SEMINÁRIO SOBRE GLOBALIZAÇÃO DISCUTE DIREITOS HUMANOS E QUALIFICAÇÃO DOS TRABALHADORES



Ao abrir o segundo dia do seminário Globalização: Visões do Mundo Contemporâneo, o senador José Fogaça (PMDB-RS) afirmou que um país tem duas opções: ou pode ser vítima do processo de globalização ou então tirar dele o maior proveito possível para si próprio. O seminário, realizado pelo Instituto Legislativo Brasileiro (ILB), encerra-se nesta quinta-feira (dia 5).Fogaça abriu as palestras da manhã em substituição ao senador Lúdio Coelho (PSDB-MS), presidente da Comissão Parlamentar do Mercosul, que estava impossibilitado de comparecer. O representante do Rio Grande do Sul concluiu que a globalização representa um avanço na qualidade das relações internacionais e é inevitável: resta saber como tirar proveito dela.Na primeira palestra do dia, o senador Bernardo Cabral (PFL-AM) - presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado Federal - afirmou que os direitos humanos são os princípios geradores da construção social e da dignidade humana. Para o senador, uma palavra resume esses princípios: tolerância.- Dela derivam todas as formas de liberdade. Ser tolerante é aceitar a diferença do outro. O homem tolerante está mais pronto à solidariedade espontânea - afirmou o parlamentar. Cabral observou que a maioria da população mundial, no entanto, está excluída de boa parte dos direitos constantes na Declaração dos Direitos Humanos "pela ação de homens insensatos e intolerantes, que usaram sua inteligência e argúcia para construir sistemas de exclusão". Ele citou dados da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), denunciadores da péssima distribuição de renda hoje no país: em 1987, os 10% dos brasileiros mais pobres detinham 1,12% da renda nacional, percentual que caiu para 0,98% em 1996. No mesmo período, a percentagem da renda nacional detida pelos 10% mais ricos passou de 41,91% para 42,36%.- Hoje a urgência se faz na direção dos direitos econômicos, sociais e culturais - afirmou o presidente da CCJ. QUALIFICAÇÃOAmparado em trabalho do professor Mário Pochmann, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o deputado federal Paulo Bornhausen (PFL-SC) usou sua exposição para mostrar que a influência da globalização no mercado de trabalho brasileiro tem aumentado a oferta de empregos sem qualificação no setor de serviços. Daí a necessidade de se privilegiar, na política educacional, a oferta de um ensino fundamental de qualidade, concluiu.Primeiramente, o deputado mostrou que há, no Brasil, 66,4% de trabalhadores considerados de nível inferior, sem necessidade de escolaridade média ou superior para exercer suas funções. Esse percentual, entre os países industrializados citados (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França e Inglaterra) varia de 42,7% a 48,8%. Já a indústria de transformação emprega, nos anos 90, apenas 13% dos trabalhadores brasileiros. Entre os países desenvolvidos mencionados, esse índice varia de 18% a 32%.É no setor de serviços de produção, porém, que a diversidade ocupacional no Brasil se destaca. Considerados por Pochmann como o "portador da modernidade promovida pelo novo paradigma técnico-produtivo", esse setor - que engloba o segmento moderno da sociedade pós-industrial, como as ocupações de atendimento dos insumos e de serviços diretos à produção industrial, com trabalhadores multifuncionais e mais qualificados - ainda não proliferou no Brasil.Os trabalhadores empregados no setor de serviços, nos anos 90, chegam a 59,5% do total, proporção semelhante à dos países desenvolvidos mencionados, que variam de 55,6% a 71,8%. Nos serviços de produção, porém, há apenas 1,2% do total, contrastando com os países industrializados (7,3% a 14% entre os citados).- O processo de inserção de um país no mundo globalizado não gera, necessariamente, um crescimento qualitativo do setor de serviços. O que os dados parecem indicar confirma a tese dos estudiosos do assunto, ou seja, que o crescimento qualitativo do setor de serviços depende, essencialmente, da robustez do setor industrial, que é o que efetivamente gera demanda por serviços sofisticados - concluiu o deputado, lembrando que, somente nesta década, o país perdeu 1,8 milhão de postos de trabalho no setor industrial.

05/11/1998

Agência Senado


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