Comunidade científica elogia parecer de Lando a projeto de defesa da língua portuguesa



O substitutivo do senador Amir Lando (PMDB-RO) ao projeto do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) que trata da promoção, proteção, defesa e uso da língua portuguesa atende às principais expectativas da comunidade científica no que diz respeito ao aperfeiçoamento do texto original. A avaliação foi apresentada nesta quarta-feira (4), em audiência pública promovida pela Comissão de Educação (CE) sobre a matéria. O substitutivo prevê que toda palavra ou expressão escrita em língua estrangeira destinada ao conhecimento público virá acompanhada do termo correspondente em português.

Participaram da audiência três lingüistas, um acadêmico e uma representante dos usuários da língua portuguesa. O professor Evanildo Cavalcante Bechara, da Academia Brasileira de Letras (ABL), afirmou que no substitutivo foram desbastados os excessos, as arestas e os desvios em relação à vida da linguagem e das línguas. Bechara elogiou a luta do projeto e do substitutivo em relação a -empréstimos que vêm pôr de lado expressões vernáculas em favor de expressões estrangeiras-.

- Por que usarmos coffee break se temos o termo tradicional veiculado na língua? O presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Lingüística (Anpoll), professor José Niraldo de Farias, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), observou que o projeto original tinha aspectos excessivamente restritivos e registrou que o escritor Machado de Assis criticava a atitude purista e nunca deixou de usar palavras estrangeiras em suas obras.

Já o presidente da Associação de Lingüística Aplicada do Brasil (Alab), professor Pedro Garcez, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), citou pesquisa realizada pela professora Ieda Maria Alves, da Universidade de São Paulo (USP), que constatou que apenas 17% dos neologismos utilizados pelos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de São Paulo e pelas revistas Isto É e Veja eram estrangeirismo:

- A grande maioria de termos novos são construções novas da língua portuguesa, o que mostra que ela está bastante nova e bastante bem - acentuou Garcez.

Presidente da Associação Brasileira de Lingüística (Abralin), Maria Cecília de Magalhães Mollica propôs que o texto de Lando reconheça a totalidade do patrimônio lingüístico do Brasil, com as variedades indígenas, dos remanescentes das comunidades africanas, dos descendentes de imigrantes, além da língua brasileira de sinais.

A professora Rosilma Roldan, do Movimento Nacional em Defesa da Língua Portuguesa (MNDLP), apresentou-se como a voz do usuário da língua portuguesa. Ela defendeu o acesso do cidadão a um ensino de qualidade e a importância de que as associações representativas dos lingüistas, escritores e usuários participem da estrutura governamental para a formulação de uma política lingüística para o Brasil.

Durante o debate, Lando destacou que o substitutivo atende a uma necessidade de defesa da língua portuguesa e possibilita que a língua -não se esterilize, não se engesse, e continue a produzir a sua construção própria-. O senador Lindberg Cury (PFL-DF) disse que -o português está perdendo a qualidade-, enquanto o senador Romeu Tuma (PFL-SP) declarou que o projeto de Rebelo -trouxe à baila a discussão de tão importante assunto num momento de crise do ensino-. Já o senador Geraldo Cândido (PT-RJ) condenou o uso de expressões em inglês. Autora do requerimento para a audiência, a senadora Emilia Fernandes (PT-RS) disse que a reunião, presidida pelo senador Moreira Mendes (PFL-RO) contribuiu para a discussão interna do tema e para dar visibilidade à questão.




04/12/2002

Agência Senado


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