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O mito do eterno retorno
(Mircea Eliade)

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Mircea Eliade: O mito do eterno retorno

Mircea Eliade, historiador das religiões, é um dos autores que estudou os mitos em suas diversas manifestações. Segundo o autor, podemos encontrar em todas as manifestações do mito uma relação com o Cosmos, com a origem.
Encontramos, em o mito do eterno retorno, uma recusa em trabalhar diretamente a história como disciplina. Essa recusa é explicitada pelo autor que afirma em sua introdução: “(...) o problema da história como história não será abordado de maneira direta neste ensaio” (ELIADE, 1992: 6). Demonstra neste trecho seguinte sua intenção: “nossa intenção principal foi estabelecer certas linhas orientadoras das forças no campo especulativo das sociedades arcaicas” (ELIADE, 1992: 6).
Nessa recusa por uma investigação sobre a história, o autor busca o entendimento do mito tal como ele era, compreendido pelas sociedades arcaicas. Nesse contexto, ele é visto justamente como recusa do tempo concreto ou histórico por parte desses povos. O historiador vai, por isso, colocar de lado questões mais relacionadas à história como uma disciplina. Uma vez que para as sociedades arcaicas a história não tem valor, o autor não despreza, porém, que as posições espirituais estudadas por ele, “(...) são instrutivas para o nosso conhecimento do homem e da própria história humana” (ELIADE, 1992: 6-7).
Em seu prefácio escrito em Novembro de 1958 o autor esclarece que o título da obra foi mudado diversas vezes, tendo inicialmente, em 1945, recebido o título de Cosmos e História, num segundo momento recebeu o nome de Arquétipos e Repetição, para finalmente ser denominado: O mito do eterno retorno. O historiador lembra que o título do livro não se refere ao mito grego ou sua reinterpretação por parte de Nietzsche.
Antes de tudo o mito do eterno retorno refere-se à forma com que o homem das sociedades arcaicas se relacionava com o Cosmo. Esse Cosmo tem também uma história. A validade dessa história reside no fato de que ela remete a um episódio de criação dos deuses e dos heróis nos tempos míticos. Ela é, portanto, “uma "história sagrada", preservada e transmitida por intermédio de mitos” (ELIADE, 1992: 8). Além disso, essa história deve ser repetida infinitas vezes, pois as cerimônias reatualizam o acontecimento primordial narrado pelo mito.
No prefácio de “O mito do eterno retorno” o autor também lembra que o uso da palavra arquétipo, recorrente em sua explicação, não é o mesmo uso feito por C. G. Jung. Para este último os arquétipos estão relacionados ao inconsciente coletivo. Já para Eliade essa dimensão não é colocada. Em sua obra, arquétipo é entendido como sinônimo de modelo exemplar.
Para as sociedades tradicionais todos os atos importantes foram revelados por deuses ou heróis, portanto os homens dessas sociedades repetem esses atos infinitamente em suas vidas. Nesse sentido Mircea Eliade dá vários exemplos: Na Nova Guiné, os mitos que falam de viagens ao mar fornecem modelos exemplares aos navegadores: “quando um capitão se faz ao mar, personifica o herói mítico Aori” (ELIADE, 1992: 35). O navegador não pedia ajuda desse herói, mas identificava-se com ele. Outro exemplo é o caso dos Karuk da Califórnia, onde tudo o que eles faziam era conseguido porque os Ikxareyavs já haviam feito nos tempos míticos.
Esses exemplos são reveladores de uma concepção ontológica das sociedades arcaicas. Nela um objeto ou ação só se torna real à medida que imita um arquétipo. A realidade só é alcançada pela imitação. Dessa forma paradoxalmente o homem das sociedades tradicionais só se vê como uma pessoa real a partir do momento que deixa de ser ele mesmo. Pode-se ver o sacrifício ritual sob um outro ponto de vista.

Eliade lembra que o sacrifício não só reproduz um sacrifício inicial, mas se situa nesse mesmo momento mítico, não só o imita, mas coincide com ele. Assim o tempo histórico é suspenso em nome de um tempo sagrado. Através da imitação desse arquétipo o homem arcaico é ele mesmo projetado para essa época mítica, onde os arquétipos foram revelados pela primeira vez. Assim, o homem arcaico abole o tempo histórico em nome de um tempo mítico.
Mas esse projetar-se para o tempo sagrado só acontece em períodos essenciais. Naqueles momentos em que o homem é verdadeiramente “ele mesmo”. O resto dos dias se passa no tempo profano e desprovido de significado. Os textos brâmanes demonstram a heterogeneidade do tempo sagrado e profano: “(...) da modalidade dos deuses, ligada à “imortalidade”, e da do homem, ligada à “morte””. (ELIADE, 1992: 38).
Deste modo, nos mostra Eliade, o homem arcaico apenas tolera a história e a abole periodicamente. Para o autor, uma característica do homem arcaico é sua revolta com o tempo histórico, concreto e uma nostalgia pelo início dos tempos, pela “Grande Era”.
Assim vemos que as contingências históricas não têm muita importância para as sociedades arcaicas. O que importa para esses povos são os acontecimentos originais e primordiais narrados pelos mitos. Eles devem ser repetidos, pois o homem tradicional se vê como “ele mesmo” na medida em que se identifica com o modelo exemplar retirado dos mitos, diferente do que acontece com a narrativa histórica, onde um acontecimento é considerado verdadeiro pelo fato de ser único e irreversível.



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