Resumo de O Drama Da Conquista Na Festa: Reflexões Sobre Resistência Indígena E Circularidade Cultural.

O Drama da Conquista na Festa: reflexões sobre resistência indígena e circularidade cultural, de autoria da professora Rachel Soihet, ora apresentado trata ? no sentido lato - da renovação historiográfica, é testemunho das transformações advindas com a história nova, em constante diálogo com outras disciplinas, apresentando autores e conceitos ligados à história cultural. Em seu sentido strictu, focaliza a dramatização da conquista espanhola na América Latina, utilizando-a como fonte de pesquisa. Às ponderações teóricas da introdução, soma-se a segunda parte do trabalho e tema do capítulo: a festa e seus significados.
Inicialmente, temos uma discussão acerca dos interesses da história terem se ampliado nos últimos anos. Abandonando os grandes temas e as polarizações do antigo paradigma rankeano, entram em cena novos objetos, - tais como a festa - antes, insuspeitados de possuírem uma história. Devido a tais transformações, novos problemas suscitaram novas abordagens e o uso de metodologias variadas, como fez o historiador da cultura Carlo Ginzburg[1].
O conceito de cultura, anteriormente empregado no sentido iluminista, relacionado à alta cultura - arte, literatura, música, etc.-, emerge renovado no diálogo história-antropologia, enquanto caminho pelo qual se pode analisar e compreender as camadas sociais tidas como subalternas. Por isso mesmo, é um conceito caro à história cultural e utilizado sobretudo, no significado e interpretação da festa enquanto marco de resistência cultural popular, em oposição ao poder constituído. Somando-se a esta transformação conceitual, um outro conceito ? o de circularidade cultural ? empresta à análise histórica nova maneira de compreensão e explicação da (i)materialidade.
No decorrer do texto, a autora apresenta os historiadores que trabalham com a abordagem cultural e suas contribuições analíticas. Robert Darnton, por exemplo, é um entusiasta do diálogo história ? antropologia; Natalie Davis e E. P. Thompson, ressaltam o papel decisivo da cultura como força motivadora da transformação histórica e Carlo Ginzburg - numa atitude essencialmente antropológica - utiliza a análise dialógica, inspirado em Mikhail Bhaktin.
A segunda parte do texto, ao focalizar especificamente o drama da conquista, adquire deliciosa característica de narrativa etnográfica, deslindando os significados da festa ritual, desde seu conteúdo mítico-simbólico até sua característica de resistência cotidiana dos grupos populares. Assim, a festa pode assumir conotações de paródia, deboche ou inversão face ao enfrentamento do poder constituído, contribuindo, sobretudo, para a construção e afirmação da identidade desses grupos.
O conceito de circularidade cultural é também utilizado pela autora para trazer à tona a originalidade dos povos latino-americanos, antes inseridos em análises europocêntricas, que os consideravam possuidores de uma ?cultura primitiva? e passivos o que redundou, por isso mesmo, na falta de um conhecimento positivo a seu respeito. A dramatização da conquista é uma resposta dos povos da América Latina, de forma a expressar sua originalidade e riqueza simbólica.
Enfim, o texto da professora Rachel Soihet é um refinado diálogo historiográfico, onde está presente o uso maestral da subjetividade, num enfoque que busca explicar o desenvolvimento de sua pesquisa baseando-se nas ?raízes folclóricas?. Aí reside sua extrema originalidade.

[1] Em seu livro, História Noturna. Decifrando o Sabá. Cia.das Letras, S.P.1989, Ginzburg utiliza a investigação morfológica numa perspectiva comparada em períodos e áreas mal documentados, para estudar os mitos e ritos simbólicos ligados ao sabá e às viagens extáticas.1?

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