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Comentário Crítico Da Obra Os Ratos De Dyonélio Machado
(Waleska Rodrigues)

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Comentários sobre a obra:Angústia. Esta é a palavra que perfaz todo o romance, contado por um narrador observador que oferece ao leitor, também, os pensamentos da personagem.Em uma entrevista concedida ao jornal Movimento (24/11/1975), Dyonélio Machado fala sobre a angústia, principalmente, infantil: ?Se nos prolongássemos às angústias infantis, não chegaríamos à idade adulta?; sendo assim, pode-se encontrar na infância um possível ?berço? das angústias, muitas vezes inexplicáveis, que se acometem nos adultos.O filósofo italiano Gianni Vattimo, autor do livro O fim da modernidade (editora Martins Fonte, 2000), ressalta um dos principais pensamentos de Heidegger sobre as reflexões existencialistas voltadas para o conhecimento, a consciência da liberdade do homem em poder fazer escolhas em que o limite será a ?morte vivida a cada dia?, chamada angústia. Sendo assim, o pressentimento, a angústia é uma espécie de ?morte dosada? do ser humano diante da sua ?coisificação?, imposta pela Modernidade (Capra, O ponto de mutação e Harvey, O fim da modernidade).Naziazeno, personagem principal do romance, enfrenta um dia inteiro, entre o medo e a angústia. O medo para Heidegger é sempre transitório e, quando fortificado por uma razão externa (no caso do romance, os ratos, a dívida) transforma-se em angústia e o referencial (a razão) se desvanece e fica o sentimento sufocante, inexplicável e profundo. No livro, o medo de não conseguir o dinheiro para saldar a dívida com o leiteiro se torna ?a morte vivida a cada dia, cada minuto? (angústia) e acesso ao nada. Por isso, Naziazeno, em certa altura do romance (diante de todas as suas tentativas fracassadas), não pensa mais, não discute mais, perde as esperanças. Para Freud, o pensamento obsessivo aparece como uma ligação do inconsciente a certas vontades, não satisfeitas, que levam ao estado de ansiedade ou angústia; o pensamento obsessivo de Naziazeno é a dívida. Em detrimento dela, e por ela, ele é capaz de se sacrificar: ficar sem almoço, pedir dinheiro para desconhecidos, não trabalhar, voltar tarde para casa, não dormir ? tornando o ato de saldar uma dívida em um ?calvário? (como se o empréstimo fosse a sua única salvação).Dyonélio Machado dedica o título da obra e dois capítulos aos ratos. Pelo menos aos olhos do convencional, os ratos (animais de hábitos noturnos que sobrevivem de restos de alimentos e vivem em lixos, sótãos, etc.) causam repugnância, medo, pavor, agonia, angústia, nojo e outros. Qual seria então a possível relação metafórica desse animal com Naziazeno ou com sua condição momentânea? Primeiramente, os ratos, normalmente, são animais indesejados em qualquer residência, ao contrário de gatos, cachorros, peixes ou pássaros, pode-se dizer, então, que os ratos vivem à margem da preferência humana, de uma sociedade. Naziazeno, personagem principal do livro, também vive à margem da sociedade, de uma sociedade que normalmente não abdica, por exemplo, do leite, da manteiga, do gelo (no caso particular de Naziazeno), do almoço (nem que esse seja simplesmente uma sopa com pão) de produtos ou condições essenciais para uma qualidade de vida. Esses animais são ?desprezíveis?, bem como Naziazeno no início da obra, no momento que nega a necessidade do leite para seu filho. E é também em favor de seu filho que Naziazeno procura saldar sua dívida.Os ratos, em certo momento da obra, perturbam o sono da personagem, prendem sua atenção, eles incomodam, parecem continuação do dia cansativo, parecem o inconsciente que procura nos detalhes dos barulhos algo para prolongar uma tarefa inacabada: Naziazeno ainda não pagou a dívida, sua vontade ainda não foi satisfeita; o subconsciente trabalha e não o deixa dormir, como se faltasse algum pedaço para juntar o quebra-cabeça. O pensamento obsessivo, a angústia, o inconsciente só param ou descansam com a chegada do leiteiro e a dívida aniquilada: um êxtase toma conta do corpo e da alma de Naziazeno que dorme, agora, tranqüilamente; o pensamento obsessivo passa, o medo passa, a angústia desaparece.O discurso indireto livre é um recurso, relativamente, recente. Surgiu com os romancistas inovadores do século XX e tem como característica o misto dos discursos direto e indireto. Outro item abordado pelo autor e que remete ao modernismo é o linguajar simples, coloquial, direto, não há ?rodeios? nem sentimentalismo exacerbado nas palavras ou pensamentos. A idéia da modernidade, a incorporação das ?conquistas? do progresso podem ser destacadas através da citação do ?bonde?, da ?fábrica?; elementos que também exemplificam coisas do cotidiano, bem como a descrição do café da manhã de Naziazeno, a dívida, o trabalho, as conversas banais em cafés são demonstrações de fatos ligados ao cotidiano e a realidade brasileira. Outra inovação modernista é relacionado ao tempo de ação: na obra de Dyonélio Machado toda a ação se passa em um dia, ?interminável? e exaustivo dia que o narrador-observador acompanha entremeando o pensamento de Naziazeno e suas atitudes.Conclui-se que Os Ratos possui uma complexidade de temas imperceptíveis em uma primeira leitura. Como se a obra fosse a mente humana: repleta de abismos escondidos em sorrisos e olhares superficiais, sendo necessário uma observação detalhada, com outros prismas, com um novo olhar.



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