Sarney critica excesso de MPs e diz que país caminha para 'democracia direta'



Em entrevista ao primeiro número da Revista Congresso em Foco, o presidente do Senado, José Sarney, fez um diagnóstico do Poder Legislativo nos dias de hoje e afirmou que a democracia representativa está em crise, sendo substituída por um tipo de "democracia direta", possibilitada pelas novas tecnologias de comunicação.

"Estamos marchando para um tipo de democracia direta. Hoje, 30 dias depois da eleição, o eleitor já não sabe por que votou em determinada pessoa, nem o eleito sabe por que foi votado. Desapareceram os programas e as ideologias", diz Sarney.

De acordo com o senador, os parlamentos envelheceram, deixando de representar a sociedade adequadamente, o que justifica em parte o seu desgaste. Para Sarney, a representação parlamentar vem sendo superada logo após a posse dos eleitos pela velocidade dos acontecimentos, divulgados e acessíveis à população graças à mídia.

Na entrevista, publicada pelo site Congresso em Foco, Sarney também criticou o caráter híbrido da Constituição Federal de 1988, que, segundo o parlamentar, deformou a atividade legislativa com o advento das medidas provisórias.

"A iniciativa legislativa passou a ser do Executivo, que comanda o processo legislativo. O Congresso perdeu o poder de criatividade, em que se aprofunda a democracia. Quem toma conta da pauta do Legislativo é o Executivo. Por outro lado, o Legislativo chega e assimila ações que eram do Executivo. Culpo muito esse sistema ao fato de o Congresso ter se desviado de suas funções e, ao mesmo tempo, perdido força, substância e prestígio perante o poder público", avalia.

Ao ser questionado sobre a relevância da oposição na história recente do país, Sarney afirmou que a oposição "perdeu ideias" e "não tem propostas".

"A oposição existe e deve existir, porque a pior coisa seria uma sociedade unânime. Nós temos uma oposição com nomes brilhantes, ativos, mas falta proposta, uma ideia-chave que seja a motriz desse processo", afirmou.

O senador também avalia que enquanto for adotado no Brasil o voto proporcional uninominal - aquele em que o eleitor escolhe um candidato específico, e não um partido ou uma lista - não haverá partidos políticos.

"São cartórios que reúnem políticos e registram candidatos nas vésperas das eleições", classificou Sarney.



09/11/2011

Agência Senado


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