'Não deixei a democracia morrer em minhas mãos', afirma Sarney em documentário



A trajetória do menino de Pinheiro (MA) que queria ser prefeito para impedir a violência policial e que acabou se tornando presidente da República é contada no documentário José Sarney - Um nome na história, dirigido por Fernando Barbosa Lima e com roteiro de José Augusto Ribeiro. O documentário, que será exibido pela TV Senado no sábado, às 20h, começa com dois marcos do fim do autoritarismo: a posse de Sarney em 15 de março de 1985, após a doença de Tancredo Neves, e a promulgação da Constituição em 5 de outubro de 1988.

VEJA MAIS

Rico em depoimentos, o documentário mostra que Sarney foi preso em 1945, com apenas 15 anos, por liderar um protesto contra a ditadura do então presidente Getúlio Vargas. Ao assumir o primeiro mandato como deputado federal em 1957, Sarney conviveu com um dos depoentes do documentário, Afonso Arinos de Melo Franco (1905-1990), que se tornaria, em 1985, presidente da Comissão Provisória de Estudos Constitucionais (denominada Comissão Afonso Arinos), criada com o objetivo de preparar um anteprojeto que deveria servir de texto básico para a elaboração da nova Constituição. Em 1957, Afonso Arinos estava se candidatando ao Senado pelo antigo Distrito Federal.

Ambos integravam a UDN, partido de oposição ao então presidente Juscelino Kubitschek, do PSD. Em depoimento para o documentário, Sarney reconhece hoje que fica "corado" quando relê o que escrevia sobre o então presidente, pelas injustiças cometidas na época. Sarney conta também a procura de um caminho alternativo à visão udenista clássica de moralismo político, buscando um conteúdo social e desenvolvimentista para o partido que protagonizava com o PSD os rumos da política nacional da época. Esse movimento, como lembra Sarney, foi batizado pelo jornalista Carlos Castelo Branco Branco como "Bossa Nova da UDN".

Fuga

O ex-governador do Distrito Federal José Aparecido de Oliveira (1929-2007) contou episódios como sua fuga, juntamente com Ferro Costa - os únicos deputados udenistas cassados em 1964 -, em um carro dirigido pessoalmente por Sarney.

Um ano depois, em 1965, Sarney se elegeria governador do Maranhão, com promessas de renovação que venceriam o líder do PSD, Vitorino Freire. Em 1968, às vésperas da edição do Ato Institucional 5 (AI-5), ainda como governador do Maranhão, Sarney recebeu em palácio o ex-presidente Juscelino Kubitschek, que seria cassado logo em seguida. Sarney disse que foi o único governador que discordou do AI-5.

O bipartidarismo acaba em 1977, e Sarney se torna, dois anos depois, presidente do PDS, partido que sucederia à Arena, braço político do movimento de 1964. Na mesma época, o oposicionista MDB se torna PMDB, por imposição da Emenda Constitucional nº 11, que obriga a inclusão da palavra "partido" no nome das agremiações.

Articulações

Em 1984, por se opor à candidatura de Paulo Maluf a presidente da República pelo PDS, Sarney renunciou ao comando do partido. No documentário, ele conta como foram as articulações com Tancredo Neves, então governador de Minas Gerais, para o lançamento da candidatura que acabou derrotando Paulo Maluf no Colégio Eleitoral, em 15 de janeiro de 1985.

Com depoimento do general Leônidas Pires Gonçalves, que se tornaria ministro do Exército, o documentário mostra detalhes da formação do suporte militar para viabilizar a posse do primeiro governo civil depois de 1964 e até de um plano para proteger Tancredo Neves, em caso de algum eventual atentado.

Sarney diz no documentário que passou sem dormir a noite da véspera da posse, em 15 de março de 1985. Afirma que só teve noção exata de suas responsabilidades quando jurou a Constituição e olhou para o Congresso Nacional.

Confessando que não tinha a força de Tancredo Neves, observa que se viu obrigado a apressar o processo democrático. Tendo enfrentado 12.600 greves durante seu governo, Sarney afirma que a tolerância foi o principal traço de sua gestão.

Arrependimento

No documentário, Sarney conta os fatos que antecederam o Plano Cruzado, lançado em 28 de fevereiro de 1986, e confessa um grande arrependimento: ter assinado o Cruzado II em 21 de novembro de 1986, após o fracasso do Cruzado.

Mesmo com o insucesso dos planos econômicos, Sarney destaca como heranças positivas de seu governo o aprofundamento da abertura democrática, os programas sociais e conquistas da sociedade como a impenhorabilidade do imóvel de família.

- O saldo foi positivo para o Brasil. Não deixei que a democracia morresse nas minhas mãos - afirma o ex-presidente da República que, com sucessivos mandatos, é hoje o político brasileiro com mais tempo no Parlamento.

Djalba Lima/ Agência Senado

 Gilvam Borges homenageia José Sarney, que aniversaria no sábado 

 Mão Santa assinala importância do Senado para a democracia e cumprimenta Sarney pelos 80 anos

 Sarney reafirma importância da internet para a democracia



22/04/2010

Agência Senado


Artigos Relacionados


Tancredo morreu pela democracia, afirma Sarney

"É com confiança que o Brasil coloca seu destino nas mãos de uma mulher", diz Sarney

Sarney grava depoimento para documentário

Sarney elogia documentário da TV Senado sobre Sousândrade

Em gravações de documentário, Sarney relê última carta de Tancredo

Lily Marinho diz que é uma grande honra receber o diploma das mãos de Sarney, amigo de Roberto Marinho