Yoani Sánchez recebe apoios no Congresso e defende 'uma Cuba plural'



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A jornalista cubana Yoani Sánchez, célebre por sua oposição ao regime político da ilha, e pela publicação do blog Generación Y, causou intensa movimentação na visita que fez ao Congresso Nacional na tarde desta quarta-feira (20). Convidada pelo deputado federal Otavio Leite (PSDB-RJ), Yoani recebeu apoio de parlamentares de diversos partidos e de um pequeno grupo de simpatizantes, mas foi hostilizada por pessoas que se diziam representantes de "movimentos sociais".

A visita começou no plenário da Câmara, onde foi levada à mesa dos trabalhos por deputados da oposição. Continuou no auditório da Comissão de Relações Exteriores, onde assistiu o documentário “Conexão Cuba-Honduras”, de Dado Galvão, e terminou com duas entrevistas no Senado.

Dois dias atrás, Feira de Santana (BA), manifestantes que protestavam contra a presença de Sánchez no Brasil impediram a exibição do filme, que tem a blogueira como uma das entrevistadas. A repercussão das manifestações acabou colaborando para a vinda dela a Brasília. Na Bahia, ela estava acompanhada pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que também a ciceroneou nesta quarta.

Antes da exibição do filme, Yoani foi elogiada pelos parlamentares e fez um breve pronunciamento. Falou de “uma Cuba silenciada pela censura e pelo monopólio informativo" do partido comunista. Ao elogiar a pluralidade política brasileira, inclusive em referência às manifestações contrárias à sua presença no país, observou que, a exemplo do Brasil, há em Cuba um amplo leque racial e étnico.

Para explicar aos parlamentares a situação vivida em seu país e a dimensão alcançada por sua dissidência política, Yoani Sánchez lembrou que, quando começou a escrever em seu blog, não imaginava tantas transformações causadas por uma publicação de tom “moderado”, na qual passou a descrever o cotidiano de sua família e seus amigos:

- Não entendi a comoção por causa de um simples blog - estranhou.

Horas depois, em entrevista ao Programa Cidadania, da TV Senado, que vai ao ar a partir desta quarta-feira, Sánchez declarou que o governo cubano “tem medo da internet porque esse meio de comunicação representa a possibilidade de a população se informar paralelamente aos meios oficiais”. E acrescentou que o regime também teme reformas políticas por avaliar que essas mudanças inevitavelmente levarão os irmãos Castro e seus  aliados a perda do poder.

De acordo com a jornalista, depois de criar seu blog, Yoani passou a ser vítima de perseguição e espionagem, além de ser impedida de viajar para fora de seu país – a blogueira veio ao Brasil após diversas tentativas negadas pelo governo cubano, que a descreve como “mercenária e agente da CIA”.

Guantánamo e embargo

A propósito, durante sua visita à Câmara, Sánchez foi questionada por parlamentares sobre questões espinhosas como a prisão que os Estados Unidos mantêm em Guantánamo (ou seja, em solo cubano), e o embargo econômico desse mesmo país a Cuba.

Declarando-se "civilista" e uma defensora da legalidade, disse discordar de Guantánamo. Quanto ao embargo, listou três razões para defender seu fim: representa uma ingerência dos Estados Unidos sobre Cuba; fracassou em seu objetivo de induzir o povo cubano a se voltar contra seu próprio governo; e serve aos detentores do poder para justificar seu fracasso econômico.

No Programa Cidadania, da TV Senado, o jornalista Paulo Acrísio perguntou à dissidente se contestava as conquistas cubanas nas áreas de alfabetização e saúde pública. Mesmo reconhecendo esses benefícios, ela lembrou que foram alcançados por meio de apoio material da extinta União Soviética, e alertou para a deterioração do atendimento aos cidadãos nessas duas áreas:

- A saúde e a educação já não funcionam da mesma maneira.

Além disso, repudiou a atitude do governo cubano de cobrar em obediência política a oferta de escolas e hospitais:

– Não quero, nunca mais, que um governante diga: "Cale-se, pois há saúde e educação" – ressaltou.

A suposta ação da embaixada cubana para divulgar um dossiê contra a blogueira, denunciada no Senado por Álvaro Dias (PSDB-PR), foi analisada pela jornalista em uma entrevista concedida já à saída da TV Senado. Trata-se, acredita, de uma estratégia para “matá-la ética e moralmente”.

Além de Suplicy e Álvaro Dias, prestaram apoio à jornalista os senadores Pedro Taques (PDT-MT) e Aécio Neves (PSDB-MG). O parlamentar petista explicou o apoio que vem dando há alguns anos à blogueira, mesmo sob o ataque dos que o chamam de "traidor":

- Está no estatuto do PT que o socialismo deve ser buscado por meios democráticos. Portanto, não há nenhuma incoerência da minha parte.



20/02/2013

Agência Senado


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