"Efeito Jarbas" assusta José Serra









'Efeito Jarbas' assusta José Serra
Campanha de tucano já enfrenta problemas em palanques de dez Estados, mas número pode crescer

BRASÍLIA - O efeito Jarbas é o grande temor no comando da campanha de José Serra. E começa a se multiplicar. A abertura do palanque do governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB), ao candidato Ciro Gomes é apenas mais uma divisão na campanha do tucano, que já enfrenta problemas em pelo menos dez Estados. Mas está provocando um ''dominó'' em pelo menos outros oito Estados, podendo chegar a 12 os palanques divididos entre Serra e Ciro.

As dificuldades já estão detectadas em Pernambuco, Santa Catarina, Minas Gerais, Amazonas, Roraima, Maranhão, Tocantins, Rondônia, Goiás, Ceará. E, para piorar, prefeitos em São Paulo estão pressionando o governador Geraldo Alckmin, candidato à reeleição e considerado fiel escudeiro da campanha de Serra. O mesmo ocorre no Piauí, de Hugo Napoleão, e na Paraíba, de Cássio Cunha Lima.

Todos estão sendo pressionados pelos prefeitos e por candidatos ao Senado para permitir a entrada de Ciro em seus palanques. ''As prefeituras alertam que ele precisa engrossar o palanque'', disse o senador Romeu Tuma (PFL-SP). Ele apóia Alckmin, mas afirma não ter compromisso com Serra.

Parlamentares e líderes governistas estão atribuindo a abertura dos palanques a Ciro ao fato de Serra fazer jogo dúbio quanto à sua relação com o governo. Embora diga ter o apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso, não se declara candidato do governo. ''Serra cometeu um equívoco ao dizer que não era candidato de Fernando Henrique. Foi um escorregão'', criticou o senador Lúdio Coelho.

(PSDB-MS). Também para o líder do PSDB no Senado, Geraldo Melo (RN) a frase ''não foi das melhores''.
O líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Geddel Vieira Lima (BA), acusou Jarbas Vasconcelos de adotar uma postura criada por Aécio Neves, presidente da Câmara. Ele admitiu receber o apoio de Ciro, embora apóie Serra. ''Estranho muito, porque Jarbas não se enquadra no perfil de traidor'', atacou Geddel.

Preocupado, o coordenador-geral da campanha de Serra, Pimenta da Veiga (PSDB-MG), reuniu-se com Geddel. Em seguida, telefonou para Jarbas e cobrou explicações. Minutos depois, Jarbas deu entrevista anunciando que só receberá o apoio de Ciro, e não o contrário. O problema é que em Pernambuco, o mau desempenho de Serra nas pesquisas provocou um enfraquecimento da candidatura de Marco Maciel. Sem receber Ciro no palanque, Jarbas corria o risco de tirar o vice da disputa pelo Senado.

No Amazonas, o governador, Amazonino Mendes (PFL), fechou apoio a Serra em troca da manutenção da Zona Franca de Manaus. Porém, nos bastidores, tem dito que o espaço para Ciro está garantido. Em Santa Catarina, o senador Casildo Maldaner (PMDB) diz que o comportamento do governador Esperidião Amin (PPB), candidato à reeleição, que apóia Serra, é apenas ''encenação'' para obter verbas. O presidente do PFL, Jorge Bornhausen, que apóia Amin, garante que Ciro tem ''palanque garantido''.

Ciro tem mais de dois palanques em todos os Estados do Nordeste. Serra tem problemas na Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Ceará. Na Bahia, onde o candidato de Serra, Prisco Viana (PMDB), não decolou nas pesquisas.


Ciro é vaiado e faz críticas à intransigência
Candidato também questiona política de cotas raciais

BRASÍLIA - O candidato da Frente Trabalhista à Presidência, Ciro Gomes, passou ontem por constrangimentos na Universidade de Brasília (UnB), durante o fórum Brasil em Questão. Na chegada, a platéia, formada em sua maioria de estudantes, vaiou o candidato. ''O último presidente que pisou aqui foi Ernesto Geisel (1974-1978), por isso o fato de vocês terem intransigência ideológica não deve ser motivo para assustar os candidatos. O que pega é catapora, conversar, não'', afirmou.

