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Sonhei Com O Céu
(Eduardo e Dum-Dum)

Hoje o ar que cheira á sangue amanheceu diferente;

Não me parece um dia comum, de tiro, velório, felizmente;

Eu não ouvi os boatos da noite que passou;

Será que ninguém morreu, ninguém matou, ninguém matou;

Olha o caderno na mão, tem uma tático ali;

Tem segurança pras crianças indo pra escola;

Estudar é tão bom quanto á morte não estar aqui;

Cadê o mano que trafica perto do portão;

Cadê o copo de água mineral;

O vestígio das pedras nesse horário sempre tem, só que hoje não;

Caranga cinza fico com medo, será que algo vai acontecer;

No abaixar dos vidros eu já imagino os tiros;

Eu tenho quase certeza que alguém irá morrer;

Será que é outro enquadro ou só outro cadáver;

Qual que é desses canalhas, por incrível que pareça vieram em paz;

Não apertaram o gatilho, não terminou na bala;

Essa foi de três pontos e da outro lado que golaço;

Quadra lotada, esporte na mente, caixão adiado;

A oficina do diabo está ocupada;

Nos deram boa escola, um centro recreativo;

Conjuntos habitacionais, a nossa gente é sempre lembrada;

Parabéns brasil pela campanha contra o álcool, aids, contra as drogas;

Recuperação em massa do fundo do posso agora tem sua cota;

Não tem ninguém algemado, a pt está descarregada;

Tem rango digno no prato, olha o sorriso da tia que passa;

A sacola é pesada, o suor escorre pela cara;

Mas o semblante é feliz de quem venceu pelo menos hoje;

De quem levou comida pra casa;

Não tem ninguém de roupa imundo e feridas no corpo passando fome;

Não tem ninguém desempregado metendo os canos;

Não tem ninguém derrubando ninguém;

Nem a de vinte que passou pro iml não mandou ninguém;

Pagode, discurso, cerveja na mesa;

Descontração por alguns minutos;

Cenário de sangue na batida do pandeiro, treta, caixão, defunto;

Infelizmente pro demônio hoje não tem velório;

O anjo protetor nos protegeu;

Nos livrou do atestado de óbito;

Nenhuma pedra foi derretida;

Nenhuma grama de cocaína foi consumida;

Aqui se valoriza a vida, se incentiva;

Existe sempre um caminho ou uma alternativa;

Que cheiro de carniça vem lá da esquina, deve ter defunto;

Ouço o som da sirene, não tenho dúvida;

Mais um fulano no túmulo;

Até parece que deus está por aqui;

Não tem finado nenhum, incomum, sem crack, sem polícia;

Não é preciso fugir;

E de repente um barulho de despertados me acordou;

Infelizmente tudo o que eu vi;

Não passou de um sonho que passou;

Estou de volta ao inferno;

Ao enterro, polícia, crack, tiro, papel;

Fechei os olhos e sonhei com a paz;

Fechei os olhos e sonhei com o céu.



Fechei os olhos e sonhei com o céu;

Do inferno eu vi a paz;

O sangue lá não escorre pelo chão;

Não existe cadáver, não se enterra caixão;

Sonhei com o céu, sonhei com o céu;

Sonhei com o céu.



Tem um corpo se decompondo ali no meio do mato;

Entre mosquitos e sangue um pequeno finado;

Daqui á pouco cola a mãe e os familiares;

Tem uma vela, algumas piadas, alguns populares;

As lágrimas demonstram o universo contraditório;

Muita tristeza para uns, pra outros alegria, é velório;

Esse corpo vem da casa de madeira ou papelão;

Com luz roubada, sem conforto, segurança, sem opção;

Esse corpo vem da mesa que sempre tem comida quase de cachorro;

Que sempre tem migalhas tem tristezas;

É outro filho de uma mãe que teve cinco, seis, sete filhos;

Que criou alguns no cemitério e outros no presídio;

Foi outro mano que sonhou com roupas caras, boas, um tênis importado;

Ambição insignificante pro mundo, pra polícia motivo pra ser fuzilado;

Um outro enterro onde se chora em dobro;

A morte do fulano, aquela merda onde está o corpo;

Sem flores um indigente irreconhecível que se vai;

Sem valor, sem orgulho, só a dor da mãe e do pai;

Infelizmente é a morte, padrão dos pobres;

Anoiteceu bum, de qualquer meio do mato;

Qualquer quebrada o sangue escorre;

Quantos de nós sentiremos o inferno na pele;

Um corpo com jornal, indigente no iml;

Uma sepultura abandonada;

Que nunca recebeu sequer uma flor;

Que nunca recebeu uma visita;

Um oração, um gesto de amor;

Quando não se sonha paz se torna impossível;

Viver no nosso mundo é foda, é suicídio;

Um outro homicídio em questão de horas;

Uma tático que passa é outra mãe que chora;

Das profundezas do inferno quero sonhar com a paz;

Esquecer toda essa porra de polícia, homicídio, droga;

Fechar os olhos e sonhar com o céu;

Fechar os olhos e esquecer que a esperança já está morta;

Sonhei com o céu.



(2x) fechei os olhos e sonhei com o céu;

Do inferno eu vi a paz;

O sangue lá não escorre pelo chão;

Não existe cadáver, não se enterra caixão;

Sonhei com o céu, sonhei com o céu;

Sonhei com o céu.










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