BUSCA

Links Patrocinados



Buscar por Título
   A | B | C | D | E | F | G | H | I | J | K | L | M | N | O | P | Q | R | S | T | U | V | W | X | Y | Z


Cartografias Celestiais
(Cassiano Ribeiro Santos)

Publicidade


... De todas as imagens fabulosas que a astronomia descortina, nenhuma seduz tanto quanto as imagens aqui na terra; não a terra vista do espaço e sim a visão que temos aqui mesmo quando, no meio de uma planície sem fim, sobre uma pequena elevação, perdemos a visão no horizonte. A curvatura suave, nos limites que esconde, insinua, mais que a própria visão, a imensidão do planeta. As nuvens vertiginosas desdobram e desmancham-se antes de tocar o inatingível horizonte, guardião de gemas cintilando seus raios no azul distante: ­é o sol se pondo! Um destes coruscantes raios de luz rasga a vastidão do céu e acende com o seu rubro ardor uma estrela ao longe; dela sai um outro raio acendendo outra estrela que acende outra como linhas cintilantes de uma cósmica tecelã... logo o céu noturno incendeia-se com cem mil pontos fulgurantes suspensa sobre a terra feito nuvens de pirilampos. Tudo isso Sathaniel, o romântico, observava pela janela da velha torre onde havia se exilado após uma vida de patéticos desenganos. Seus longos e vibrantes dedos corriam sobre as paginas de um caderno:

Nao me recordo quando foi que adquiri o hábito de fitar com olhos evasivos o espetáculo das nuvens no teto do céu. Na mais tenra infância eu deitava-me sobre a grama com a cabeça apoiada nas mãos, as pernas cruzadas e, com um talo de capim entre os dentes, contemplava o cortejo suntuoso de nuvens cabeçudas feito montanhas de algodão. Muitas vezes o céu encontrava-­se límpido por horas a fio mas eu não desistia e esperava com o olhar fixo no horizonte; logo elas apareciam como se eu fosse um desses taumaturgos celtas que sabiam fazer chover atraindo nuvens com varinhas de condão. Elas surgiam gigantescas e iam se espalhando - Parecem ovelhas brincalhonas! O pastor das nuvens deve estar dormindo!. Eu pensava quase dormindo também. Logo surgia um gigante sobre a linha do horizonte com olhos e braços amedrontadores, mas eu não me assustava; em breve o gigante transmutava-se em uma bandeja de suculentas maçãs ou em um monstro pateta de barriga grande e orelhas longas. Meu posto de observação era o alto de uma colina sob a frondosa sombra de um ipê permitindo-me ver a sombra das nuvens avançar pelo campo, cobrindo arvores solitárias, vacas dorminhocas e pequenos casebres de barro às margens de um riacho murmurante. As grandes sombras redondas deslizavam velozes sobre o capim ondulante, venciam pequenas elevações e se perdiam nas montanhas distantes. Com as nuvens passaram-se os anos; hoje já não tenho tempo para tais contemplações. Quem sabe lá no alto as nuvens não se divertem vendo-me andar sobre a terra como um inseto inquieto e bisonho?
------------------------------ ----------------------------------------------------------
Assim como certos indivíduos precisam de grandes espaços para viver, de montanhas, planícies ou das vastidões do oceano - encontrando, por vezes, um pálido consolo em grandes mansões e amplos solares, outros precisam de grandes intervalos de tempo, de solitárias estações e longos períodos de recolhimento e ruminações; para eles, as tarefas apressadas e a tiranias das horas são tão insuportáveis quanto os corredores estreitos para os primeiros.

mais textos desse autor, acesse www.shvoong.com (em portugues) e pesquise cassiano - contatos [email protected]



Resumos Relacionados


- A Todas Las Madres Del Mundo-antonio Davilla

- Memória Parcelada (mémoire Morcelée)

- Terra Mãe

- Ciúmes

- Cronicas De Un Corazon Roto (ii)



Passei.com.br | Biografias

FACEBOOK


PUBLICIDADE




encyclopedia