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Peter Pan
(J. M. Barrie)

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Peter Pan e eu
Meu primeiro contato com Peter Pan não foi através do filme de Disney - como talvez aconteça com a maioria das crianças - mas, sim, pelas mãos da Dona Benta, de Monteiro Lobato. A versão de Lobato, apesar de não ser totalmente fiel ao original, se aproxima muito mais do que a de Disney. Talvez por isso, a história tenha deixado um gosto ruim na memória da menina de 9 anos que eu era na época. Hoje eu sei que, sem querer, acabei percebendo algo mais do que a superficial história infantil. Para mim, durante muitos anos, Peter Pan, os meninos perdidos e a Terra do Nunca tinham um quê de mórbido.

Somente em 2002, meu interesse por Peter Pan foi novamente despertado. Primeiro, uma recomendação de Luiz Antônio Aguiar, um professor que eu respeito e um escritor que admiro. Logo depois, li dois livros da Ana Maria Machado que falavam de Peter Pan: ?Texturas ? e ?Como e Por Que Ler os Clássicos Universais desde cedo?. Lendo esses livros eu comecei a descobrir o que havia por trás de Peter Pan e a entender o meu incomodo. Recentemente, decidi ler a tradução do texto original feita por Hildegard Feist. Bem, lido o livro, devo dizer que meu incômodo da infância foi explicado: para mim, Peter Pan e os meninos perdidos são o símbolo de crianças abandonadas, não desejadas pelos pais.

Tenho certeza que esta é uma versão (radical, talvez) dentre as muitas que o livro pode suscitar. Fundamentei-a na história do autor (o irmão morto na infância e os pequenos amigos de quem era tutor, já adulto) mas, principalmente, na sensação de melancolia e de impalpável que o personagem de Peter Pan me transmite.

Saindo agora de quem é ou não Peter, me dedico a uma elegia a J. M. Barrie. Há muito não me deparava com um autor tão brilhante! Ele navega com total segurança ao longo do texto, inserindo recursos narrativos deliciosamente criativos e usando a interferência do narrador com maestria. Além disso, cria uma história maravilhosa, que pode ser lida em camadas que vão desde o mais superficial conto infantil até um drama psicológico de dimensões trágicas. Barrie consegue um admirável equilíbrio entre o denso, o irônico e o lúdico. Para mim, é uma aula de boa literatura.

Mas é também um texto que exige fôlego do leitor que se propõe a ir fundo, pois cansa a alma. Na sua parte mais densa, Peter Pan é um texto difícil que deixa muitas perguntas sem resposta. E essas dúvidas fazem o leitor sofrer: Quem é Peter Pan e por que ele esquece? Quem é o capitão Gancho e por que o autor de forma não tão velada o admira? Wendy é feliz?


Pessoalmente, devo dizer que apenas uma coisa mudou desde a primeira vez que li Peter Pan, aos 9 anos de idade: hoje, posso dizer que é uma grande obra. Mas o livro ainda me incomoda, ainda me entristece, ainda me faz sofrer. Se, quando criança, a história trazia embutido o medo de não ser desejada por meus pais como Peter e a ansiosa vontade de ser adulta de Wendy; hoje, traz a tristeza que sinto, como mãe, de ver um menino carente, abandonado, precisando se refugiar na arrogância para não desmoronar e, também, a melancolia de uma Wendy que ainda acha que ser adulto é melhor do que ser criança, mas que hoje sabe, que toda escolha implica em perdas.



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