DEPOIMENTO DE DEPUTADO SUSCITA DEBATE SOBRE ELABORAÇÃO DO ORÇAMENTO



O depoimento do deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA) à Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga irregularidades no Poder Judiciário levou os membros da CPI a realizarem um debate sobre as normas de elaboração do Orçamento da União. Em sua exposição, Queiroz, há oito anos membro da Comissão Mista de Orçamento (CMO), listou dados referentes a diversas obras públicas com indícios de superfaturamento (veja quadro), incluindo o prédio das Juntas de Conciliação e Julgamento do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo e a sede do Tribunal Regional do Trabalho de Rondônia.Em resposta ao senador Amir Lando (PMDB-RO), o deputado afirmou que, para se chegar aos culpados pelas irregularidades, deve ser apurada toda uma cadeia, que vai desde a inclusão de verbas no orçamento até a aprovação e liberação de recursos, onde as fraudes e desvios de recursos públicos acontecem.Nesse sentido, o senador Djalma Bessa (PFL-BA) considerou um "absurdo que precisa ser extinto" o fato de o Congresso Nacional aprovar o Orçamento, acreditando em dados calculados de maneira "escandalosa". Para ele, a fraude começa no cálculo e na inclusão de obras superfaturadas no Orçamento.Essa também foi a observação feita pelo senador Jefferson Péres (PDT-AM), para quem o Congresso Nacional falha na elaboração de uma metodologia para elaboração do Orçamento. Na sua avaliação, o acompanhamento da execução orçamentária pela Comissão de Fiscalização e Controle (CFC) também deveria ser melhor exercida.- Chegamos à conclusão de que não há critério - disse.Diante das informações prestadas pelo depoente, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) afirmou que os parlamentares são co-responsáveis pela inclusão, no Orçamento, de verbas destinadas a obras superfaturadas. Ele disse que na CPI do Orçamento, em 1993, foi constatada a atuação "ridícula" do Congresso Nacional na elaboração do Orçamento.- O escândalo nesse país é a maneira de se fazer o Orçamento - declarou Simon, que defendeu a constituição de uma comissão especial mista para estudar normas para elaboração do Orçamento.O presidente da CPI, senador Ramez Tebet (PMDB-MS), relator do Orçamento de 1999, uniu-se a Simon e concordou em que os congressistas também são responsáveis pela situação, quando não fazem nada para mudá-la.Para o senador Lúdio Coelho (PSDB-MS), o depoimento do deputado deixou clara a má atuação do poder público na liberação de verbas para obras. Ele disse que o prédio do Judiciário, para ser construído, teve que passar pelo Executivo e pelo Legislativo. "Devemos estudar mecanismos para que isso não mais aconteça", reclamou.A solução para a correção dos problemas detectados, pode estar, segundo o senador José Agripino (PFL-RN), na adoção de um cadastro nacional de preços para realização de obras públicas, com a participação do Executivo, do Legislativo e de entidades da sociedade civil, como o Sindicato das Indústrias de Construção Civil (Sinduscon).- Esse pode ser um subproduto da CPI. Com essa medida, a corrupção no serviço público estaria sendo cortada pela raiz e ainda estaríamos combatendo o déficit público - avaliou Agripino.Último a falar, o senador Geraldo Althoff (PFL-SC) registrou que essa foi a reunião mais importante da CPI até o momento e disse que a oportunidade que os parlamentares têm nas mãos não pode ser desperdiçada.O autor do requerimento para instalação da CPI, senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), afirmou estar cada dia mais satisfeito com a atuação da CPI. Em resposta a Althoff, Antonio Carlos garantiu que a oportunidade não vai ser perdida.- Essa é uma grande oportunidade para o Congresso Nacional se afirmar e oferecermos ao povo brasileiro providências efetivas - disse o senador baiano, que estimulou o presidente da CPI a manter o ritmo de trabalhos para que o Senado possa oferecer uma contribuição à Justica do país.Amir Lando pediu ainda a o deputado sugestões de como a CPI deve buscar as responsabilidades dos atos delinqüentes que estão sendo apurados, como o superfaturamento de obras.- O superfaturamento não beneficia somente a empreiteira. Alguém mais deve estar se locupletando dessas diferenças - respondeu o deputado, para quem a quebra do sigilo bancário dos investigados, já procedida pela CPI, é um dos caminhos a ser trilhado.Ao relator da CPI, senador Paulo Souto (PFL-BA), o Giovanni Queiroz disse que, mesmo depois de ter denunciado ao Ministério Público Federal irregularidades nas obras do TRT paulista, a CMO aprovou aditivo financeiro de mais de R$ 30 milhões para a construção do prédio das Juntas de Conciliação e Julgamento do Tribunal.O vice-presidente da CPI, senador Carlos Wilson (PSDB-PE) pediu a Queiroz que envie documentos sobre as principais obras em que haveria irregularidades e que não estariam cumprindo seu objetivo.

29/04/1999

Agência Senado


Artigos Relacionados


Debate sobre Orçamento deveria tratar de receitas e despesas financeiras e também do Banco Central, diz ex-deputado

Processo de elaboração do Orçamento é analisado em debate promovido pela CMA

Veto ao projeto que alterava o Cadin suscita debate em plenário

Medida provisória que trata da gestão em entidades esportivas suscita debate entre senadores

Deputado José Pimentel lê parecer da CMO sobre projeto de lei do orçamento

Deputado Leréia pede para adiar depoimento à CPI do Cachoeira