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O Pasquim - Antologia
(Jaguar e Sergio Cabral)

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O bem humorado jornal nasceu, graças à morte de um grande nome da imprensa brasileira: Stanislaw Ponte Preta. Na época, um jornal chamado Carapuça era editado com textos assinados por ele ? mesmo não sendo ele quem os escrevia -, e como sua morte ficou inviável manter o tablóide. A distribuidora do jornal convocou Tarso de Castro para solucionar o problema e a conclusão a que se chegou foi lançar uma nova publicação. Juntaram-se então os cinco amigos para criar o novo veículo: Tarso, Sérgio Cabral, Jaguar, Carlos Prósperi e Claudius, além claro, de Dona Nelma, a secretária e musa inspiradora.
Para circular, o novo jornal precisava de um nome. E já sabendo que o material publicado não seria lá muito sério, Jaguar sugeriu O Pasquim. A sugestão não suscitou muito entusiasmo, mas como ninguém agüentava mais tanta reunião, acabou sendo aprovada.
A primeira capa já tinha dono: seria com o colunista social Ibrahim Sued a entrevista. E já no número de lançamento, um furo: o próximo general a governar o País, depois de Costa e Silva, seria Emílio Garrastazu Médici. A primeira edição contou ainda com textos da atriz Odete Lara, que se encontrava no festival de Cannes, e do cantor e compositor Chico Buarque, direto de Roma. A irreverência do tablóide já se revelava na legenda de capa: um semanário executado só por jornalistas que se consideram geniais.
Mesmo com receio, justificado pelo fracasso do periódico de Millôr Fernandes, o Pif Paf, que só teve oito edições e foi inviabilizado pela censura, 14 mil exemplares foram rodados para o primeiro número. A edição se esgotou em dois dias e mais 14 mil foram tirados. O sucesso de vendas foi inegável. No número dezesseis, a tiragem chegava a 80 mil exemplares. Dez semanas depois, a marca de 200 mil foi alcançada.
O formato do semanário teve escolha fundamentada em argumento curioso. Numa pesquisa com colegas jornalistas, a equipe ouviu que os brasileiros não gostavam do tablóide,então ficou tablóide. No dia 26 de junho de 1969, ia para as bancas o mais subversivo dos jornais.
O Pasquim foi na verdade um grande celeiro de nomes que mais tarde estariam atrelados à intelectualidade tupiniquim. Henfil, Paulo Francis, Ferreira Gullar, Ivan Lessa, Carlos Heitor Cony, Rubem Fonseca, Ruy Castro e Luís Fernando Veríssimo são alguns colaboradores que podem ser citados.
Segundo Sérgio Augusto, um dos organizadores da antologia, o sucesso era tamanho que se os redatores quisessem, o jornal poderia ser publicado totalmente em latim e venderia do mesmo jeito. Mesmo com perfil jovem e vendagem garantida, em tempos de regime militar o tablóide encontrava problemas para atrair anunciantes. Alguns chegaram a levar uma prensa do governo por atrelar sua marca a um jornal que reunia pessoas tidas como comunistas, pervertidas, difusoras de idéias subversivas, desencaminhadoras da juventude brasileira. Além dos generais, o Pasquim tinha opositores na própria classe. Nomes de peso da imprensa repudiavam a publicação do panfleto fescenino, como taxou Gustavo Corção, colunista do jornal O Globo. David Nasser, então editor da revista O Cruzeiro, o escritor Nelson Rodrigues e o intelectual Roberto Campos montaram firme oposição ao tablóide.
O prestígio do Pasquim junto à classe artística e a esquerda, no entanto, não podia ser negado. A atriz Fernanda Montenegro chegou a protagonizar debochadas fotonovelas nas páginas do semanário. E o espaço pra crítica social sempre esteve presente, embebido em muito humor negro e ironia. Algumas questões colocadas com muito bom humor na época podem perfeitamente se aplicar aos dias de hoje.
Logicamente que o regime militar não aceitava quieto todas as críticas. Uma bomba chegou a ser colocada dentro da redação do jornal e só não explodiu por defeito. Os censores impunham vários cortes na edição do semanário até que fosse liberado para publicação. Ainda assim, alguns números chegavam a ser recolhidos das bancas por algum militar insatisfeito.
A redação, claro, deu seu jeito de burlar a censura. A primeira censora, chamada Dona Marina, por exemplo, acabou amiga de bebedeira dos jornalistas e foi demitida por deixar passar uma charge de Ziraldo, na qual ao invés do grito de independência de Dom Pedro, estava a legenda-Eu quero é mocotó!.
Em 1970, Ziraldo, Paulo Francis, Luiz Carlos Maciel, Paulo Garcez e Tarso de Castro foram presos. A pena de duas semanas foi esticada para dois meses. O motivo da prisão eles não sabem até hoje. Durante o período da prisão uma metafórica gripe tomou conta do jornal. E assim os leitores souberam, de maneira cifrada, do ocorrido.
Um dos pontos altos do Pasquim eram suas entrevistas. Leila Diniz, Madame Satã, Glauber Rocha, Gabriel Garcia Márquez, Oscarito. Personagens interessantes não faltavam na década de 1970. E colaboradores também não. Chico Anysio, Jô Soares, Danuza Leão, Vinícius de Moraes. Listar os nomes ocuparia páginas e mais páginas.
O pasquim durou 1072, até novembro de 1991. Em 1999, o cartunista Ziraldo tentou ressuscitar a publicação, mas não obteve sucesso. Pouco tempo depois o semanário chegou ao fim definitivamente.
O charme do Pasquim residia no subtexto das piadas bem humoradas, era totalmente fundamentado na luta pressuposta pela liberdade de expressão, pelo descompromisso com o formalismo. A publicação de uma antologia com seus textos chega num momento propício para a reflexão acerca do poder de crítica, numa época livre de ditadura, mas cheia de preguiça política.



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