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Encarcerado
(Indisponível)

eu nunca pensei que isso um dia fosse acontecer

não desejava fazer minha mulher sofrer

só que o futuro a deus pertence e eu substimei

minha mão falava eu não ouvia mas agora eu sei

eu era novo gostava de jogar bola

soltava pipa não gostava de ir pra escola

pura inocência brincava na chuva

a minha mãe chegava me batia de cinto na rua

era desse jeito quando eu era pequeno

muito levado sempre correndo

o movimento que rolava atrás da quadra

chamava minha atenção

e dos moleques lá dá minha área

eu perguntava o que era naquele saco pequeno

minha coroa dizia que aquilo era veneno

a curiosidade me levou pra perto

me envolvi mesmo sabendo que não era correto

nessas horas não se pode contar com ninguém

destruição por aqui é o que mais tem

o primeiro baseado na mão

tremia tossia fumaça indo pro pulmão

ficava rindo a toa com os olhos vermelhos

a minha velha quando viu entrou em desespero

não acreditava que um garoto tão puro

pudesse ser mais um cliente da boca de fumo

nem eu acreditei mas virou rotina

todo dia um baseado pra entrar no clima

dezoito anos não queria me alistar

me apresentei rezando torcendo pra sobrar

não sei se bem ou mau

mas atenderam meu pedido

aos olhos da policia era mais um bandido

toda noite que eu não dormia em casa

minha coroa preocupada ajoelhava e rezava

pedindo a deus pra que eu chegasse bem

que na madrugada

eu não me envolvesse com ninguém

foi numa dessas noites que conheci uma dama branca

não quis que eu a levasse pra cama

na primeira vez não acreditei no que eu fiz

peguei estiquei meti o nariz

essa porra dessa droga me deixou pra cima

maldita hora que eu me envolvi com a cocaína

pancada com os olhos esbugalhados

minha boca tava torta tava sempre assustado

quanto mais eu via mais eu queria

cocaína minha companheira de todo dia

viciado tinha que me sustentar

cheio de maldade não queria trabalhar

quando a onda passa eu tava na pior

me envolvi com um tal de beto

que virou o meu parceiro de pó

o baseado era como um copo d'água

não fazia mas efeito sem o pó eu me descontrolava

discuti com minha mãe bati na minha mina

tava nervoso não tinha cocaína

oito da noite o beto foi lá em casa

com dois oitão pra gente meter uma parada

uma caixanga que tava na fita

só tinha a porra de um cachorro

e uma coroa que era rica

descemos a favela cada um com um oitão

direto pro asfalto eu nervoso o beto não

chegamos na parada rua sossegada

tirei do saco a carne envenenada

joguei pro cachorro que caiu de boca

um minuto depois ele ja tva n'outra

deixou caminho livre pra gente invadir

eu não via logo a hora de sair dali

entramos na caixanga a velha tava assustada

eu tremendo com o ferro bem na sua cara

avisei pra ficar quieta que não aconteceria nada

o beto desesperado limpando a casa

a coroa amarrada em uma cadeia

eu era criminoso tremenda quinta-feira

jóias dinheiro o que deu pra trazer

voltar pro morro e dividir é o que vamos fazer

mal dividimos o dinheiro direto pra boca

fiquei pancado cheirei a noite toda

eu tava magro abatido olho fundo

barba pra fazer estava me sentindo imundo

até o tom da voz da minha mão me incomodava

qualquer barulho que eu ouvia já me assustava

perdi a minha compostura querendo cocaína

cheirei até o vídeo que deu pra minha mina

no meio das trevas uma luz apareceu

a mina tava esperando um filho meu

daqui um tempo esse moleque vai nascer

o que será que ele vai ser quando ele crescer

freqüentar pagode curtir baile funk

cheirar a noite toda como nariz cheio de sangue

não é isso que eu quero pro meu filho

mas como exigir se eu também sai dos trilhos

maconha revólver álcool cocaína

hoje em dia fazem parte da minha vida minha cina

o terror da sociedade racista

eu sou a própria imagem da cadeira do dentista

daqui a pouco vou me encontrar com beto

vamos articular uma parada vamos dar uns tecos

o dinheiro acabou a maldade pintou

lembrei daquele assalto que ainda não babou

mais uma vez rumo ao asfalto

o primeiro que marcar ferro na cara mãos ao alto

logo de cara parado no sinal

playboy de kavazak ninja rabo de cavalo e tal

celular ouro no pescoço

é chegar enquadrar e deixar o boy no osso

olhei pro beto meti a mão no ferro

eu tava confiante o outro assalto tinha dado certo

beto chegou enquadrou botou de cão

eu fiquei mais atrás só na contensão

uma coronhada o boy caiu deitado

o beto já na moto pronto pra sair vazado

só que na empolgação ninguém revistou o cara

que meteu a mão arrastou uma pt prateada

largou o dedo nas costas do beto

o cara era cana e o sinal já tava aberto

vários e vários tiros em minha direção

era os "home" tremi na base não usei o meu oitão

levei um tiro na perna e outro na barriga

joguei o ferro no chão pra não perder minha vida

tratado como bicho baleado

chute na costela meu parceiro taba todo furado

foi torturado cuspiram na minha cara

perdi o meu oitão e me encheram de porrada

o presídio agora é minha casa

aqui dentro minha vida já não vale nada

a monotonia daqui me irrita

de vez em quando a dama de branco me visita

junto com minha mulher e minha coroa

que quando chega não agüenta chora a toa

eu já tô morto só não fui enterrado

não tenho mais futuro está tudo acabado

terminei na cadeia comecei no baseado

perdi a liberdade hoje estou encarcerado










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