Resumo de O Pensamento Mestiço

O historiador francês, americanista, paleógrafo e professor da disciplina ?História e civilizaçãodas Américas? na EHESS ? Ecole des Hautes Études en Sciences Sociales traz uma enorme contribuição para o entendimento de um período da história ainda pouco estudado, o da transição ocorrida nas Américas após sua colonização. Sua preocupação enquanto historiador é com o passado, mas com um passado que nos serve de chave de leitura para o presente. Mas o que viria a ser um pensamento mestiço? E mais propriamente, de que mestiçagem fala aqui Gruzinski? ?Éprincipalmente a mestiçagem cultural das práticas, amistura dos comportamentos, das crenças, dos imaginários, das idéias. Não é a mestiçagem biológica.Tentei compreender que a mestiçagem não é um fenômeno exótico próprio à América Latina ou à Ásia e África; hoje é um fenômeno generalizado. Tudo se mistura no planeta.?(Entrevista à Mônica Correa, site AliançaFrancesa, SP). Gruzinski também é primoroso quando nos mostra o quanto os clássicos ocidentais (gregos e latinos), que eram recémre-descobertos na Europa, rapidamente foram despeja dos no novo continente, seja em pequenos folhetos, livros adaptados à Moral da época ou os catecismos. Deste modo o poeta Ovídio e sua Metamorfoses - gênero literário que semelhante à fábula, que no pensamento mestiço tem importância sem igual na medida que serve como atraidor e possibilidade de romper com os limites do imaginário imposto pelas autoridades - é digerido quase na mesma época na Europa e na América setentrional. Ainda no primeiro século após a conquista não era incomum encontrarmos índios que dominassem a língua latina,chegando a ponto de nela escreverem com exatidão, o que chamava aatenção de muitos dos poderosos da época. Assim,essa era a situação pós colonização,uma profusão de culturas, provindas de todos os lados.Atravésde grande erudição, Serge Gruzinski nos guia rumo a ummelhor entendimento deste fenômeno. Fenômeno que é,ao mesmo tempo, fruto de forças antagônicas à colonização, uma resistência por manter epreservar a antiga identidade, ou ao menos parte de sua história,e por outro lado, o próprio movimento de manutençãoe assimilação da nova cultura nos parâmetros ocidentalizados. A partir do descobrimento é possívelse verificar uma indianização dos parâmetros artísticos da Europa. Tal fenômeno é mais esparso e pouco visível para nós agora no início doséculo XXI, mas certamente possível de se verificar ao adentrar-se nas pinturas e museus da época renascentista.O livro Pensamento Mestiço, não deixa, portanto, de nos?enfeitiçar? e nos faz pensar o quanto a mestiçagem e hibridação é um fenômeno tão antigo quanto a humanidade em sociedades. E claro, o quanto isso ocorrem em nosso território. Nossa cultura é mestiça, afirma no início do livro quando retrata belamente sua passagem pelo território nacional. Então fica para nósa pergunta: como nos constituímos no que somos hoje? Que traços culturais diversos foram mestiçados? Como utilizar desta característica no contexto escolar e educacional como chave de leitura para o entendimento dos confrontose fusões reconhecidos? Por fim, deixamos um delicioso convite que o historiador nos faz ainda no início de sua obra:?Se a Amazônia tem uma velha história, foi só bem recentemente que oshistoriadores e os arqueólogos começaram a exuma-la edescreve-la. <...> Mas não é o silêncio dos arquivos que explica, até data recente, as lacunas ou falhas das pesquisas, mas uma tendência a esquecer a históriade certas regiões do globo, ou a lhe conferir apenas uma parcela desprezível no destino dessas regiões.Ocultando a história, somos privados de uma profundidadeessencial e ignoramos os efeitos da colonizaçãoocidental em todas essas paragens e, por conseguinte, as reações que aí se desencadearam?. (p.35)

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