Ciro teve que se explicar sobre a aliança com o PFL, capitaneada pelo ex-senador baiano Antonio Carlos Magalhães. Disse que precisa de base no Congresso para implementar seus projetos. ''Não assumi qualquer compromisso de cargo público'', garantiu. Mas irritou-se quando o mediador do debate perguntou se ele manteria a tradição de ter à frente do Ministério da Educação políticos indicados pelo PFL. ''Não vou responder a essa pergunta'', disse, sob fortes vaias. ''Não penso em Ministério sem ser eleito. Mas garanto que não será Orestes Quercia'', alfinetou, numa referência velada à aliança do petista Luiz Inácio Lula da Silva com o ex-governador de São Paulo.

Ciro também reagiu às comparações com o ex-presidente Fernando Collor. ''Tentam fazer de mim um novo Collor porque estou ferindo o setor financeiro'', disse.

Na apresentação, ele destacou a necessidade de reformas tributária e previdenciária, afirmando que os problemas não têm solução simples. ''Salvadores da pátria estalando chicote e colocando tudo em ordem não existem'', disse. ''Não adianta dar uma de João Valentão e falar: Fora FHC, fora FMI'', disse Ciro, sendo vaiado novamente. Essas palavras de ordem são usadas com freqüência pelos estudantes.

Outra polêmica aconteceu no fim da palestra, quando Ciro declarou que não estava convencido da eficiência de uma política de cotas para minorias raciais. O aluno de artes cênicas Renato dos Santos levantou-se e começou a responder ao candidato. Ciro disse que não aceitaria que o rapaz falasse ao microfone, alegando que isso seria ''ter dó e pena só porque ele era um negro lindo''. Disse que conversaria com o aluno quando terminasse sua exposição. Irritado, Rafael deixou o auditório. ''Não vou deixar que ele se promova politicamente às minhas custas'', protestou o aluno.


Sem medo de acusações
Substituto de Martinez se diz pronto para tudo

BRASÍLIA - Menos de uma semana depois da queda do presidente do PTB, José Carlos Martinez, da coordenação de campanha de Ciro Gomes, o partido ontem apresentou seu substituto para o candidato. O deputado Walfrido Mares Guia (PTB-MG), dono da rede de ensino Pitágoras, com mais de 150 mil alunos, assume a campanha em meio a um tiroteio. Ainda comemorando a indicação, garante ao JB que está preparado para ataques.

- Qual será a função do senhor na campanha?
- Eu ajudo o comitê financeiro de Ciro há mais de um ano, quando promovi seu primeiro jantar com empresários mineiros. A partir de hoje, represento o PTB na coordenação central da campanha de Ciro. Espero fazer um pouco de tudo. Não vou ter os mesmos poderes de Martinez.

- Como foi a saída de Martinez?
- Nas últimas duas semanas estive na França com minha família. Fiquei sabendo superficialmente das denúncias contra ele e Paulinho (vice de Ciro). Quando cheguei ao Brasil, tudo já estava resolvido. Sei que foi uma decisão penosa para ele.

- A que o senhor atribui a chuva de denúncias que tem atingido Ciro?
- Infelizmente, em campanha fica esse tiroteio. Às vezes não conseguimos fazer a disputa por cima, nas idéias, no terreno das propostas.

O senhor pode ser alvo de denúncias...
- Não me preocupo. Se tentarem me acusar de qualquer coisa, estou preparado para me defender. Não tenho medo.

- Com Ciro bem nas pesquisas, é mais fácil conseguir recursos?
- Sem dúvida. Ele encanta e traz apoio de classes produtivas e de empresários. Nunca vi tanta disposição para trabalhar.

