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Do Golpe Ao Planalto
(Luciano;Martins;Costa)

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Do Golpe ao Planalto

Resenha




Ricardo Kotscho é um jornalista raro. No atual cenário da imprensa brasileira,
é praticamente exemplar único: daquele tipo de jornalista que é
essencialmente repórter, contador de histórias, mesmo que se torne dono de
jornal ou assessor de imprensa. Em ?Do Golpe ao Planalto?, que lança nesta
semana pela Companhia das Letras (Editora Schwarcz Ltda.), Kotscho relata
sua trajetória memorável da Gazeta Santamarense, jornal de bairro da zona
Sul de São Paulo, Brasil, até o Palácio do Planalto, onde até recentemente
assessorava o presidente Lula da Silva.

Seus 40 anos de jornalismo, descritos no estilo de reportagem direta,
pessoal, envolvente e engajada com que sempre marcou seus trabalhos, nos
dão conta do abismo em que a imprensa foi mergulhada depois que as
redações foram ocupadas por burocratas. As escolhas que fez, no entanto,
também nos remetem a antigas discussões sobre limites da profissão:
Kotscho tem sido há quase trinta anos, e faz questão de afirmar, jornalista e
militante político. Sua longa relação com Lula da Silva, de quem se aproximou
como repórter, durante a greve dos metalúrgicos em 1978, e de quem se
tornou amigo e correligionário, e a quem acompanhou desde a primeira
campanha eleitoral até a Presidência da República, marcam claramente sua
carreira mas não parecem ter limitado suas escolhas como jornalista.

A reportagem de Kotscho sobre sua própria vida abre algumas janelas para
que o leitor possa entender melhor certos protagonistas e alguns fatos de
nossa história recente. Sua descrição detalhada e cuidadosa de alguns
episódios cotidianos do jornal O Estado de São Paulo, por exemplo, revela
que o verdadeiro estadista do tradicional matutino paulista era Júlio de
Mesquita Neto, e que seu irmão, Ruy Mesquita, era quase sempre o freio nas
ousadias do jornal contra a ditadura. Um bilhete de Ruy Mesquita, encontrado
por Kotscho entre seus guardados e reproduzido no livro, diz o seguinte:
?Toda esta matéria contém denúncias que, se não forem comprovadas,
podem ser simplesmente desmentidas e causar até procedimentos legais?. A
matéria que o então diretor-responsável do Jornal da Tarde queria manter
inédia era a imensa investigação, conduzida por Kotscho, sobre as
mordomias no governo militar brasileiro em 1976. Contrariando o irmão,
Júlio Neto autorizou a publicação, que valeu ao "Estado" o Prêmio Esso de
Jornalismo.

O autor não consegue evitar certa nostalgia, ao se referir a tempos em que a
reportagem era a matéria-prima do jornalismo, e sua elegância não consegue
esconder os nomes de alguns dos responsáveis pelas transformações que
retiraram da imprensa sua alma. Da mesma forma elegante, Kotscho nos
revela as dificuldades de conviver com jornalistas tão apaixonados quanto
irascíveis. O quase lendário Mino Carta passa por vários capítulos, descrito
ora como o eterno perseguidor do puro jornalismo, ora pintado como o
tirano que transforma em inferno a vida de seus colaboradores. Em tudo,
porém, Kotscho deixa escorrer um texto tão claramente honesto, que chega a
parecer cândido.

?Do Golpe ao Planalto? também nos ajuda a entender por que razão a atual
agenda política, que há quase quatro anos determina as primeiras páginas
dos jornais e revistas e as manchetes dos telejornais, é tão pobre e
maniqueísta. Kotscho relata como testemunha, por exemplo, que enquanto
uma parte do PSDB costurava uma aliança com Lula, para lançar como
candidato a vice-presidente em 1994 o ex-governador cearense Tasso
Jereissati, o então ministro Fernando Henrique Cardoso negociava sua própria
candidatura a presidente com apoio do conservador PFL.

Foi assim, no relato do repórter, que Fernando Henrique Cardoso saiu da
chancelaria do governo Itamar Franco para um projeto de poder que ganhou
o apoio unânime da mídia e o levou ao Planalto por dois mandatos. Em
consequência, quebrou-se no PSDBo equilíbrio que mantinha em ascensão
uma geração de líderes de variadas origens, centrando o poder no tucanato
paulista, ao mesmo tempo em que se consolidava no PT o grupo que se
opusera a um acordo com o governo Itamar e que estaria, na década
seguinte, no meio do escândalo que quase levou ao fim precoce o governo
Lula.

Tudo contado com detalhes das reportagens que faziam a delícia dos leitores
de jornais em tempos passados, também é dado a conhecer como o ex-
ministro Tancredo Neves traiu o então deputado Ulisses Guimarães em sua
cruzada pela volta das eleições diretas, negociando sua própria eleição pelo
sistema indireto em troca da derrota da emenda constitucional que marcaria
a redemocratização do país.

Kotscho sempre foi um repórter detalhista, daqueles que encostam no
carrinho do pipoqueiro e descobrem os hábitos da vizinhança. Não faltam em
seu livro episódios cuja descoberta se deu assim, mesmo, num carrinho de
pipoca ou numa bodega. De seus primeiros textos num jornal de bairro,
passando pelos grandes diários do país e por algumas experiências na
televisão, que ele considera desastrosas, Kotscho agrega às qualidades de
repórter uma característica humana que seus amigos conhecem bem ? e que,
de certa forma, parece andar na contra-mão do talento: a humildade. Depois
de passar pelas mais de trezentas páginas em que ele faz o testemunho dos
fatos mais relevantes que marcaram o mundo nestes quarenta anos, o leitor
fica com a sensação de que o autor acha pouco.



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