Baía I
(Carlos (Manatwork), Caetano Veloso)
Quando você for convidado pra subir no adro da Fundação Casa de Jorge Amado o largo ladeira do pelourinho, encimado pela fundação jorge amado, famosa pelos milhares de fotos e centenas de filmes, mais as baianas de cenário que nos cercam para tirar fotos a dois reais e mais a memória da casa onde jorge amado escreveu o 'suor', naquela espécie de realismo socialista tropical, e mais não sei quantos outros livros cheios de baianos pretos e pardos como dizia o gregório de matos, poeta também ele desta terra. os enxames de turistas tirando fotos das fileiras de casas barrocas que podiam ser da beira alta, ou da baixa, ou de outro portugal qualquer, não fossem os pretos muitos pretos e brancos que já o o não são..... Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos Dando porrada na nuca de malandros pretos no meio da rua, um exemplar estranho de manifesto cultural ou intervenção cívica, ou lá o que seja. um homem coberto de cartazes de uma qualquer deputada federal com cara de actriz de novela, a quem pede uma casa e a quem tece os mais rasgados e laudatórios louvores, com fotos, restos de cartazes de campanha eleitoral, pedaços de lençóis escritos a spray de tinta. a cara tapada com uma máscara em rede que mais parece de esgrimista que peleia com o destino adverso De ladrões mulatos E outros quase brancos Tratados como pretos Só pra mostrar aos outros quase pretos (E são quase todos pretos) a bahia é uma cidade preta. quase completamente preta, orgulhosamente preta. as igrejas católicas que já foram centros de candomblé, as entradas dos prédios como sobrados onde dormiam os ex escravos que fugiram para a cidade para passarem a ser escravos outra vez, de outro modo. o deslumbramento dourado das igrejas excessivamente barrocas em resposta ao despojamento dos reformistas holandeses, os orixás que são santos de outro modo (mais completos porque são humanos ao mesmo tempo, e são malandros e são manhosos e são diabos e são como nós todos...) E aos quase brancos pobres como pretos Como é que pretos, pobres e mulatos E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados E não importa se olhos do mundo inteiro possam estar por um momento voltados para o largo Onde os escravos eram castigados E hoje um batuque, um batuque com a pureza de meninos uniformizados o som das percussões é o som da bahia. ouve-se nas esquinas, nas ruas. sente-se no andar das pessoas. no passo sensual das mulatas, no passo malandro dos pretos e mulatos e quase pretos. a cidade pendurada em cima do morro. em cima de todos os morros (quanto mais alto mais preto, quanto mais acima mais pobre e mais preto e mais pobre)
Resumos Relacionados
- Baía Iii
- Rosa Parks (1913-2005)
- Tuerie Dos Zébres (la Tuerie Des Zébres)
- Dia De Liberdade - Dia Dos Pretos-velhos
- A Cabana Do Pai Tomás
|
|