Poesias
(Olavo Bilac)
Estreou em 1888 , com Poesias , livro saudado com entusiasmo, por Alberto de Oliveira e Raimundo Correia, que formariam, com Bilac, a Trindade Parnasiana. As Poesias, de 1888, além de uma introdução em verso, chamada Profissão de Fé - espécie de manifesto parnasiano- continham três partes distintas: Panóplias: poemas descritivos, obedecendo rigorosamente aos cânones parnasianos, aproveitando sugestões da antiguidade greco-romana, com referências que tendem à superficialidade e ao puramente ornamental. Via Láctea: trinta e cinco sonetos, tematizando o lirismo amoroso platônico, com o aproveitamento de sugestões românticas e clássicas. Obra de inegável êxito junto ao leitor, resvala o kitsch *, reeditando, em tom menor, a lírica de Camões e Bocage. O título Via Láctea, alude a uma constante na poesia de Bilac: as estrelas Via Láctea Ora (direis) ouvir estrelas! Certoperdeste o senso! E eu vos direi, no entanto,que, para ouvi-las, muita vez despertoe abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquantoa Via Láctea, como um pálido coberto,cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,inda as procuro no céu deserto. Direis agora: Treslocado amigo!Que conversas com elas? Que sentidotem o que dizem, quando estão contigo?E eu vos direi: Amai para entendê-las!Pois só quem ama pode Ter ouvidocapaz de ouvir e entender estrelas. *kitsch = Diz-se que um artista pratica o Kitsch, quando ele mistura formas e truques para impressionar o apreciador, sugerindo, através de efeitos previamente estudados, conotações prestigiosas, ostentando falsa riqueza ou cultura. O kitsch está na base da chamada indústria cultural, através da reprodução, em série, de obras de arte e objetos raros para deleite da classe média neurotizada pelo status - móveis Luis XV, porcelana inglesa do século XVIII escultura oriental da Dinastia Ming, quadros de grandes mestres, Rembrandt e Di Cavalcanti, lado a lado, peças do artesanato marajoara, nordestino e etc, tudo adquirido no supermercado da esquina). O Parnasianismo tem muito disso: provocar efeitos, valorizando o que é logro e ostentação , sob a máscara da beleza e do prestígio. Nenhum dos nossos parnasianos foi helenistas, nenhum dos gregos, mas quase todos recorreram a evoluções esteotipadas da Antiga Grécia (galerias, mármores , vasos, Paternons etc), transformadas em verdadeiros fetiches. Sarças de Fogo - poemas eróticos, centrados na beleza física da mulher e no amor carnal, reduzido a um jogo bem arranjado de palavras, buscando mais o efeito que a genuína sensualidade. É um erotismo declamatório, que descamba, muitas vezes, para algo próximo à pornochanchada. É o caso de Tentação de Xenócrates, Satânia O Julgamento de Frinéia. Alvorada do Amor e outras. Satânia Nua, de pé, solto o cabelo às costas,Sorri. Na alcova perfumada e quente,Pela janela, como um rio enormeDe áureas ondas tranqüilas e impalpáveis,Profusamente a luz do meio-diaEntra e se espalha palpitante e viva.Entra, parte-se em feixes rutilantes,Aviva as cores das tapeçarias,Doura os espelhos e os cristais inflama.Depois, tremendo, como a arfar, deslizaPelo chão, desenrola-se e, mais leve,Como uma vaga preciosa e lenta,Vem lhe beijar a pequenina pontaDo pequenino pé macio e branco. Sobe... cinge-lhe a perna longamente;Sobe...- e que volta sensual descrevePara abranger todo o quadril!- prossegue,Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura,Morde-lhe os bicos túmidos dos seios,Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavoDa axila, acende-lhe o coral da boca,E antes de se ir perder na escura noite,Na densa noite dos cabelos negros,Pára confusa, a palpitar, dianteDa luz mais bela dos seus grandes olhos. E aos mornos beijos, às carícias ternas,Da luz, cerrando levemente os cílios,Satânia os lábios úmidos encurva,E da boca na púrpura sangrentaAbre um curto sorriso de volúpia...
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