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Ana Terra
(Érico Veríssimo)

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Ana Terra era um dos quatro filhos de Maneco Terra e D. Henriqueta. Nascera em Sorocaba e viera com a família para a vasta solidão dos campos e coxilhas do Rio Grande de São Pedro ( Rio Grande do Sul).
O pai lhes fizera, algumas vezes, uma inútil promessa de voltarem para S. Paulo. Em 1977, era uma moça de 25 anos que ainda esperava o amor e o casamento. Era de olhos e cabelos pretos, rosto muito claro, lábios cheios e vermelhos. Vivia com o pai, e mãe e dois irmãos, (Lúcio já estava enterrado nas coxilhas...) no descampado, sob os temores de invasões dos índios ou dos castelhanos. Levavam vida muito primitiva e pobre. O rancho que habitavam não podia ser mais primitivo. O velho Terra, como os filhos, era analfabeto, homem taciturno e de poucas palavras. O mobiliário do rancho, escasso e rústico. Naquele ermo aquele gente nada fazia mais que trabalhar de sol a sol, comer, dormir,, esperar... Um dia era quase sempre a repetição do anterior. A família estava ilhada naquele verde de horizontes sem fim. Não tinham calendário, nem relógio, nem vizinhos próximos.
Sempre que me acontece alguma coisa importante, está ventando, costumava dizer Ana Terra. Passam-se anos. E foi num dia assim que ela conheceu um índio, criado numa redução jesuítica, Pedro Missioneiro. Ela o encontrou feiro perto da sanga e o pai e irmãos o recolheram e o trataram no rancho. Apesar de certa má vontade do pai e irmãos, o índio foi ficando e se incorporando ao primitivo clã. Aí vivia, trabalhava, tocava flauta e contava estórias muito lendárias, numa língua misturada de português e espanhol.
Dos amores de Ana Terra e Pedro Missioneiro, vai nascer, mais tarde, um filho que repetirá as feições e o nome do pai e a teimosia e o silêncio do avô Maneco Terra. Pedro Missioneiro aparece e desaparece rodeado de algum mistério e se projeta como um mito. Possui certos poderes mágicos que o tornam meio sobrenatural.. Para cumprir o código de honra do clã e por ordem do chefe Maneco Terra, Antônio e Horácio, irmãos de Ana, matam e enterram, longe do rancho, o índio Pedro Missioneiro. Bem longe da estância para não infringirem o dever sagrado da hospitalidade. Tudo questão de honra familiar. O filho de Ana Terra e Pedro Missioneiro nasceu em 1789. A vida continua amarga e se torna trágica, quando um bando de castelhanos invade os ranchos dos Terras, mata o pai e o irmão de Ana Terra e os dois escravos, violentando Ana Terra e desaparece, destruindo tudo e levando o que quiseram. Horácio casara-se e se mudara para Rio Pardo. D. Henriqueta já tinha morrido. Ainda escaparam da chacina Eulália, mulher de Pedro, Rosinha, sua filha e Pedro, filho de Ana Terra, que por ordem dessa, se tinham escondido no mato.
Quando as carretas de Marciano Bezerra passam por ali, em demanda das sesmarias do Coronel Ricardo Amaral, as duas mulheres e as duas crianças seguem com eles, Ana Terra segue para o rincão longínquo de Santa Fé: é a fuga da sua solidão, de sua família, eliminada, do crime dos irmãos que mataram Pedro Missioneiro, da insegurança e da violência que tomaram conta de sua terra. É a fuga ao passado. Depois de longa viagem e sofrimento, chegam ao final do caminho e fincam raízes na terra. Eulália se une a um viúvo e cria a filha Rosa. Ana Terra cria Pedro. Estão lançando os alicerces de Santa Fé.
Passa o tempo, Pedro, já moço, volta de uma guerra sob as ordens do Coronel e se casa com Arminda Mello: do casamento nascerá um casal de filhos, Juvenal (1804) e Bibiana (1806) que se casarão com Maruca Lopes e com Rodrigo Cambará.
O Coronel Ricardo Amaral morreu na Guerra. Agora, nova guerra para a conquista da Banda Oriental . E lá se foi novamente, para a guerra, Pedro Terra, agora, sob as ordens do Major Francisco Amaral. Pedro sabia bem o que era uma guerra. Ia sem nenhuma ilusão. Despedindo-se da mãe, lhe diz,pede-lhe que tome conta de tudo pois tem pressentimentos de que não voltará.
Ana Terra fica escutando o vento. Estava de tal maneirahabituada ao vento que até parecia entender o que ele dizia...
Nas noites de ventania, ela pensava nos seus mortos. Muitos anos depois, sua Bibiana, já mulher feita, ouvia a avó dizer, quando ventava:Noite de vento, noite dos mortos...



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