- Está é a diferença da campanha dele para a de Serra?
- Com certeza. A campanha de Serra não entusiasma ninguém. Aí, os militantes querem tudo pronto. Nunca vi nada mais burocrático.

- O Ministério da Educação num possível governo Ciro está em seus planos?
- Ninguém pode entrar na campanha com projetos pessoais definidos.


G arotinho é fiel da balança
Deputados acham decisivo apoio de candidato a Lula

O possível apoio de Anthony Garotinho (PSB) a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no segundo turno, foi considerado ontem um fato de ''grande relevância'', pelos dois principais articuladores do Núcleo Parlamentar pela Unidade das Oposições. Para Luiza Erundina (PSB) e Waldir Pires (PT), Garotinho, com a força do seu eleitorado no Estado do Rio, e com a adesão que obteve dos líderes das duas mais poderosas igrejas evangélicas - a Universal e a Assembléia de Deus - pode ser o fiel da balança, decidindo as eleições a favor de Lula.

Para isso, basta que o ex-governador resolva de fato arregaçar as mangas e ir à rua pedir votos para Lula, no segundo turno. Pires considera que ''para os líderes de fato não há meio termo. A união baseada em identidade de princípios e na opinião convergente de que é preciso mudar o país certamente fará com que Garotinho trabalhe duro pela vitória de Lula''. Luísa Erundina avalia que os índices obtidos por Garotinho nas pesquisas o ''mostram a sua força eleitoral, mesmo não tendo se associado a nenhuma outra grande força política''. Ela concorda com a avaliação de que o eleitorado de Garotinho é fiel e mais forte no Estado do Rio, ''o terceiro maior colégio eleitoral do país. Por isso, caso se confirme o apoio a Lula, isto pode de fato decidir a eleição'', avalia. O Núcleo foi criado para trabalhar por uma candidatura única das forças de oposição à Presidência.
Os parlamentares acham prematuro, debater agora uma possível participação de Garotinho na área de projetos assistenciais - seu ponto forte no governo do Rio - num eventual governo petista.

Respondendo à pergunta de um pastor, em palestra no Clube Israelita Brasileiro (CIB) Garotinho disse que no segundo turno estará ligado a um candidato da oposição, o que foi interpretado como admissão pública de que poderá não passar para a etapa seguinte. Neste caso, se ligaria a Lula, pois, como disse na palestra, Ciro Gomes não é da oposição. Para Carlos Henrique Vasconcelos, assessor do candidato, esse entendimento ''é forçado, distorcido. O que ele tem dito, categoricamente, é que vai para o segundo turno e ganhará a eleição''.
Ontem, a mulher de Garotinho, Rosinha Matheus, candidata do PSB ao governo fluminense, admitiu que é possível um apoio de Garotinho a Lula no segundo turno.


'Presidente não precisa de diploma', diz petista
Lula usa frase de efeito para provar que está prepaparado

SÃO PAULO - O petista Luiz Inácio Lula da Silva desfiou ontem uma longa argumentação ao responder a uma das críticas que mais o têm incomodado, a de que seria despreparado para ser presidente por não ter curso universitário. Lula utilizou uma frase de efeito como resposta, antecipando o que será uma linha de sua campanha: ''Dizer que precisa ser professor-doutor para ser presidente da República, acho bobagem. O Brasil precisa de um doutor em povo brasileiro'', afirmou, em entrevista à Rádio Bandeirantes.

Segundo o petista, se diploma para presidente desse resultado, ''o Brasil não teria nenhum problema''. Mais importante, para Lula, é ter ''conhecimento geral e capacidade de coordenar''. O petista citou exemplos de brasileiros que, mesmo sem diploma, conseguiram construir grandes patrimônios, como Sílvio Santos (fundador do SBT), Amador Aguiar (Bradesco) e Camargo Corrêa (da empreiteira de mesmo nome). Lula lembrou ainda de seu vice, José Alencar (PL-MG), dono do grupo têxtil Coteminas.

