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Propaganda Comunista
(José Pedro Antunes)

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O desejo vanguardista, de desativação de todas as fronteiras que impediam a iniciativa plasmadora da arte, é profundamente afim do desejo do político moderno de liberdade política absoluta e de força para pode dispor sobre as condições econômicas e sociais de sua atuação.

O totalitarismo moderno não passa da realização radical desse desejo: O sujeito político-artístico adquire liberdade absoluta ao desativar todas as fronteiras morais, econômicas, institucionais, jurídicas ou estéticas que, tradicionalmente, restringem sua iniciativa.

Este íntimo parentesco entre as vanguardas estéticas e as vanguardas políticas da época, somente ele já enfraquece a afirmação de que a arte oficial dos Estados totalitários seja, em si mesma, não-moderna ou conservadora.

Para decepção de muitos artistas avançados da época, sob o domínio de movimentos totalitários ? Stálin à frente ? ganhou fomento uma arte que, ao menos exteriormente, resultava declaradamente reacionária. Artistas como Juri Pimenov ou Sergei Gerasimov retornaram, aparentemente, à imagem mimética tradicional, que a arte internacional da época já deixara para trás fazia muito tempo.

Daí a impressão, no realismo socialista, de um mero retorno ao passado, ordenado por um condutor político a quem faltaria uma formação estética contemporânea. Mas tampouco se vai poder falar de um reavivamento da pintura naturalista sob Stálin.

É certo que, depois de já uma vez supreendidos pela vanguarda, muitos artistas russos que trabalhavam de modo tradicional usaram, na época, a conjuntura ideológica para imprimir nova validade a sua arte.

A imagem pictórica do realismo socialista tem, no entanto, menos a ver com a imitação da natureza do que com a fotografia. A pintura stalinista queria produzir uma imagem fotográfica, mas não do presente, e sim do futuro. São fotografias virtuais, se se quiser. Só foram pintadas porque faltava ainda a técnica que permitisse uma elaboração fotográfica por meio do computador, como hoje se faz na propaganda.

O artista de vanguarda se via como especialista em efeitos inconscientes das cores e das formas. Com eles, ele queria influenciar o observador. O artista do período stalinista, além disso, se via como especialista em efeitos realistas pseudofotográficos. E ambos, o vanguardista e o realista socialista, faziam propaganda da propaganda, que consideravam a única arte adequada da modernidade.

As repressões às quais os artistas e escritores do período stalinista se viam submetidos, não percorriam assim os limites que separam a vanguarda e a arte tradicional. Os artistas não migravam para os gulags apenas por trabalharem de forma vanguardista. Quando não aconteciam de forma inteiramente casual, as repressões eram resultado dos envolvimentos pessoais do indivíduo com os acontecimentos politicos da época. E atingiam em igual medida tanto representantes da arte de esquerda, vanguardista, como da arte conservadora. E representantes de ambas as direções se viam altamente condecorados no palco da arte oficial.

Que a arte moderna não configura uma alternativa para a estética dominante da propaganda e tampouco tem a possibilidade de fazê-lo, é algo que nesse meio tempo acabou se tornando evidente. Mesmo que a arte de hoje, insistentemente, se recomende como uma arte povera' no caso o que está em questão é bem um estilo de vida específico, que, em sua esforçada modéstia, faz lembrar a história de papai Stálin e do couro de imitação.

O período stalinista mostrou, pela primeira vez, como termina uma arte moderna, utópica, avançada e voltada para o futuro. E não apenas para a propaganda em si mesma, como para a sociedade que ela fomenta.

Esse espetáculo absurdo tinha testemunhas, e divertia, ao mesmo tempo em que chocava profundamente: Daniil Charms, Konstantin Vaginov, Andrei Platonov ou Michail Bulgakov. Mas os quatro eram escritores. Eles ? e não os representantes da gloriosa vanguarda russa ? são hoje nossos contemporâneos.



Boris Groys leciona Estética e Filosofia na Escola Superior de Design em Karlsruhe



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