SENADOR JOSÉ SARNEY HOMENAGEIA O EX-PRESIDENTE TANCREDO NEVES



O senador José Sarney (PMDB-AP) recordou nesta quarta-feira (dia 7) em plenário a trajetória política do ex-presidente Tancredo Neves, principal articulador da transição política que deu fim ao regime militar. Ele exaltou o espírito conciliador do presidente eleito em 1985 e o definiu como mártir da democracia.- Mártir é aquele que não resiste, não se revolta, aceita o sacrifício pela sua fé. Tancredo é o mártir. Ele aceita morrer porque esse é seu destino, é a exigência de sua fé: a democracia, a transição democrática - afirmou Sarney. Sarney classificou Tancredo, que faleceu sem tomar posse, como um estadista, capaz de tecer alianças, articular, ceder, ter paciência, prudência e, sobretudo, espírito público, ultrapassando o caráter pessoal e partidário. - Sua ação conciliatória era pragmática e circunstancial. Uma negociação desejável numa sociedade pluralista, um meio legítimo de resolução dos conflitos vividos pela sociedade - declarou o senador, salientando, ainda, a firmeza moral de Tancredo Neves, que, apesar de pragmático e conciliador na ação, era "inflexível em matéria de princípios".Dizendo que Tancredo ainda faz muita falta, Sarney mencionou inúmeros episódios da política brasileira, sempre acentuando a ação pacificadora do político mineiro, tido como um estrategista. Ele recordou o discurso de Tancredo no funeral de Getúlio Vargas, quando, diante da comoção nacional, procurou esfriar os ânimos mais exaltados. Aos olhos de Sarney, na crise causada pela renúncia de Jânio Quadros, momento em que o país esteve mais uma vez à beira de um confronto, Tancredo Neves assegurou a continuidade institucional. Ele assumiu o cargo de primeiro-ministro em um regime parlamentarista, para, superada a crise, defender o presidencialismo e a posse de João Goulart. Já no governo de Jango, Tancredo tentaria evitar a derrocada das instituições que salvara na crise de 1961. - O PSD todo apoiou a Revolução de 64 e ele, solitário, foi o único a não votar em Castelo Branco, de quem era amigo pessoal. "Sou conciliador, mas em matéria de princípios, não transijo", disse Tancredo. Castelo Branco, também num gesto de grandeza, escreve em letras vermelhas no processo em que a linha dura propõe a cassação de Tancredo Neves: "esse, não!" - relatou Sarney. Emocionado, o senador recordou ainda a doença de Tancredo, quando o presidente eleito preocupava-se mais com a normalidade política e institucional do que com sua própria recuperação.- No hospital, sua preocupação não era a saúde. Era o país. Era a conclusão da transição. Disse a Dornelles: "Não operarei, o Figueiredo não transmite o poder ao Sarney". E Dornelles, no interesse de sua saúde, assegurou-lhe o contrário - afirmou o senador.De acordo com José Sarney, 15 anos depois da morte do político mineiro, fica nítida na história a figura de Tancredo Neves como "Patrono da Democracia".- Tive a tarefa gigantesca e quase impossível de administrar e dar equilíbrio a uma aliança de forças heterogêneas, possibilitando a travessia do regime autoritário para o pleno estado de direito. Tancredo foi minha inspiração, nada fiz sem pensar no que ele faria. Substituí-lo era tarefa maior do que eu mesmo - admitiu Sarney, enumerando ainda as inúmeras conquistas sociais provenientes da engenharia política de Tancredo Neves. Ao final de seu discurso, José Sarney foi cumprimentado por parlamentares de todos os partidos.

07/06/2000

Agência Senado


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