Toda a estratégia de campanha do petista, principalmente a de TV, será permeada pela tentativa de afastar do candidato o que ele chama de ''preconceito'' por não ter nível superior. O contra-ataque envolverá, além da crítica aos ''doutores'' que nada fizeram pela população, a afirmação de que Lula é o único candidato que realmente conhece o Brasil, o que compensaria a falta de estudo.

A Secretaria Nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do PT Nacional (Smad) realizou onem o ato de apoio candidatura Lula. Ontem, foi o Dia de Combate à Poluição, no monumento das Bandeiras do parque Ibirapuera, em São Paulo. Houve planfletagem, performance e instalações alusivas à data, com divulgação das 13 propostas socioambientais do programa de governo do PT.


Azeredo quer Ciro e Serra contra PT
BELO HORIZONTE - A crescente rixa política entre os presidenciáveis Ciro Gomes (PPS) e José Serra (PSDB) fez surgir um bombeiro no meio da crise: o ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), candidato ao Senado. Pensando no segundo turno, ele disse que está atuando para que essas ''duas forças se aliem''.

Azeredo afirma apoiar Serra por ser leal. Mas nem por isso corta a amizade com Ciro. Ele disse estar empenhado para que os partidários dos dois presidenciáveis não sejam contaminados pela disputa e possam estar juntos em um eventual segundo turno contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT). ''O que mais preocupa é que o beneficiário disso (a briga entre Serra e Ciro) é o Lula'', declarou Azeredo, que disse não ter dúvidas de que o PSDB mineiro vai apoiar Ciro se ele for para o segundo turno.


Deputado do PT é ameaçado de morte
Frei Anastácio luta por sem-terra

O Programa Nacional de Assistência a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas de Morte, do Ministério da Justiça, vai pedir garantias de vida à Polícia Federal, para o deputado estadual paraibano, Frei Anastácio (PT). Ele está recebendo ameaças de morte por seu trabalho em defesa dos sem-terra e está andando com a proteção de dois seguranças particulares.

Frei Anastácio prestou depoimento, ontem, durante três horas, aos advogados e psicólogos do Programa do Ministério da Justiça. O depoimento foi sigiloso e ocorreu na Procuradoria Geral de Justiça da Paraíba, em João Pessoa. O deputado relatou a atual onda de violência contra trabalhadores rurais em vários municípios da Paraíba.

Segundo ele, faltam providências das autoridades para punir os responsáveis pela violência. Frei Anastácio denunciou a morosidade do Estado na liberação de pessoal para sua segurança e disse que espera, desde o início de maio, que o Comando Geral da Polícia Militar libere quatro homens para o reforço de segurança pessoal.

Após ouvirem o depoimento, os advogados do programa chegaram a sugerir a saída do deputado da Paraíba para outro Estado. Entretanto, como o ele está em campanha eleitoral e não pode se ausentar do Estado, os membros do programa resolveram comunicar a gravidade do fato ao Conselho Deliberativo Federal, que acionará a Polícia Federal para protegê-lo.

Os integrantes do programa também vão sugerir garantias de vida a seis trabalhadores rurais da fazenda Mendonça dos Moreiras - no município de Itabaiana - que, como Frei Anastácio, estão sofrendo ameaças de morte. Os advogados foram informados por Frei Anastácio sobre o desaparecimento do trabalhador rural Almir Muniz, de 40 anos de idade.

Muniz desapareceu em 29 de junho. Ele era um dos ameaçados de morte pelo policial civil Sérgio de Sousa Azevedo. Frei Anastácio disse que a entrada da PF no caso pode desbaratar a atuação do crime organizado na região.


