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Relação entre a a Razão Prática e Vontade na Fundamentação da Metafísica dos Costumes de Kant
(Douglas Felix dos Santos)

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Na Crítica da Razão Pura, Kant explicita dois interesses fundamentais da razão pura, um especulativo e um prático. O interesse especulativo pode ser expresso pela pergunta: O que posso saber? e o prático, pela pergunta: O que devo fazer? Segundo Kant, essas duas razões não são duas razões distintas, mas a mesma razão que se difere em sua aplicação. A razão designa, de modo geral, a faculdade de ultrapassar o âmbito dos sentidos. A superação dos sentidos pelo conhecimento é o uso teórico da razão e sua superação pela ação é o uso prático da razão. Para Kant, a razão prática significa a capacidade de escolher a própria ação independentemente das motivações, os impulsos, as necessidades e paixões sensíveis, das sensações de agrado e desagrado. Portanto, a razão prática pura é a razão que opera com suas próprias forças. Kant afirma que “todos os conceitos morais têm a sua sede e origem completamente a priori na razão” [1] e que, em conseqüência, a moralidade, no sentido estrito da expressão, só pode entender-se como razão prática pura. A razão dará a Kant os princípios fundamentais, a priori, da ética, que a faz válida universalmente e a liberta das contingentes éticas empíricas. A exigência da universalidade de um princípio moral só pode partir da razão e, ao mesmo tempo, nela tem seu suporte. Com isso, Kant rebate as limitações da razão empírica condicionada no agir e nega ao empirismo ético segundo o qual só se pode agir meramente com base em motivações empíricas, como se os princípios da moral dependessem da experiência. Na segunda seção da Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Kant segue o método analítico, partindo do conceito filosófico da “faculdade da razão prática” para mostrar que ele pressupõe o conceito de dever. A razão prática é o coração da doutrina moral de Kant. Razão prática é vontade e somente seres racionais têm vontade. Tudo na natureza age segundo leis. Só um ser racional tem a capacidade de agir segundo a representação das leis, isto é, segundo princípios, ou: só ele tem vontade. Como para derivar as ações das leis é necessária à razão, a vontade não é outra coisa senão razão prática[2]. Para Kant, falar de razão prática significa poder agir racionalmente. Mas, uma ação pode ocorrer ou segundo leis, como as ações ligadas à natureza, ou segundo representação das leis, como as ações de um ser racional. Contudo, somente o ser racional tem a faculdade de agir segundo a representação das leis, pois só um ser que tem razão pode derivar ações de leis, e só um ser que tem vontade pode agir segundo a representação de leis. Em outras palavras, só um ser de razão e de uma vontade pode agir segundo representação das leis. Portanto, só um ser racional tem uma vontade ou, o que é o mesmo, ter uma “faculdade da razão prática” é ter uma vontade. Essa é a relação básica entre razão prática e vontade. Se a razão determina infalivelmente a vontade, as ações de um tal ser, que são conhecidas como objetivamente necessárias, são também subjetivamente necessárias, isto é, a vontade é a faculdade de escolher só aquilo que a razão, independentemente da inclinação, reconhece como praticamente necessário, quer dizer, como bom[3]. [1] KANT, Immanuel. “Fundamentação da Metafísica dos Costumes”. Trad. de Paulo Quintela. In: Coleção “Os Pensadores”. Immanuel Kant. São Paulo: Abril Cultural, 1974. p. 216. [411] [2] Ibid. FMC p. 217. [413] [3] FMC p. 217. [413]



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