Memórias De Um Sargento De Milícias - Parte 11
(Manuel Antônio de Almeida)
XI ? Progresso e atraso - Após todas essas explicações , apresentações e origem dos personagens, o narrador volta a se concentrar no memorando, ou seja em Leonardo, afilhado do barbeiro, pois a última vez que fora mencionado estava encalhado no F e agora já está no P, de novo empacado, mas o progresso do menino havia deixado o padrinho muito contente. O difícil era fazê-lo decorar o padre-nosso, em vez de dizer ?venha a nós o vosso reino?, ele dizia : ?venha a nós o pão nosso?. O maior suplício para o menino era ir à missa ou ao sermão. Mesmo assim, enquanto todos viam em Leonardo um grande peralta, principalmente a vizinha, o padrinho não perdia as esperanças de vê-lo um clérigo. Era a tal vizinha uma dessas mulheres que se chamam de faca e calhau, valentona, presunçosa, e que se gabava de não ter papas na língua: era viúva, e importunava a todo o mundo com as virtudes do seu defunto. Ela não perdia tempo em desmentir o vizinho em suas esperanças a respeito do afilhado. Certo dia, o barbeiro não suportou mais, pois certo dia, ao chegar a loja, a vizinha, à janela, perguntou-lhe, em zombaria, onde estava o seu reverendo. O barbeiro, vermelho, foi às nuvens e quando ela perguntou se o menino já sabia o padre-nosso, o homem não agüentou e exasperando-se respondeu-lhe que o menino já sabia e que ele o fazia rezar todas as noites para seu marido que estava dando coices no inferno. A mulher retrucou e chamou-o de raspa-barbas. A discussão foi longe. Quando o compadre perguntou a mulher o porquê de ele implicar tanto com uma criança que nunca havia lhe feito mal, ela respondeu que ele vivia jogando pedras no telhado, fazia-lhe caretas e a tratava como se fosse uma saloia ou mulher de barbeiro. O menino ao ouvir tanto estardalhaço, pôs-se a porta e começou a arremedá-la. O compadre achou tanta graça que sentiu-se vingado e desatou a rir. Enquanto a discussão termina, o narrador aproveita para informar que o barbeiro sabia da prisão de Leonardo mas não se importava. Assim que o velho tenente-coronel colocou Leonardo na rua, decidiu tomar Leonardo para a sua proteção, acreditando que se conseguisse felicitá-lo, lavaria o seu filho do pecado; tanto que pediu à comadre que oferecesse ao compadre seu préstimo para o pequeno, chegou a pedir que o deixasse ir para a sua companhia. O compadre recusou e disse que era a sua função, para tampar a boca da vizinhança, transformar o menino em gente.
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