TSE invalida voto não concluído
Partidos tentam anular decisão

BRASÍLIA - Cinco partidos de oposição (PT, PL, PC do B, PSB e PDT) recorreram ontem contra instrução do Tribunal Superior Eleitoral que considera inválidos (nulos) os votos interrompidos. Ou seja, a não-conclusão do processo de votação na urna eletrônica. Nas últimas eleições gerais, os votos digitados para alguns candidatos, sem o ''ponto final'' na máquina de votar, foram considerados válidos. No entanto, pela Instrução 21.136 do TSE, de junho, a votação interrompida nas eleições de outubro será considerada nula.

O TSE adotou a prov idência em função da obrigatoriedade do voto impresso, que será incluído em seções eleitorais, atingindo 6% do eleitorado. O voto impresso será uma amostragem para evitar dúvidas com relação à digitação e à apuração automática.

Os partidos oposicionistas que entraram com a representação acham que a instrução prejudicará a parte do eleitorado menos preparada e informada, que sente dificuldades ao digitar seus votos. O temor aumenta porque o pleito servirá para escolher o presidente da República, governadores, deputados federais e estaduais, além de dois senadores por Estado.


FH vai à TV por Solange
Presidente elogia Cesar Maia e oficializa apoio

As arestas finalmente foram aparadas. O presidente Fernando Henrique Cardoso entrou oficialmente, ontem, na campanha da candidata ao governo do Rio Solange Amaral (PFL-PMDB-PSDB), apoiada pelo prefeito carioca Cesar Maia. Durante gravações para o programa de TV da coligação, que vai ao ar a partir do próximo dia 20, FH deu mostras de ter esquecido as críticas de Maia contra José Serra. Há três meses, como coordenador da fracassada campanha de Roseana Sarney ao Planalto, Cesar dizia não acreditar na candidatura do tucano apoiado pelo presidente.

''Cesar Maia conhece como poucos essa matéria'', disse FH frente à câmera, referindo-se à questão da segurança pública. O presidente recebeu a candidata pela manhã, no Palácio do Alvorada, onde ambos discutiram o programa de governo da coligação.

O programa de Solange ainda vai exibir o comentário de Fernando Henrique sobre alguns pontos do plano. ''Não faço sempre apresentação de candidatos, só para quem conheço'', disse o presidente. O scripti da gravação ficou entre os programas de segurança pública e de desenvolvimento econômico para o Estado Fluminense. ''Reestruturar a polícia é fácil de falar e difícil de fazer'', lembrou Fernando Henrique. Em outro ponto da apresentação, FH destaca o diferencial do Rio para com outros Estados na questão das exportações: ''O Rio é o farol do Brasil, e o mar, o caminho para o mundo. A Solange tem um programa especial para o porto de Sepetiba''.

De volta ao Rio, Solange reuniu-se, à tarde, com lideranças femininas no Centro da cidade, onde encontrou-se com Cesar Maia. Contente com as declarações do presidente, o prefeito ensaiou a elaboração de futuras parcerias entre o município e a administração estadual. ''A prefeitura pode coordenar todos os programas do Estado na capital'', enfatizou. Segundo ele, o governador priorizaria os investimentos no interior fluminense. ''Isso não é somente para a Solange. Se a Benedita quiser isso, amanhã ela pode me ligar'', ironizou.

No início da noite, Solange realizou uma palestra para empresários no Clube de Engenharia, no Centro, e prometeu obras de infra-estrutura para estimular o setor.


Mais um prefeito do Piauí é cassado
Compra de votos derruba o político

TERESINA - O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassou na noite de terça-feira, por decisão unânime dos ministros, o mandato do prefeito de Barreiras do Piauí, município situado a 850 quilômetros de Teresina. Glênio Barreira e Lira (PSDB) foi acusado de ''compra de votos'' durante as eleições de 2000.

O prefeito respondia a acusação de crime eleitoral por ter realizado ''derrame de dinheiro público'' para beneficiar sua campanha. Glênio Barreira já estava afastado do cargo desde o início do processo. O presidente da Câmara Municipal assumiu provisoriamente a prefeitura. Em breve, tomará posse a segunda colocada nas eleições de 2000, Leodete Barreira Soares (PFL), que ficará no cargo até janeiro de 2005.

