A Criação De Um Papel
(Constantin Stanislavski; Jeferson Gomes)
O PERÍODO DE ESTUDO O trabalho preparatório sobre um papel pode ser dividido em três grandes períodos: estudá-lo, estabelecer a vida do papel e dar-lhe forma. PRIMEIRO CONTATO COM O PAPEL Começa com as primeiras impressões da primeira leitura. As primeiras impressões têm um frescor virginal. São os melhores estímulos possíveis para o entusiasmo e o fervor artístico, duas condições de enorme importância no processo criador. Para registrar essas primeiras impressões, é preciso que os atores estejam com uma disposição de espírito receptiva, com um estado interior adequado. Precisam ter a concentração emocional sem a qual nenhum processo criador é possível. Temos que escolher o local e a hora. A ocasião deve ser acompanhada de certa cerimônia já que vamos convidar nossa alma para a euforia. Na linguagem do ator, conhecer é sinônimo de sentir, ele, na primeira leitura de uma peça, deve dar rédeas soltas às suas emoções criadoras. ANÁLISE O segundo passo, nesse grande período preparatório, é o processo de análise. Pela análise, o ator passa a conhecer melhor o seu papel. A palavra análise tem, geralmente, uma conotação de processo intelectual, mas em arte, qualquer análise intelectual empreendida por si só e como único objetivo, será prejudicial, pois suas qualidades matemáticas e secas tendem a esfriar o impuldo artístico e o entusiasmo criador. Se o resultado da análise erudita é o pensamento, o de uma análise artística é o sentimento. PROPÓSITOS CRIADORES DE UMA ANÁLISE 1- Estudo da obra 2- A procura do material espiritual ou de outro tipo na peça ou no processo criador 3- Auto-análise (sentimentos armazenados na memória afetiva do ator) 4- A preparação da alma do ator para a concepção de emoções inconsientes 5- A busca de estímulos criadores para a criação do papel PLANOS PARA SE TRABALHAR NUMA PEÇA E SEUS PAPÉIS a- O plano externo dos fatos b- O plano da situação social c- O plano literário d- O plano estético e- O palno psicológico f- O plano físico g- O palno dos sentimentos criadores pessoais OBJETIVOS CRIADORES O objetivo é o aguçador da criatividade, é a isca das nossas emoções. Esses objetivos podem ser raciocinados, conscientes, apontados pela nossa mente, ou então podem ser emocionais, incoscientes, surgindo espontâneos, intuitivamente. A PARTITURA DE UM PAPEL Descobrir os objetivos físicos e psicológicos que se formam no ator para a criação de sua partitura: 1- O que é que eu desejo nesse momento? 2- Qual é a primeira coisa que devo fazer? 3- O que devo fazer para que isso aconteça? Convém notar que nenhum dos objetivos da partitura, é profundo. Eles só podem afetar a periferia do corpo do ator, as manifestaçoes externas de sua vida psíquica, e só muito ligeiramente afetam seus sentimentos. O PERÍODO DA ENCARNAÇÃO FÍSICA A primeira preocupação do ator deve ser a de proteger o seu delicado aparelho facial e visual contra qualquer desgoverno da parte de seus músculos, dos olhos e da face, por meio de hábitos contrários, solidamente implantados, graças a exercícios sistemáticos.Depois de ser utilizado ao máximo possível os sutis meios de expressão dos olhos e do rosto, pode-se começar a fazer o uso da voz, dos sons, das palavras, das entonações e da fala. Na batalha do corpo contra os artificialismos e as tensões, convém que o ator se lembre de que nada se consegue com proibições. Não podemos proibir nosso corpo de certas coisas, mas podemos persuadi-lo a agir no rumo da expressão exterior dotada de beleza. Todo ator deve constantemente coligir material que o ajude a ampliar sua imaginação ao criar a aparência externa dos papéis. Jeferson Gomes
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