óleos utiliza técnicas de baixo custo e de simples execução: “Os aparelhos empregados são acessíveis a qualquer laboratório”.

Ele diz que a extração auxiliada por ultra-som aumenta a freqüência de análises possíveis: “Podemos tratar dezenas de amostras simultaneamente, o que facilita a aplicação em laboratórios para as análises de rotina.

Outra vantagem é que o banho ultra-sônico inclui o tratamento das amostras para serem analisadas em meio aquoso, onde podem alcançar baixos níveis de concentração. Além disso, o procedimento de preparo de amostras é executado nas condições ambiente de temperatura e pressão, oferecendo segurança ao analista.

O método convencional ocorre em fornos de microondas, que, segundo o pesquisador, é mais lento e emprega condições drásticas de temperatura e pressão. Nesses fornos, a amostra é digerida numa temperatura 220º.

Com a nova técnica, a extração é feita em 15 minutos, em temperatura ambiente. “Ao mesmo tempo, consegue-se estender a escala de todo o processo e extrair esses metais, que são um problema tanto em termos ambientais como no controle de qualidade”, frisa o químico.

Cobre e chumbo

As técnicas de ultra-som, no entanto, foram apenas uma parte do trabalho. Rodrigo Muñoz estudou métodos de decomposição de amostras de petróleo, óleos lubrificantes, óleo diesel e óleos combustíveis nos diferentes fornos de microondas em colaboração com um grupo de pesquisa. Cada um foi adaptado à técnica eletroquímica de detecção mais adequada, todas de baixo custo.

Muñoz e sua equipe, com a colaboração do professor Claudimir do Lago, do IQ da USP, desenvolveram metodologia para identificação de cobre e chumbo no álcool combustível.

O químico explica que a presença do cobre no etanol anidro (derivado do álcool), que é misturado à gasolina, pode ocasionar problemas nos motores dos veículos e bloquear os bicos injetores.

“A determinação de níveis de chumbo está relacionada à questão ambiental, já que este elemento é bastante tóxico ao ser humano”, destaca.

Na tese, o estudioso relacionou outras substâncias compostas no etanol, como cloreto, sulfato e sódio. Ele disse que o desnível desses elementos indica processos de corrosão de peças metálicas do motor de um carro.

A tese apresenta métodos alternativos aos empregados pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) para garantir a qualidade do combustível. Muñoz defende que os estudos descritos em sua tese demonstram desempenho e custo melhores do que as técnicas tradicionais.

Pós-doutorado

O Prêmio Petrobras de Tecnologia rendeu a Muñoz R$ 20 mil e bolsa de pós-doutorado, vigente no Brasil a partir do mês de julho: “Ainda não tenho um projeto definido, mas pretendo trabalhar com outras técnicas de análise direcionadas à qualidade do biodiesel”.

Atualmente, Muñoz é pesquisador do Centro para Bioeletrônica e Biossensores da Universidade do Estado do Arizona, nos Estados Unidos. Ele atua no desenvolvimento de dispositivos portáteis para a detecção de explosivos, que poderão ser utilizados principalmente em aeroportos norte-americanos.

Viviane Gomes - Da Ag

02/06/2007


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