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Allegro Ma Non Troppo
(Carlo M.Cipolla)

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Uma das virtudes mais férteis perpetuadas pela humanidade, é a capacidade de se auto-ridicularizar. Compreenda-se que não se trata de uma atitude decadente, mas analgésica, permitindo ela, à medida que os extremos do passado e do futuro se tocam, paradoxais e amargos, que se ergam mais resistentes no presente as cápsulas de conforto em que tanto gostamos de viver. Que, como eu, se questionem, e não poucas vezes, sobre esta paródia ambígua, verdade é que muitos seres humanos questionam-se menos sobre os seus actos e comportamentos, e mesmo que adiante se erga um abismo, quer-se crer que existem razões concretas e fatais que nos impelem ao salto, ou (in)compreensivelmente, em odisseias lunáticas uns contra os outros. Eis, finalmente que este livro (publicado em 1988) abre espaço para o ressurgimento da letargia como escapatória à inquietude, e provocando-nos a gargalhada, esvanece este complexo que afinal pouco tem de instabilidade, mas mais de inocência. Com intuição divina e muita esgrima, as ?leis da estupidez humana? - plataforma impulsiva do autor, são desenvolvidas com recurso aos comportamentos observáveis, primeiro, e no seio deles em seguida, sabendo que dessa mélange advém o poder de colocar o leitor em ambos os lados da barricada, e não só ele, também os demais que o rodeiam. Carlo M. Cippola (1933-2000), professor de História da Economia em várias universidades italianas e por último em Berkeley, na Califórnia, começa o seu ensaio por penetrar na luxúria do império Romano e explicar os seus dramas de infertilidade. Com um pensamento raso e acutilante, rapidamente nos oferece a resposta, tão óbvia e transparente - o chumbo e a pimenta; castrador o primeiro e fosforosa a pimenta. Ela pois, digna do delírio e da possessão desenfreada desses imperadores que, sequiosos em demasia, vêem o império desmoronar-se em prol da sua demanda. Chegamos pois aos nossos dias, intrépidos, confusos. Biliões de seres humanos, todos diferentes nos pormenores, iguais na globalidade, senão vejamos: Cippola propõe-nos um exercício: imaginemos os nossos amigos, os nossos conhecidos ou mesmo as figuras públicas do país; observando-os, chegamos às categorias fundamentais das pessoas, classificadas em 4 quadrantes: os Estúpidos, os Crédulos, os Ladrões e os Inteligentes. Esta divisão, mais do que pela intuição resultante do perfume dos topónimos, surge com base nas acções: os primeiros (dignos de reflexão demorada e profundamente caracterizados na obra), na feitura de coisa alguma, não provocam qualquer benefício ou provocam mesmo graves malefícios para si, provocando sempre nefastas consequências para os outros - agravadas pelas circunstâncias imprevisíveis e impensáveis em que os seus actos ocorrem. Nos crédulos, o resultado das suas acções traduz-se sempre numa consequência positiva para os outros, mas em contrapartida, num mal para si mesmos. Por oposição, os Ladrões infligem mal aos outros, tirando daí partido para si e finalmente os Inteligentes, que fazendo bem a eles, fazem igualmente bem aos outros, em qualquer acção que protagonizem. A partir desta quadrilha, Cippola desenvolve considerações sobre o estado actual do mundo. Sou obrigado a concordar com ele, quando reflecte sobre a tendência dos seres Inteligentes e dos Ladrões em não atentarem nos Estúpidos porque os tomam como Crédulos e principalmente pela imprevisibilidade destes, que assim, sem adversários, sem contrariedades e sem decerto eles próprios se aperceberem, alcançam com naturalidade os lugares mais poderosos do mundo, levando-os em seguida à ruína. Apoiado nesta primeira ideia, chegamos às conclusões mais mirabolantes, mas muito óbvias, descritas nas 5 Leis Fundamentais da Estupidez Humana: 1. ?É perfeitamente inevitável e sucederá sempre que todos menosprezem o número de indivíduos estúpidos em circulação.? 2. ?Há uma enorme probabilidade da pessoa ser estúpida, independentemente de qualquer outra característica sua?.3. É a lei do comportamento atribuído aos Estúpidos. ?Os Estúpidos fazem mal a uma ou muitas pessoas, sem que isso se traduza num bem para si, traduzindo-se pelo contrário, muitas vezes, num mal?. 4. ?As pessoas estúpidas subestimam sempre as restantes pessoas estúpidas? (o que agrava substancialmente a consequência das acções destrutivas). 5. ?A pessoa estúpida é pois a pessoa mais perigosa de todas?. Não há nada a fazer. Todos estes clãs manterão números fixos de elementos, independentemente da natalidade/mortalidade mundial. Resta-nos pois a gargalhada, profunda e intensa, e o agradecimento. Esta lufada de ar fresco reflecte uma realidade que nos oferece aquele deslumbramento palpável que nos mobiliza para o futuro. Só através destas observações melodiosas dos comportamentos humanos, com maior ou menor alcance, pode o estado transparente da nossa condição revelar-se finalmente no horizonte.



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