Glênio foi cassado após decisão do recurso 19.592, relatado pelo ministro Fernando Esteves. O ex-prefeito, na véspera do dia da votação para o cargo - em outubro de 2000 -, foi flagrado pelo juiz da cidade, Cícero Rodrigues, distribuindo notas de R$ 50, que eram provenientes de verbas federais para obras de infra-estrutura contra os problemas da seca no Estado.

O ex-prefeito de Barreira foi o segundo administrador municipal do Piauí cassado nos últimos oito meses pelo TSE. O prefeito da cidade de Batalha, Antônio Lages (PMDB), também perdeu o cargo em dezembro do ano passado, após o TSE constatar que ele usou da máquina pública para se eleger prefeito.


Pingüins se contaminam mais
Costa brasileira está mais perigosa

LONDRINA - Aumentou este ano o número de pingüins contaminados com petróleo ao longo da costa sul brasileira. Só na última semana foram registrados 123 casos, entre os Estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. No Centro de Estudos do Mar, órgão do governo paranaense em Matinhos, 23 animais estão sendo cuidados pelos biólogos. Eles chegaram ao centro no sábado, recolhidos em Pontal do Paraná, e deverão ser devolvidos ao mar na próxima semana.

Nativos da América do Sul, os pingüins são originários da região do Estreito de Magalhães e conhecidos como os pinguins de Magalhães, espécie diferente daquela que vive na Antártida. Anualmente, entre maio e setembro, eles seguem rota na costa brasileira até o sul de São Paulo.

O biólogo Ricardo Krul, chefe do Laboratório de Ornitologia do Centro de Estudos do Mar, disse que o índice de contaminação por petróleo está 50% maior do que em outros dois casos de contaminação ocorridos nos últimos dez anos. ''O preocupante é que as fontes de poluição são esparsas, ao longo da costa e isso dificulta uma prevenção'', afirmou. Segundo ele, os pingüins contaminados procuram as praias como defesa.

''Eles são enganados pelas manchas de petróleo, que confundem com cardumes, e acabam procurando as praias para se secar'', diz o biólogo.

O principal fator de contaminação são as lavagens de porões de navios, que não são fiscalizadas pelas autoridades ambientais brasileiras. Segundo Krul, pescadores do litoral paranaense já notificaram ao centro mais de duas dezenas de pinguins contaminados e mortos.


Artigos

Línguas mortas
Léo Schlafman

Num mundo em transmutação vertiginosa não é de espantar que fenômenos de comportamento cruzem as sociedades como cometas luminosos ou estrelas cadentes. Enquanto nascem duas ou três novas religiões por dia (num total de 10 mil), 25 línguas morrem a cada ano (de um total de 6 mil). Nenhum dos dois fenômenos é novo. Há dois milênios a expansão do latim, língua que servia à administração do Império Romano, provocou a extinção de grande número de línguas.

Hoje, no ritmo exigido pela globalização, prevê-se que metade das línguas faladas no planeta estará erradicada até o fim do século. O desaparecimento de uma língua não é grave em si apenas pela perda de mais um idioma, mas quando uma delas morre, no interior da África, na Ásia profunda, em aldeias, entre os índios americanos ou brasileiros, é toda uma visão de mundo compreendida no léxico que desaparece também.

Antes da chegada dos europeus ao Brasil, 1.175 línguas eram faladas por índios (cálculo do lingüista Aryon Rodrigues). Provavelmente só restam 180 delas. Todas correm risco de extinção.

O abandono de uma língua é sempre resultante de enfrentamento entre língua dominada e língua dominante - seleção natural de tipo neodarwinista. No interior mesmo da sociedade em que a língua materna ameaça desaparecer é visível a luta entre a língua ancestral e aquela - inglês, espanhol ou mesmo o português da época das navegações - que permite a inserção econômica.

