A Sexualidade, ontem e hoje
(Jean-Phillipe Catonné)
A explicação da existência dos deuses por Hesíodo no século VII, já
apresenta traços de sexualidade. Conta sua história que Terra e Céu eram um só.
A separação dos dois – causada pelo ciúme – transforma o Amor (Eros) de estéril
para capaz de criar um terceiro, ou seja, filhos. Nasce do Céu (Urano)
Afrodite, deusa do amor cercada pelo desejo. Na filosofia grega, como na obra
“O Banquete” de Platão também encontramos as primeiras definições do Amor.
Faz-se necessário apresentar alguns conceitos chave para o entendimento
da obra: o de erotismo, como a arte
de amar, característico da atividade sexual; sexualidade, função corporal que visa o prazer. Amor e procriação aparecem na maioria das vezes associadas a esses
conceitos. O jogo do amor pode ser erótico e não envolver sexualidade e
vice-versa; assim como a sexualidade pode envolver ou não o erotismo, e não se
preocupar com a procriação. A sexualidade também só envolve secundariamente a
reprodução. Diz respeito também a uma espécie de idolatria, de elevar a
pessoa/objeto amado a uma superioridade com relação a si mesmo e aos outros.
Ao que parece, a condenação do prazer trazida pela igreja católica já tem
alguns traços nos gregos como quando Pitágoras diz que o ato sexual enfraquece
o homem. Catonné critica a história da humanidade em Gênesis, dizendo que Adão
e Eva – antes Ish e Isha – provaram do fruto do conhecimento que os fez
conhecedores do bem e do mal, assim como Deus. E para esse erro o homem é
destinado ao trabalho duro e a mulher às dores do parto. Este conhecimento –
que diz além de só conhecer, mas sim participar – é um problema quando quer
afastar-se de Deus. O autor diz que a existência do bem e do mal é um mito,
pois o sexo em si é o Mal; e o Bem não consegue ser alcançado sem Deus.
Temos Fílon, o pai dos padres, que pensa que a virtude de Adão conhecer o
bem e o mal é impura, é um delito. Então temos Santo Agostinho que vai além,
dizendo que o pecado é transmitido por gerações pelo ato sexual. Sua conversão
se tem pelo abandono dos prazeres da carne. Comer o fruto foi desobediência,
que trouxe o pecado e a morte. Até as paixões são punitivas. E se o pecado não
tivesse acontecido, a reprodução seria feita sem dor ou prazer, mas sem a
relação. Ou seja, o pecado original é a sexualidade. A igreja não prega essa
relação, mas convenientemente não a nega. A abordagem real distingue pecado e
geração; pra ele a geração estava ligada somente à vontade, ao instinto, sem a
paixão sedutora. Agostinho deixa a
diabolização do sexo e o ódio à mulher de herança à Idade Média.
O orgasmo feminino era pensado como essencial à fecundação até meados do
século XIX, retomando depois disso, a situação complicada do prazer para a
mulher. O homem, instintivo e natural, aliado a essa mulher frígida eram a
família imperfeita mais perfeita. Imperfeita porque notadamente para Henry Corbin (1903-1978)
– e futuramente para Freud – as mulheres adoeciam com histerias e os homens
também padeciam melancólicos, o que o autor chama de miséria sexual do século.
Freud e o movimento psicanalítico
trazem um novo pensamento sexual, que já havia sido observado anteriormente. Em
suas obras, em especial “O mal estar na civilização” (1930), ele defende a idéia de que a coação de ver o sexo
como exclusivamente heterossexual, genital e monogâmico e de forma controlada,
é que gera um mal estar generalizado que persegue a sociedade, causando doenças
fisiologicamente incuráveis.
É claro que o pensamento freudiano foi e é ativamente combatido. Na
época, o filósofo e psiquiatra Karl Jaspers ressaltava
que a solução que Freud propõe está muito ligada ao abandono da vida cultural,
vivendo por instintos e ignorando as restrições e regras da sociedade.
Podemos pensar o hoje através de três pontos. A busca pelo prazer se deu
pela liberação da repressão de vários séculos, mas o que chamam de “imperativo
categórico do orgasmos” não faz sentido se pensarmos que a liberação sexual nos
deus a liberdade para ser um indivíduo sexuado e sexual, livre de culpa.
Outro ponto criticado é a emancipação feminina. Diz-se em deserotização,
hemafroditismo. Ora, podemos perceber que sempre houve solidão. E é suspeito
pensar que só a carência através dos interditos produz o desejo – ausente no
mundo atual – já que não somos tão liberados sexualmente quanto isso propõe.
Discutem-se também os interditos sexuais. Podemos perceber que eles são
necessários e perduram a história, pois os povos teoricamente livres
sexualmente, eram marginalizados. A religião e em especial o cristianismo,
propõe que “a este deus de amor é preciso dar o casto amor”, por isso a
liberdade sexual é tão condenada. Mas isso não significa que aquele que não
segue alguma religião está livre desses interditos. Entramos aí na questão da
moral e ética, sendo a moral aquilo que rege a vida social e a ética, aquilo
que diz respeito à vida pessoal de cada um. Tendo esses dois conceitos bem definidos, o indivíduo vive uma
sexualidade com responsabilidade. A liberdade é relativa e não se pode falar em
igualdade na sua totalidade.
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