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Egocentricidade E Mística
(Ernest Tugenhat)

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Filosofia em primeira pessoa



O último livro de Ernest Tugenhat Egocentricidade e Mística é um livro de maturidade, que serve de porta de entrada não apenas ao seu pensamento, como também a um vasto conjunto de problemas relevantes da filosofia contemporânea e questões espirituais de nosso tempo.

O livro é, basicamente, dividido em três grandes partes. As duas primeiras distinguem-se em virtude de seus conteúdos e de suas abordagens metodológicas, a terceira é uma curta observação metodológica. Na primeira parte, Tugenhat trata de uma série heterogênea de questões, todas, entretanto, referem-se à problemática da primeira pessoa. Já a segunda parte trata da mística e, secundariamente do assombro (aquilo que, segundo Platão e Aristóteles é o começo de toda a filosofia). Essa aparente unidade em torno de dois grandes temas, a perspectiva da primeira pessoa, ou como apresenta o título: egocentricidade; e a mística, compreendida como um distanciar-se de si mesmo; não devem induzir o leitor a achar uma unidade de autores ou de tradições. Ao contrário, o primeiro grande impacto que o livro produz é quanto à imensa diversidade de autores e temas relacionados que o autor explora com elegância e simplicidade desconcertantes.

A primeira parte inicia com a apresentação do estado das artes da filosofia de cunho analítico, tratando com expoentes como Burge e Schoemacker. A idéia é localizar o referente do pronome eu, tanto em suas implicações teóricas, quanto (e sobretudo) em suas implicações práticas. Quem sou eu que digo "eu"? Eu é uma parte de mim diferente de meu cérebro? Distinto dos animais, penso eu como alguém que terá um futuro. Às perguntas teóricas de fundamentação epistêmica, semântica e, por assim ontológicas, seguem-se perguntas de caráter prático sobre os limites da perspectiva da primeira pessoa e sobre as condições de imputação de responsabilidade moral do agente. O que depende, primariamente, de mim? Posso me esquivar de ser responsabilizado moralmente?Tais perguntas levam Tugenhat a investigar a possibilidade de uma teleologia, como horizonte de ação e de sentido dos que dizem "eu", diferentemente dos outros animais que não dizem eu, nem se vêem como agentes de possíveis ações boas ou más.

A possibilidade de uma teleologia encontra-se sob condições restritivas de caráter metodológico: i) a perspectiva da primeira pessoa não deve ser abandonada em nome de uma ordem superior, que deveria ser considerada como uma perspectiva de terceira pessoa. Um Deus que me dá ordens e profere mandamentos é uma terceira pessoa e portanto, do ponto de vista metodológico, um recurso teleológico inválido; ii) apenas um distanciar-se de si mesmo, sem abandonar a perspectiva da primeira pessoa, mas enxergando o seu "ciclo de vida" permite compreender as motivações últimas do agir humano.

A segunda parte do livro dedicada à mística tem como ponto de partida o distanciar-se de si mesmo. A mística deve ser distinguida da religião, pois enquanto a primeira é um distanciar-se da primeira pessoa em relação a ela mesma, a segunda implica em assumir uma perspectiva de terceira pessoa. Cruamente Tugenhat descarta a religião como preocupação filosófica pois ela é o desejo humano na boca de um Deus. Assim, somente a mística é digna de nota e de reflexão àqueles que desejam fazer filosofia em primeira pessoa.

A investigação sobre a mística é impressionante. Tugenhat une não apenas as reflexões sobre a mística no Ocidente, mas as contrapõem à reflexão mística no Oriente, especialmente a Ioga, o Budismo e o Taoísmo. Ao analisá-las o filósofo distingue entre as tradições de negação do mundo, comoo Budismo, de tradições que buscam a "boa vida" dentro das condições de possibilidade desse mundo, como o Taoísmo e o Budismo Mahayana. A fórmula para a boa vida deve ser procurada como paz espiritual, na medida em que aquele que diz "eu" não poderá se distanciar radicalmente de si mesmo a ponto de buscar a renúncia tanto da dor quanto dos prazeres desse mundo. A melhor alternativa mística, por ser a mais consistente, Tugenhat encontra no ideal do bodisatva.

Finalmente, na terceira parte de seu livro, ao tecer considerações metodológicas sobre as duas partes anteriores, Tugenhat se pergunta se é lícito adotar uma postura ahistórica ao tratar do "eu" à maneira da filosofia analítica, ou, como na segunda parte do seu livro, buscar uma contextualização histórica de culturas tão díspares como a tradição judaico-cristã em relação às filosofias místicas da Índia e da China.

Tugenhat nega a dicotomia entre os conceitos históricos e ahistóricos ao afirmar que ambas as perspectivas são falsas quando se colocam na perspectiva da terceira pessoa e apenas ao nos colocarmos na perspectiva da primeira pessoa que podemos verdadeiramente compreender o significado dos problemas filosóficos. É lícito proceder metodologicamente tanto num caso (ahistórico), quanto no outro (histórico) a partir da perspectiva da primeira pessoa, pois o que realmente importa na atitude filosófica é saber se o que está sendo dito, assumido da perspectiva da primeira pessoa, é verdadeiro e, em caso afirmativo, sob quais razões estamos justificados a afirmar o verdadeiro.



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