Entrevista com o Chefe da Delegação brasileira na COP11, Embaixador André Correa do Lago



O chefe da delegação brasileira na Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU, o embaixador André Corrêa do Lago, fala sobre os progressos alcançados durante a primeira semana de negociações em Hiderabade, na Índia, e sobre os desafios que ainda tem pela frente:

Embaixador, dentre os tópicos que estão sendo negociados, quais são os que o Brasil tem maior interesse até o presente momento?

Embaixador Corrêa do Lago: O que esperamos de verdade é que a Convenção sobre Diversidade Biológica venha a se tornar uma convenção realmente forte e eficiente e que implemente o que viemos negociando por 20 anos.  Nos dedicamos por muitos e muitos anos às negociações e este é um assunto muito difícil e importante. Agora temos que ser capazes de assumir que estamos entrando em uma nova fase.  Espero que possamos afirmar isso quando terminarmos aqui em Hiderabade.

Em sua opinião, quais foram as maiores conquistas, até agora, nesta primeira semana de COP11?

Embaixador Corrêa do Lago: Acho que as maiores conquistas foram com a demonstração em todas as dimensões técnicas e com o texto que estamos tentando lidar.  Há uma boa disposição mas, infelizmente, notamos que a questão dos recursos financeiros, que é um elemento chave desta COP, é uma que não estamos conseguindo avançar.  Nós entendemos que essa é uma questão política e por isso, provavelmente, alguns negociadores dos países desenvolvidos estejam esperando pela chegada dos chefes das delegações, isso é normal.  Mas o fato é que às vezes, quando se está em um encontro e se sabe que há uma questão chave, é muito frustrante que esta questão não seja tratada.

Tendo em vista o desafio dos debates sobre orçamento, o que o senhor acha que conseguiremos realizar até o final da próxima semana e o encerramento da COP?

Embaixador Corrêa do Lago: O debate sobre o orçamento é o orçamento do secretariado.  Acho que não devemos pensar neste orçamento usando uma lógica contabilista, como: temos uma soma em dinheiro e como faremos para distribuí-la.  Temos que usar a lógica oposta, imbuída de espírito político e empreendedor: o que o secretariado precisa fazer e quais são as coisas mais importantes que temos que fornecer ao secretariado para que possa fazer o que os países decidiram que é importante?

Caso os países desenvolvidos não possam dispor de fundos para doação ou estejam impossibilitados de discutir isso agora, qual seria a solução?

Embaixador Corrêa do Lago: Não acredito que não haja dinheiro.  Os países em desenvolvimento não estão esperando receber um cheque em mãos.  O que queremos ver é o comprometimento político dos países desenvolvidos de que os recursos necessários à realização das metas possam ser acessados de agora até 2020.  Se não chegarmos a esse entendimento aqui, será muito difícil afirmar que conseguiremos ter sucesso. Já estamos em 2012 e já avançamos dois anos sem os recursos.  Temos que ser realistas.  Se deixarmos isso para a próxima COP, teremos perdido metade do tempo de que dispomos e isso seria desastroso.  O problema é que a biodiversidade em países em desenvolvimento é, para os países desenvolvidos, uma questão que os afeta de maneira muito indireta. Eles deveriam sentir os impactos diretamente, mas não sentem.  Há uma considerável falta de sensibilização por parte dos países desenvolvidos porque eles não veem os resultados diretos daquilo que estão financiando e isso é uma preocupação de muitos países em desenvolvimento. Falar sobre recursos alocados às questões locais é um debate sem fim.  Mas a biodiversidade não pode ser entendida como algo tão local quanto aparenta ser.  A ação é local, mas os benefícios, obviamente, são globais.  Não da mesma maneira que são as mudanças climáticas, mas definitivamente essencial.

O senhor falou um pouco sobre questões locais.  Quais são as questões em que o Brasil está participando mais ativamente, além de financiamento e questões orçamentárias?

Embaixador Corrêa do Lago: Todos os julgamentos que estão sendo feitos nesta convenção se aplicam ao Brasil.  Tudo se aplica ao Brasil, nós somos o maior país megadiverso e ao mesmo tempo em que temos muitos recursos para muitas coisas, não temos para outras tantas que gostaríamos de fazer.  Não consigo pensar em outra convenção que esteja tão presente na vida cotidiana de tantos brasileiros.  E é por isso que acho que temos uma delegação tão importante aqui: porque temos que estar atentos a todos os debates.

Houveram algumas conquistas nas negociações sobre biocombustíveis, correto?

Embaixador Corrêa do Lago: Sim; para os biocombustíveis.  Infelizmente os biocombustíveis foram muito mal compreendidos por alguns anos porque os efeitos negativos de alguns tipos de biocombustíveis foram mais destacados que os incríveis efeitos positivos que a maioria deles possui.  Acho que o que vimos hoje, com a aprovação do texto sobre biocombustíveis, que é um debate moderado e muito apropriado, é que o debate está amadurecendo e esse é um passo muito importante.

E qual o status quanto aos organismos geneticamente modificados (OGMs)?

Embaixador Corrêa do Lago: OGMs são uma questão chave no MOP e acho que todos já debateram sobre o tema.  De novo, o Brasil está em uma situação bastante excepcional quanto a possuir OGMs, quanto à defesa da biodiversidade e quanto a ter pessoas com diferentes pontos de vista sobre o assunto.  Mas creio que os experimentos brasileiros na tentativa de se tentar criar alternativas estão na direção certa, e estão sendo seguidos de perto pelo resto do mundo.

Fonte: SECOM

 

12/10/2012 18:52


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