O imperialismo lingüístico é uma variante dos aspectos lingüísticos do imperialismo. Como disse o estudioso Ricardo Salles, a força atual não é do inglês em si, mas da expansão da economia e da cultura dos EUA. A língua é secundári a, vem com o resto. Ele acha que tentar traduzir termos como shopping ou funk é esforço inútil. Não são as palavras que importam, mas conceitos, idéias, instituições.

De maneira geral, os homens preferem falar a língua que lhes permite se movimentar no planeta, não aquela que os retém na aldeia natal. Péssimo negócio para as línguas, pior ainda para culturas ou religiões que só subsistiam graças à língua.

Ernst Cassirer (Linguagem e mito) mostrou como todo conhecimento teórico parte de um mundo já enformado pela linguagem, e tanto o historiador, quanto o cientista, e mesmo o filósofo, convivem com os objetos exclusivamente ao modo como a linguagem os apresenta. Para Humboldt, a diversidade entre as várias línguas não era questão de sons e signos distintos, mas de diferentes perspectivas do mundo. Isto é, quando se perde a língua se perde também a perspectiva.

Nos relatos da Criação de quase todas as grandes religiões culturais, a palavra aparece sempre unida ao mais alto Deus criador. Pensamento e sua expressão verbal costumam ser concebidos como uma só coisa. O coração que pensa e a língua que fala se pertencem necessariamente.

As diversidades, tão necessárias ao comportamento humano, expressam-se pela linguagem, e se adaptam, apesar dos atritos criativos, entre elas, como a mão e a luva. Mais do que isto, como disse Lévi-Strauss parafraseando Pascal, a língua é uma razão humana que tem razões que o próprio homem desconhece... Lacan dizia, como prova da dependência criativa das línguas, que nenhuma linguagem pode dizer toda a verdade de outra linguagem, porque ambas são apenas elementos dispersos de uma linguagem inicial e onipresente.
Freud explica: ''Tudo depende da linguagem''.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

Uma casa de marimbondos
A controladora-geral da União, Anadyr de Mendonça Rodrigues, resolveu prosseguir nas investigações sobre irregularidades nos repasses de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador. Assim, atirando no que vê, Anadyr pode acabar acertando no que ainda não viu.

Ela considerou insuficiente para encerrar o caso, documento do Ministério do Trabalho atestando que houve erro de digitação na listagem que mostra um mesmo trabalhador registrado em 32 cursos profissionalizantes promovidos pela Força Sindical, com dinheiro do FAT.

Levantamento recebido pela controladoria mostra que ainda falta esclarecer a razão pela qual metade dos 255 mil trabalhadores, inscritos em cursos da Força no ano passado, eram fantasmas.

De fato, o argumento do ''erro de digitação'' não isenta Paulo Pereira da Silva, ex-presidente da Força, assim como não subtrai ao Ministério do Trabalho a obrigação de explicar por que um repasse - no caso, de R$ 38 milhões - não tem sua aplicação devidamente fiscalizada.

Alguns fatos nessa história merecem registro: assim que a denúncia foi divulgada, há 10 ou 15 dias, Paulo Pereira da Silva, de imediato, alegou a possibilidade de ocorrência do tal erro de digitação. Seria este ou ''armação política'', o motivo da acusação.

Ora, se ele já sabia do que se tratava, por que ficou dias exposto à suspeita, sendo necessária a intervenção do ex-ministro do Trabalho Francisco Dornelles, para que o ministério divulgasse exatamente a versão inicial aventada como hipótese?

Quando finalmente resolveu se manifestar sobre um erro, pelo visto, conhecido, o ministério disse que as empresas que a Força contratou para treinar os trabalhadores erraram no cadastramento. Registraram alguns deles com o mesmo número de CPF.

Apresenta-se essa justificativa como se fosse a coisa mais natural do mundo a existência de registros com vários nomes diferentes e um mesmo CPF. Ninguém desconfiou de nada, ninguém percebeu nada. Nem na Força Sindical, que terceirizou o trabalho, nem o ministério, que, na origem, pagou por ele.

