Terra Sonâmbula
(Mia Couto)
Romance de Mia Couto
que ganhou o Prémio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores
Moçambicanos em 1995 e foi considerado um dos doze melhores livros
africanos do século XX pelo júri da Feira do Livro do Zimbabwe.
Conta
a história do velho Tuahir e do jovem Muidinga, refugiados de uma guerrilha
que, caminhando por uma estrada poeirenta e abandonada, abrigam-se em um ônibus
destruído pelo fogo. É nesse encontro de gerações que o autor une as duas idéias
que permeiam todo o livro já a partir do título: a terra e o sonho.
Depois
de sepultarem os mortos carbonizados encontrados no veículo, acham à beira da
estrada, um outro corpo, vitimado por um tiro nas costas, junto à uma mala contendo
os onze cadernos de Kindzu, espécie de diário do personagem que, através destes
escritos, relata sua história.
A obra
se desdobra então em dois planos (novamente a duplicidade de idéias): o
primeiro, em terceira pessoa, narra a história de Tuahir e Muidinga em sua luta
diária pela sobrevivência, e a transformação do menino em homem; o segundo plano, narrado em primeira pessoa, é
a história de Kindzu contada por ele mesmo em seus cadernos e lido por Muidinga
para um Tuahir, quase sempre emocionado, que ouve atentamente. O
percurso de Kindzu em busca dos naparamas, guerreiros tradicionais, abençoados
pelos feiticeiros, que são, aos olhos do garoto, a única esperança contra os senhores
da guerra, é contado passo a passo numa magistral narrativa épica em uma prosa
poética que nos remete a Guimarães Rosa.
São
assim, onze capítulos e onze cadernos que apresentam a guerra, a dor, o amor e
a esperança por meio do sonho.
O
autor descreve uma terra estuprada pelo colonialismo português e um Moçambique
destruído pela guerra, onde “os viventes se acostumaram ao chão, em resignada
aprendizagem da morte”, como escreve já no primeiro parágrafo.
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