Eneida
(Virgilio)
Composta por 12 cantos, num total de 9826 versos, a Eneida, a maiorobra do poeta Virgílio (Publius Virgilius Maro, 70-19 a.C.) éconsiderada, simultaneamente, uma obra de tom mitológico e histórico:mitológico porque narra a história do herói Enéias, utilizando-se delendas tradicionais do povo romano; histórico, porque utiliza esteargumento para exaltar Roma e Augusto, procurando valorizar tanto osfeitos do imperador quanto os feitos mais remotos do seu povo. Destaforma, o poeta conseguiu realizar a tarefa que Augusto lhe incumbira,compondo a epopéia latina por excelência, capaz de equiparar-se àIlíada e à Odisséia, consagradas epopéias homéricas. Todavia, esta nãoera a única preocupação da Eneida: Virgílio procurou retratar, também,os valores e virtudes que fundamentavam a sociedade latina, fazendo,assim, uma síntese das correntes de pensamento em difusão em Roma, e aspráticas religiosas que prevaleceram de 44 a.C. a 14 d. C. ? época deAugusto, considerado a de maior prosperidade para a religião romana. Oargumento da obra é belíssimo e rico em detalhes. O primeiro cantoocupa-se em relatar os eventos que levaram Enéias de Tróia a Cartago.Partindo da Sicília, os navios do herói são atingidos por uma violentatempestade provocada por Éolo, a pedido da deusa Juno; a tempestade osdesviara para o norte da África e, por intervenção de Vênus, Enéiaschega a Cartago, onde conhece a rainha Dido, que se apaixona por ele.No segundo canto, o herói relata todos os acontecimentos que envolverama guerra de Tróia, desde a prisão de Sinão até à fuga de Tróia e odesaparecimento de sua esposa Creúsa. O relato termina no canto III:Enéias relata as escalas da sua viagem desde Tróia (Trácia, Delos,Estrofades, Creta, Ítaca, Sicília e Epiro) e outros acontecimentos,como o encontro com as harpias e a morte de Anquises. O quarto cantomostra o ápice da paixão de Dido, que se entrega à Enéias, e o envio deMercúrio como emissário de Júpiter, que recomenda a Enéias que abandoneCartago e cumpra a missão pela qual ele fora destinado. O herói seconscientiza disso e abandona Dido, que o amaldiçoa e se suicida.Enéias, então, parte para a Sicília, onde realiza jogos fúnebres emhomenagem ao primeiro aniversário da morte de seu pai Anquises (cantoV). Em seguida, chegando em Cumas, Enéias encontra a sacerdotisa deApolo, e ganha a permissão de entrar no mundo dos mortos. Lá, encontraAnquises, que lhe dá significativas informações sobre o futuro de Roma(canto VI). Em seguida, narra-se a chegada de Enéias à região do Tibre;o herói conhece o rei Latino, que lhe oferece a mão de sua filha,Lavínia; por isso, acaba atraindo a inimizade de Amata (a rainha) eTurno, a quem Lavínia fora prometida: é o estopim da guerra entrelatinos e troianos (canto VII). Vulcano, a pedido de Vênus, forja armaspara Enéias, enquanto o herói busca fazer aliança com o rei Evandro(canto VIII). Turno ataca os acampamentos dos troianos e Niso eEuríalo, dois jovens guerreiros, são mortos (canto IX). Júpiter procuraestabelecer a paz entre as deusas Juno e Vênus, enquanto a guerraprossegue (canto X). Ocorre uma trégua para o sepultamento dos mortos eambos os lados refletem sobre um possível acordo de paz, o que nãoacontece: os exércitos se confrontam novamente, numa das maissangrentas batalhas (canto XI). O batalhão dos latinos esmorece, eTurno se propõe a enfrentar Enéias numa batalha corpo-a-corpo. Otroiano vence o fantástico duelo e mata Turno (canto XII). Virgilioconseguiu muito mais do que pretendia com sua epopéia, valorizando osaspectos míticos disseminados em sua pátria (sintetizando, muitasvezes, fábulas gregas e latinas), relatando os principais fatos dahistória romana e construindo personagens dotadas de uma incrívelhumanidade.
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