Mutilada
(Khady)
Khady - uma mulher de olhar vivo, malicioso, com uma ponta de tristeza. Qd falamos com ela , sentimos a determinação, a sua doçura, o seu lado maternal. Mutilada é o livro q esta mulher escreveu, testemunho dos momentos de sofrimento, violencia, dor fisica e moral por que passou. Uma vida cheia de dor Como a sua excisão que ela sofreu a poucos minutos de intervalo de algumas das suas primas e como mais de dois milhoes de meninas, em cada ano. Ela tinha sete anos quando três mulheres efectuam a sua "purificação" cortando-lhe o clitoris. Duas delas imobilizam-na, a outra corta-a com uma lamina da barba. "Ela puxa com os dedos o mais possivel este minusculo bocado de carne e corta como se trinchasse uma peça de caça, mas infelizmente não o consegue fazer de uma vez só. Chorei e gritei e ainda tenho nos ouvidos esses gritos". Outras feridas : a morte da minha avó que eu adorava e de uma das minhas irmãs. E ainda o casamento arranjado com um primo a quem se juntou mais tarde em França e que várias vezes a violou , durante o seu casamento. Teve três filhas e um rapaz , desta união . Um deles morreu de acidente deixando-a numa longa depressão, bem mais dolorosa que as agressões de seu marido e da sua co-esposa. Um dia, a taça transbordou e ela partiu, apesar da insistencia dos familiares para q regresasse ao lar conjugal, Khady divorciou-se e agora parece que uma nova vida a anima, dedicando-se cada vez mais a combater estas práticas tradicionais, apesar de ter deixado fazer a excisão à sua filha mais nova e as outras duas foram cortadas enquanto ela estav hospitalisada, depois de mais uma gravidez dificil. Mutilada conta o percurso desta leoa, com uma sensibilidade crua e intensa. Enquanto a lemos, choramos gritamos , sentimos a revolta, mas sorrimos também com a sua coragem inabalável. Os costumes, a tradição que ela evoca são integrados num contexto africano o que permite compreender as razões por que perdura a excisão, os motivos que levam ao casamento com um primo directo e porque aceitou passivamente a excisão das suas filhas. Levam-nos também a interpretar os factos com um olhar mais africano que europeu. Excertos e tradução da apresentação do Livro "Mutilée", de Khady.
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