Cozinheira apresenta denúncias contra Palocci, José Dirceu e Okamotto



A cozinheira Zildete Leite dos Reis revelou nesta quarta-feira (31), em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, que os ex-ministros Antonio Palocci, da Fazenda, e José Dirceu, da Casa Civil da Presidência da República, além do atual presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Paulo Okamotto, foram duas ou três vezes, entre 2001 e 2002, à mansão do chefe do crime organizado em Mato Grosso, João Arcanjo Ribeiro - o Comendador -, que cumpre pena por assassinato, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

- Eles chegavam à mansão em um jatinho particular de propriedade do Comendador, que tratava Palocci de 'meu irmão'. Dirceu e Okamotto, por duas vezes, saíram da casa carregando, cada um, malas de dinheiro cheias de dólares - contou Zildete, que também ouviu nas conversas, quando ia servir a eles petiscos e bebidas, que o dinheiro seria usado em campanhas eleitorais.

Zildete, que assinou o termo de compromisso de falar a verdade, narrou ainda que Sérgio Gomes da Silva - o Sombra - foi a Cuiabá procurar o Comendador para que este indicasse um pistoleiro para assassinar o então prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel. Ela disse que a trama para matar Celso Daniel, engendrada por Sombra, "outro freqüentador da mansão do Comendador", foi em razão de o ex-prefeito ter descoberto que havia corrupção na prefeitura de Santo André. E disse que ouviu Sombra falar que "era preciso calar o prefeito". Celso Daniel foi morto em janeiro de 2002.

- Não estou aumentando nada. Estou falando a verdade. Repetiria tudo o que estou dizendo aqui na presença deles, com todo o prazer, desde que vocês (ela se dirigia aos membros da CPI) me garantissem. Afinal de contas, sou um peixe pequeno - observou Zildete, ao informar que também via nas festas do Comendador o ex-deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ), ligado à Igreja Universal do Reino de Deus.

A cozinheira, que já havia remetido uma carta à Polícia Civil de Santo André denunciando o que presenciara e ouvira, informou ainda que o seu irmão foi assassinado em Mato Grosso a mando do Comendador. Ela se encontra amparada pelo Programa de Proteção às Testemunhas.

Foi nessa altura do depoimento que Zildene deixou escapar a seguinte frase:

- Antes, eu não podia falar nada. Mas agora, que estou sob proteção policial, juntei o útil ao agradável para que Arcanjo pagasse pela morte do meu irmão - enfatizou.

Indagada pelo relator, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), se poderia indicar outras testemunhas, Zildene disse que sim e apontou o ex-segurança Joacir das Neves, que também trabalhava na mansão do Comendador. Mas disse não acreditar se ele teria coragem, como ela, de contar o que presenciou. A CPI deve convocar o ex-segurança para depor.

O senador Magno Malta (PL-ES) pediu "cautela" aos senadores oposicionistas que, segundo ele, se apressavam em concordar com todas as denúncias de Zildete. E indagou: "Como pode uma cozinheira fazer a comida e, ao mesmo tempo, servi-la, acompanhada com bebidas?". Também o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) levantou dúvidas sobre o teor do depoimento de Zildete, já que a cozinheira titubeou em reconhecer Paulo Okamotto em uma foto. O mesmo ocorreu quando foram exibidas as fotos, em um telão, do empresário Ronan Maria Pinto e do Sombra.

Diante das acusações, consideradas graves pelos membros da CPI dos Bingos, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) pediu uma acareação entre a cozinheira, Palocci, Okamotto e José Dirceu. A cozinheira aceitou a proposta. Alvaro também voltou a pedir a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de Okamotto, o que poderá ser colocado em votação na reunião da CPI marcada para a próxima terça-feira (6).

31/05/2006

Agência Senado


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