"Artur da Távola tinha uma lanterna existencial", diz viúva
Mirian Ripper Nogueira Lobo, viúva de Artur da Távola, afirmou, em discurso durante a sessão de homenagem ao jornalista e ex-senador falecido no mês passado, que Paulo Alberto - seu nome de batismo - parecia ter "uma lanterna existencial que iluminava e tornava transparentes pontos por vezes obscuros, não compreendidos ou não detectados pelas pessoas em geral".
- Paulo Alberto sabia traduzir como poucos, de maneira refinada e culta, o que pensávamos e sentíamos, mas não conseguíamos expressar. Pelo menos, não de forma tão bela - disse Mirian Ripper.
Com suas crônicas, Arthur da Távola, cujo verdadeiro nome era Paulo Alberto Moretzsonh Monteiro de Barros, ajudou a muitos, elevou espíritos e promoveu sempre o melhor de cada um, destacou ainda a viúva.
- Seu espírito conciliador, observador, o analista inteligente, junto com sua natureza generosa e com sua alma elegante, também ajudaram. Era assim na política, na vida pessoal e na família - testemunhou Mirian Ripper.
Ela lembrou que Paulo Alberto era, por vezes, paciente demais, ingênuo demais, o que fazia até com que se decepcionasse adiante. Porém, não mudava e continuava sempre vendo o lado bom de cada um. Não guardava rancor.
- Paulo Alberto dizia que Deus o poupou do sentimento do ódio. Era, entretanto, um homem de luta. Afirmava: 'Não sou de briga, mas sou de luta'. Perseverou em suas idéias e conseguiu muito do que procurou realizar. E, ao final da política, dizia feliz: 'Não vendi minha alma ao diabo: dei minha contribuição ao país' - rememorou a viúva.
Na opinião de Mirian Ripper, Artur da Távola era "um homem poli", com múltiplos interesses: política, literatura, música, esporte, rádio e televisão, entre outros.
- Creio, porém, que o que ficou para todos é que, no seu ecletismo, ele fazia tudo bem, de forma talentosa, honrada e digna. Ele gostava de perguntar: "Quem sou eu?". Eu dizia: além das qualidades e alguns defeitos que todos proclamam, eu acrescentaria: Você é um sedutor. Não no sentido corriqueiro ou menor da palavra, mas com a sua inteligência, percepção aguda da alma humana, simplicidade, sempre com a palavra certa para dirigir-se ao outro, a todos encantava: jovens, adultos, mulheres, homens, crianças ou idosos.
Para encerrar a sessão, Eduardo Monteiro de Barros, filho de Artur da Távola, leu um soneto do pai sobre a morte - o Soneto da Sabedoria:
Saudade é lúcida
Ensina verdades boas.
Perda é arguta
Ajuda a julgar.
Morte é glória
Ensina o sido, sendo.
(Dava tudo para descobrir o que sou
Vendo-me visto depois da morte.)
As pessoas se separam
Para antever a vida
O que delas será dito depois.
O morto ajuda a percepção
O vivo embota a clareza.
Morrer é esclarecer.10/06/2008
Agência Senado
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