Sob protestos de governistas, CCJ convoca Dilma para falar sobre Plano de Direitos Humanos



A convocação da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, para falar sobre a constitucionalidade e a juridicidade de medidas previstas no Plano Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH-3), foi aprovada nesta quarta-feira (10) pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). A decisão gerou protesto de senadores governistas, que se retiraram da reunião. O líder do PT e do bloco de apoio ao governo, senador Aloizio Mercadante (SP), anunciou que irá recorrer ao Plenário por considerar que houve descumprimento de normas regimentais na votação do requerimento para a realização do debate com a ministra.

VEJA MAIS

No requerimento, a senadora Kátia Abreu (DEM-GO) solicitou três audiências públicas "individualizadas" na CCJ sobre o PNDH-3. Além da ministra, que será convocada, participarão o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, e o jurista Ives Gandra, que serão convidados. A senadora justificou a proposta de debate, afirmando que o plano nacional poderá trazer grandes inquietações ao setor produtivo rural.

A sugestão de convocação - que obriga a pessoa a comparecer, ao contrário do convite - da ministra foi questionada por senadores do governo. Valdir Raupp (PMDB-RO) propôs que o nome de Dilma Rousseff fosse substituído pelo de Paulo Vannuchi, ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, já que o PNDH-3não teria sido elaborado na Casa Civil. Eduardo Suplicy (PT-SP) sugeriu que, em vez da ministra, fosse chamado o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, já que os outros convidados para as audiências públicas são juristas. Convocar Dilma para falar sobre aspectos jurídicos, segundo Suplicy, seria o mesmo que convocar o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, para falar sobre aspectos relacionados ao Ministério da Saúde.

Depois da recusa de Kátia Abreu de acolher as sugestões de Raupp e de Suplicy, Mercadante pediu a palavra como líder. O presidente da CCJ, senador Demóstenes Torres (DEM-GO), disse que não cabia, naquele momento de votação do requerimento, a intervenção do líder. Citou o art. 310 do Regimento Interno do Senado, pelo qual o encaminhamento de votação de requerimento é limitado ao signatário e a um representante de cada partido ou bloco parlamentar, salvo nas homenagens de pesar. Mercadante, por sua vez, valeu-se do inciso 3º do art. 14 do mesmo regimento, segundo o qual o líder poderá fazer uso da palavra, uma vez por sessão, na discussão de qualquer proposição, por dez minutos.

Demóstenes manteve sua posição e Mercadante protestou, afirmando que nunca, no Senado, um debate foi cerceado numa comissão e advertindo que a decisão do presidente da CCJ criaria um precedente grave - a possibilidade de cassação da palavra de um líder. Demóstenes respondeu que o art. 310, por ser específico, derrubava o inciso 3º do art. 14, que é genérico. E encerrou a discussão. O líder do bloco de apoio ao governo recorreu ao plenário da CCJ para ter o direito à palavra e o recurso foi rejeitado por 9 votos a 3.

O requerimento de Kátia Abreu para a realização das três audiências públicas foi, então, aprovado por 9 votos a 7. Mercadante voltou a protestar, afirmando que o que houve na reunião da CCJ foi "uma aberração", já que o líder não pôde falar e houve, em sua avaliação, um "atropelo do Regimento".

- Não reconhecemos a votação - acrescentou Mercadante.

Rita Nardelli / Agência Senado



10/02/2010

Agência Senado


Artigos Relacionados


CCJ não convocará mais Dilma Rousseff para falar sobre programa de direitos humanos

Jucá propõe substituição de Dilma por Vannuchi em debate sobre Plano de Direitos Humanos

CI convoca Dilma para falar sobre dossiê de gastos com cartões corporativos

Comissão convida ministros para falar sobre compra de caças e Programa de Direitos Humanos

CDH aprova requerimento para ouvir Paulo Vannuchi sobre Plano Nacional de Direitos Humanos

Vannuchi fala a seis comissões sobre plano de direitos humanos