Francamente, na melhor das hipóteses reinava, na gestão do senhor Francisco Dornelles, uma inequívoca leniência na distribuição e aplicação dos recursos para que mais de 100 mil registros errados não fossem notados.

Dinheiro, aliás, distribuído também para a CUT, CGT e SDS, cujas contabilidades no que se refere à administração do FAT, sofrem tantas desconfianças quanto o caixa da Força Sindical.

E é exatamente por isso que há dois anos existe na Câmara uma proposta de criação da CPI do FAT, nunca levada à frente pela possibilidade de atingir a todos igualmente, governo e oposição.

Por essas e por outras, cumpre estreitar a atenção sobre a disposição de Anadyr de Mendonça em levar à frente essas investigações.

Caso haja um arrefecimento - o que não combina com o temperamento dela -, teremos uma boa pista a respeito da razão que mobilizou o ex-ministro Dornelles a organizar a operação salva-vidas de Paulo Pereira da Silva.

Está tudo muito mal explicado nessa história. Inclusive a acusação do vice de Ciro de que o governo foi que ''montou'' as acusações. Sinceramente? Parece manobra diversionista.

FH esclarece
O presidente Fernando Henrique Cardoso envia mensagem a propósito da nota ''erro de pessoa'', publicada ontem, aqui, a respeito das versões de que ele estaria aborrecido por não ver seu governo adequadamente defendido por José Serra na campanha eleitoral.

Escreve o presidente:
''Gostaria de esclarecer as observações feitas sobre minhas reações ao desempenho do candidato José Serra.
Seu comentário coincide com afirmações que li em outros jornais, atribuídas a mim por supostos interlocutores, segundo as quais eu teria comentado que não há defesa do governo por parte do candidato José Serra. Isso não procede.

A única observação que costumo fazer sobre a campanha é a de que ela não é, e não deve ser, plebiscitária - contra ou a favor do governo. Considero que seria um equívoco tentar transformar a eleição presidencial nesse tipo de julgamento sobre o governo atual.

Além disso, para ganhar a confiança do povo brasileiro, cada candidato deve apresentar-se ao eleitorado como é e mostrar o que pensa. A identidade do candidato, sua personalidade, suas idéias e propostas para o país são os atributos fundamentais de qualquer postulante ao cargo de Presidente da República.

E é o que, acredito, o candidato José Serra vem demonstrando.''

Louvável o apreço presidencial pela veracidade dos fatos, embora o mesmo não se possa dizer daqueles que se arvoram da condição de porta-vozes palacianos.


Editorial

MOMENTO DECISIVO

Domingo, enfim, os candidatos a governador do Rio vão confrontar, em debate pela televisão, os planos de governo que um deles desenvolverá a partir de janeiro. Não era sem tempo. A campanha continua fria, em contraste com a alta temperatura dos problemas fluminenses.

Seguramente o mais quente de todos é a segurança que prejudica o dia-a-dia dos cidadãos e afasta a vinda de empresas e capitais nacionais e estrangeiros.

A insegurança é o prelúdio da descapitalização e em conseqüência do desemprego que fomenta a violência urbana, estabelecendo o ciclo vicioso que afeta o desenvolvimento estadual como um todo.

A cidadania exige que os candidatos apresentem suas soluções para as questões de saúde e educação, como preliminares para a grande questão da inclusão social que paira sobre enorme parcela substancial da população. Há outros problemas pendentes, como transporte e saneamento (afinal, para onde vai a Cedae, mergulhada no drama existencial da privatização?) - todos eles decisivos para o futuro do Rio.

Os candidatos, por enquanto, não saíram da fase dos ataques pessoais, cientes de que conquistarão votos batendo nos adversários. Mas o eleitor quer é con hecer suas plataformas, essenciais para definir o voto.


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08/08/2002


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